Estado de Minas

Estado de Minas e o 'sentimento mineiro': uma história de 90 anos

Personagem da história de BH, há 90 anos, o Estado de Minas reforça seu compromisso de ser uma publicação de 'sentimento mineiro' Evolução tecnológica aproximou o contato com o leitor


postado em 12/12/2018 06:00 / atualizado em 12/12/2018 15:17

Os pequenos jornaleiros chamavam a atenção a partir do fim dos anos 1930(foto: Eugenio H. Silva/O Cruzeiro/Arquivo EM)
Os pequenos jornaleiros chamavam a atenção a partir do fim dos anos 1930 (foto: Eugenio H. Silva/O Cruzeiro/Arquivo EM)

A estreia do Estado de Minas, em 7 de março de 1928, “virou notícia”. A então balzaquiana Belo Horizonte respirava os ares modernistas. Naquele dia, a primeira sede do jornal, na Avenida João Pinheiro, 267, Centro, tornou-se ponto de encontro. Logo cedo, milhares de pessoas se dirigiram ao local para conhecer a novidade. Praticamente todas saíram de lá com um exemplar da publicação debaixo do braço. Eram 12 páginas de um novo veículo de comunicação que se firmou como porta-voz dos mineiros.

O editorial publicado na capa da primeira edição destacou a necessidade de Minas Gerais ter um grande veículo de comunicação e selou o compromisso com o leitor de “fazer um jornal de sentimento mineiro”. Naquela data, o EM começou a trazer o mundo para Minas e a levar os assuntos do estado para além das fronteiras.

A capital que pulsava era um dos principais assuntos da cobertura. Belo Horizonte tinha, na época, cerca de 111 mil habitantes, praticamente o dobro do início dos anos 1920. Vale a observação: hoje, a população é 22 vezes maior. A construção do primeiro parque de exposições de Belo Horizonte, no Prado, Região Oeste da cidade, e a realização de um congresso comercial, industrial e agrícola ganharam espaço na capa.

No dia seguinte, a expansão da cidade voltou a ser destaque. A criação de bairros é sinal do desenvolvimento urbano da capital. Já vai longe o tempo em que a Avenida do Contorno era o limite da capital. Nascia Venda Nova e Belo Horizonte se preparava para ganhar um grande aeroporto, o da Pampulha.

A vida social da cidade não era ignorada. A edição de 9 de março traz a inauguração da sede do Automóvel Clube, na esquina das avenidas Affonso Penna e Álvares Cabral, onde ainda está. Assim como obras para a população em geral: a Santa Casa ganharia um novo prédio. O que antes fora um casarão então se tornaria as instalações onde hoje funciona o hospital.

Notícia fresca, saindo do forno

Inauguração de novas máquinas no parque gráfico no Santa Efigênia mobilizou moradores curiosos com a novidade(foto: arquivo em - 8/3/1988)
Inauguração de novas máquinas no parque gráfico no Santa Efigênia mobilizou moradores curiosos com a novidade (foto: arquivo em - 8/3/1988)

Chega o mês de junho, e, junto com ele, o Estado de Minas inaugura sua segunda sede, localizada na Avenida Affonso Penna, 547. O jornal tem agora três prédios, pois a rotativa permanece na Avenida João Pinheiro, 267, Centro. A novidade leva o leitor a este local nos primeiros dias de junho, pois era lá que adquiririam jornais, ainda de madrugada. O terceiro prédio era o posto de Pequenos Anúncios, também na Affonso Penna, junto à Força e Luz, empresa que precedeu a Cemig.

Rapidamente, o EM se consolida como referência para diversos acontecimentos. As pessoas iam para a sede do jornal em busca de notícias frescas, como em jogos de futebol, quando equipes da capital atuavam fora do estado. Em 2 de outubro de 1930, por exemplo, centenas de pessoas foram acompanhar o jogo Botafogo X Atlético, no Rio de Janeiro. Não havia transmissão radiofônica, mas pelo telefone um repórter que acompanhava a delegação informava à redação o que acontecia. Na porta do jornal, as informações eram passadas por outro jornalista. O time carioca saiu na frente, mas logo o Galo viraria. No terceiro gol, a impressão, tamanha a festa, era de que o time tinha sido campeão. Mas no final, a decepção, pois o Botafogo virara para 6 a 3.

