Qualquer pessoa que já esteve em Cuba experimentou, ao menos uma vez, o coco táxi. É basicamente um triciclo, que comporta até dois passageiros, revestido com uma estrutura esférica. Alguns têm motor – mas o condutor, de uma maneira geral, pedala a maior parte do trajeto. 





“Coco táxi, coco louco/É nesse balanço bom que eu fico louco”, foi o que João Donato mandou para Jards Macalé. A partir da célula inicial enviada pelo primeiro, o segundo também se lembrou das próprias experiências na ilha. “Azuis do céu, águas do mar/É nesse molejo bom que eu fico bom”, completou Macalé.

“Coco táxi”: assim estava batizada a primeira parceria entre os dois músicos, Donato, pianista, arranjador, cantor e compositor de 87 anos, e Macalé, cantor, compositor e violonista, de 79. A parceria, somente agora, nesta altura da vida, resultou em “Síntese do lance”, álbum de 10 faixas. Lançado em outubro passado pelo selo carioca Rocinante, o disco será apresentado nesta quarta (15/6), em Belo Horizonte, com show n’A Autêntica.

“É um momento muito feliz para mim. Como eu amo João Donato, que ouço desde que o descobri, em 1958, 1959. Diria que finalmente encontrei meu ídolo. E como o João é um grande criador, nas horas em que ele fica improvisando, eu fico mais olhando para ele do que tocando”, diz Macalé.





BANDA

Os dois estrearam no palco no fim de 2021, em São Paulo. No show, com Donato ao piano e Macalé ao violão, eles tocam com a banda formada por Guto Wirtti (contrabaixo), Marlon Sette (trombone), José Arimatéa (trompete e flugelhorn) e José Renato Bittencourt (bateria).

“Síntese do lance” levou Donato e Macalé para uma imersão em Araras, na região serrana do Rio de Janeiro. Com os músicos e produtores do álbum, a dupla ficou duas semanas registrando o trabalho.



“É um momento de tranquilidade e, para mim, é muito divertido, pois a música está em estado puro”, comenta Macalé. Tem muita canção e temas instrumentais. O disco está praticamente na íntegra em cena: tem o samba “Síntese do lance” (Donato e Marlon Sette), a instrumental “João Duke” (homenagem de Macalé a Donato e Duke Ellington), a canção “Um abraço do João” (Macalé e Joyce Moreno, em que o João, no caso, é o Gilberto), a bossa “Açafrão” (Marlon Sette e Sylvio Fraga).





“Com este disco eu consegui compor com Ronaldo Bastos (“O amor vem da paz”). A gente estava para se encontrar há um tempo. Fiz a música e mandei para ele ‘letrar’. Começou a demorar um pouco, e quando a gente estava em Araras, no estúdio gravando, ele mandou a letra. Foi no último segundo dos 45 minutos do segundo tempo”, conta Macalé.

SAMBA

Entre uma apresentação e outra com Donato, Macalé também está de volta aos palcos com “Besta fera”, show do álbum lançado em 2019. O trabalho, um disco essencialmente de samba – mas um samba torto, vale dizer, que trabalhou ao lado de Kiko Dinucci, Thomas Harres e Rômulo Fróes – marcou sua volta aos discos inéditos em duas décadas.

A pandemia atropelou a turnê, que somente agora foi colocada na rua. “É uma felicidade, pois o palco é a minha casa. E o público também está louco para estar junto, ninguém aguentava mais e todo mundo quer sair por aí feliz e cantando. Mas a coisa estava voltando, então a gente deve continuar com certos cuidados”, acrescenta Macalé.





O show de Donato e Macalé n’A Autêntica é obra do cantor, compositor e músico Haroldo Bontempo. Guitarrista da banda Mineiros da Lua, ele abre a noite desta quarta, fazendo o lançamento de seu segundo álbum, “Haroldo Bontempo”, que chegou no mês passado nas plataformas digitais.

É também uma estreia solo, já que Bontempo chegou ao primeiro disco em 2020 – “Músicas para travessia” foi gravado e lançado durante a pandemia. Até agora o músico não fez nenhum show. O novo trabalho contou com a participação da cantora Mariana Cavanellas e da rapper Nabru.

Bontempo, de 24, toca violão desde os 10. “Fui acumulando composições que não usava na banda. Mostrei algumas para um amigo de São Paulo, que fez a minha cabeça para lançar um disco”, conta. A boa recepção o fez chegar ao segundo disco, composto no ano passado sob forte influência da música de João Donato.





“Foi o artista que mais escutei em 2021”, conta Bontempo. Produzido por Marcos Valle, “Quem é quem” (1973) foi o primeiro trabalho em que o músico acriano, que já gravava desde meados dos anos 1950, mostrou sua voz. Foi também o disco que marcou seu retorno ao Brasil, depois de uma década vivendo nos Estados Unidos. “Eu me apaixonei pelo disco, escutava sem parar. No fim do ano, quando ele lançou com o Macalé, achei bom demais”, comenta o mineiro.

Bontempo toca n’A Autêntica desde 2017, quando a casa era localizada na Savassi – no final de abril passado, ela foi reinaugurada em Santa Efigênia, no antigo Lapa Multshow. “Quando formamos o Mineiros da Lua, ninguém chamava a gente para tocar. Então resolvi fazer eventos para a gente tocar também. Convidei bandas de outros estados, além de mineiras, e o pessoal d’A Autêntica me deu uma data.”

A história deu certo e outros eventos no antigo endereço ocorreram. “No início deste ano, pedi uma nova data para A Autêntica (para o show de lançamento). Pensei com que bandas poderia fazer até que, um dia, acordei e pensei: ‘Quer saber? Vou tentar João Donato e Jards Macalé’. Fui atrás e depois de muita peleja consegui”, diz Bontempo. 

JOÃO DONATO E JARDS MACALÉ
Show de lançamento do álbum “Síntese do lance”. Abertura com Haroldo Bontempo. Nesta quarta (15/6), a partir das 20h, n’A Autêntica, Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia. Show de abertura: 21h; show principal: 22h30. Ingressos: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia para estudantes ou para quem doar 1kg de alimento não perecível). À venda no site da casa de shows.

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