Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Gilberto Gil: disco considerado perdido é destaque em mostra do Google

Um disco gravado no ano 1982 por Gilberto Gil nos Estados Unidos e considerado até agora perdido é o destaque de uma retrospectiva lançada nesta terça-feira (14/6) pelo Google. Com o título de trabalho de "Jump of joy", ele foi registrado totalmente em inglês em Nova York e conta com faixas inéditas como "You need love". 


O achado está na mostra digital "O ritmo de Gil", que reúne 41 mil imagens e 900 gravações, entre vídeos e áudio, digitalizados e catalogados na plataforma. O anúncio foi feito nesta terça-feira (14/6), no evento Google For Brasil, em São Paulo, e contou com a presença do próprio Gil, que fez uma participação especial no palco e falou sobre a iniciativa. 





"É uma coleção, uma espécie de museu, um apanhado eletrônico de todas as coisas que fizemos", detalhou Gil sobre a mostra. Esta é a primeira vez que um artista vivo brasileiro ganha uma retrospectiva na plataforma, que está abrigada na seção Google Arts & Culture. 

O acervo está disponível no site em inglês, espanhol e português. 

Digitalização da obra de Gil durou quatro anos 


A equipe do Google se debruçou por quatro anos sobre o imenso acervo que o artista guardava. Os trabalhos de pesquisa e documentação de fotos, documentos e gravações começaram em 2018, e ficaram prontos a tempo das celebrações de 80 anos do cantor. 

"Gravamos 12 canções, entre regravações e inéditas", relembrou Gil, contando que o disco acabou sendo adiado algumas vezes. Na sequência, a Warner encerrou o selo que iria lançar o trabalho e ele acabou ficando perdido entre outras gravações. Segundo Valeria Gasparotti, gerente de projetos do Google Arts & Culture, a equipe que trabalhava na digitalização encontrou o registro em uma fita cassete. "A equipe do Instituto Gilberto Gil identificou que era o álbum perdido, e levamos para o Gil ouvir", contou. 





Gil decidiu não mexer no trabalho para o lançamento. Segundo ele, as faixas encontradas estavam com mixagem não definitiva, mas não foram editadas até por uma impossibilidade técnica. "Já estava tudo reduzido a dois canais, não tinha como mexer. Mas é um produto que foi feito com gosto e dedicação, e está do jeito que foi achado", contou. "É um resgate precioso, eu com a voz bem jovem, fresquinha, de 40 anos atrás", completou. 

Mostra digital de Gil foi trabalho de arqueologia 


Recém-empossado como imortal na Academia Brasileira de Letras, Gil chamou o trabalho de recuperação dos materiais e a curadoria da mostra como "um trabalho de arqueologia". "Essa coleção faz parte desse conjunto de novas possibilidades museológicas que o ciberespaço traz e é o final de um estágio da minha obra, de um período muito longo de quase 70 anos", disse. 

Mas o que mais emociona Gil na retrospectiva são os registros da infância e da adolescência, antes da fama. "Me toca de uma forma especial. Depois, quando virei um homem público, tudo que surgiu de documentação já estava nessa dimensão de um homem conhecido. Mas as coisas da juventude têm muita importância do ponto de vista afetivo, e são mais curiosas, tanto para mim, quanto para o público", completou. 

Dono de uma obra que segue sendo produzida, Gil afirmou ainda que a mostra será atualizada com as novidades que ele produzir. "Enquanto eu for vivo, as camadas vão se sobrepor. Tudo que fizer, vai entrar nessa coleção. Espero que seja assim", finalizou.