O mesmo ocorreu nos anos 1970. A procura por uma vaga nas universidades era o ideal da juventude belo-horizontina. O vestibular cresceu. As provas deixaram de ser realizadas em escolas e faculdades. O Mineirão tornou-se o local das provas. Nasceram os cursinhos preparatórios. Tudo foi acompanhado de perto pelo Estado de Minas, que acabou se transformando em personagem dessa história. Quando o resultado saía, a lista de aprovados era colocada na frente do prédio do jornal, e era esse o destino de praticamente todos os estudantes que tinham feito as provas. A rua tinha de ser interditada e eram vistas cenas de alegria, choro, tristeza, lamento.

Voltando no tempo, em 25 de fevereiro de 1938, é inaugurada a terceira sede do jornal, na Rua Goiás, 36, Centro, onde permaneceria por 62 anos, até se mudar para o endereço atual, na Avenida Getúlio Vargas, 291, Funcionários.  Lá, a jornal passa por sua primeira reforma gráfica. Entre as novidades, o surgimento do caderno Feminino, o que aumentou o número de leitoras.

Junto com a nova sede, surge a Casa do Pequeno Jornaleiro, na esquina das avenidas Bernardo Monteiro e Andradas, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul. Crianças com o jornal nas mãos, chamando a atenção para as notícias publicadas no EM, transformaram-se em personagens da cidade.

Os anos 1950 começam com a disputa da Copa do Mundo. Belo Horizonte sedia três partidas, entre elas a que ficou conhecida como “a maior zebra da história das Copas”, quando os Estados Unidos derrotaram a Inglaterra por 1 a 0, gol de Joe Gaetjens, um haitiano. Mais uma vez, o EM firma-se como referência para o torcedor, que tinha o jornal como seu guia para os jogos.

A modernização segue e, em 1963, o jornal adota o serviço de radiofotos, o que fascina o leitor. Não somente fotos tiradas na cidade, mas no mundo inteir,o passam a ser publicadas junto com o noticiário.

Em 1964, o Estado de Minas faz a sua terceira reforma gráfica. Naquele mesmo ano, de uma só vez, o jornal fatura o primeiro prêmio nacional de jornalismo, com Roberto Drummond, com a reportagem “A interpretação econômica do futebol brasileiro”. E junto, dois prêmios regionais na mesma premiação, com Frederico Morais, “Novo ciclo do Ouro em Minas Gerais”, e Fialho Pacheco, “A criação de coelhos e seu aproveitamento alimentício”.

Parque gráfico vira atração turística

A era digital é precedida do que há de mais moderno em termos de impressão de jornais no mundo. Em 7 de março de 1979, o Estado de Minas implanta o sistema de off-set. Um novo parque gráfico, na Avenida Mem de Sá, em Santa Efigênia, na Região Leste, para abrigar a nova impressora, é construído. O local se torna uma espécie de atração turística, com muitas pessoas visitando o local para conhecer o maquinário mais moderno da época. A rotativa é a Goss Metro.

Em 1988, o parque gráfico é ampliado. Mais duas rotativas são incorporadas à primeira. Vem a impressão em cores.Em março de 1993, a redação é informatizada. Cada vez mais, o jornal interage e se aproxima de seu leitor, preservando a linha adotada desde o exemplar número 1, de noticiar os assuntos de interesse dos mineiros. Graças a essa modernidade toda, o EM, que circulava de terça a domingo, passa a circular também às segundas-feiras, em 7 de março de 1994. A resposta da sociedade belo-horizontina é imediata, pois o número de assinantes praticamente dobra. E seguindo a evolução, é implantado o sistema de tell service.

A partir de janeiro de 1996, vem a internet. O Estado de Minas torna-se o primeiro jornal do Brasil a ser provedor de acesso à rede mundial.  Três anos depois, o portal UAI entra para o rol dos 10 maiores do Brasil.


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