Estado de Minas

Como os coworkings impulsionam a vocação para negócios digitais de BH

Com foco na inovação colaborativa, os espaços compartilhados de trabalho ganham adesão de segmentos tradicionais da economia mineira


postado em 12/12/2018 06:10 / atualizado em 13/12/2018 08:38

União de forças para construir soluções, o chamado modelo de colaboração, é a aposta da Órbi Conecta (foto: Gadyston Rodrigues/EM/D.A Press)
União de forças para construir soluções, o chamado modelo de colaboração, é a aposta da Órbi Conecta (foto: Gadyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Em tempos corridos, confusos e difusos, Belo Horizonte chega aos 121 anos com a sorte de ter na vocação de empreendedorismo digital um DNA valioso, em termos de contratendência. Enquanto a competição predatória e a pressa massacrante dão o tom na maioria dos outros mercados, por aqui a colaboração e o talento para experimentar moldaram a cultura de inovação – e cada passo nessa trajetória estampou as páginas do Estado de Minas. Adiante, o desafio de diversificar a economia mineira. A boa notícia é que, para enfrentá-lo, sobram iniciativas que propõem, agora, a união de forças para construir novas soluções.

 O capítulo mais recente desta história foi a chegada da WeWork, a segunda startup mais valiosa do mundo, à capital mineira, com seis andares de espaço colaborativo de trabalho, em prédio na Savassi. No setor de coworking, a companhia que propõe novo olhar para o ambiente produtivo é a mais bem avaliada: US$ 45 bilhões. Os primeiros 200 postos de trabalho da unidade na Rua Sergipe já estão ocupados, até fevereiro serão 850 e em março nova unidade abre no prédio corporativo do Boulevard Shopping.

Espaço colaborativo do WeWork (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Espaço colaborativo do WeWork (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 Para Lucas Mendes, diretor-geral da WeWork Brasil, a vinda para BH, depois de unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, era natural, por se tratar de “cidade de vanguarda em um dos setores em que a gente vai muito bem como tecnologia”. Ele recorda o potencial histórico do setor na capital: “Belo Horizonte tem uma tradição de boas escolas, tem muita mão de obra qualificada, tem o São Pedro Valley, tem casos de sucesso como o da Akwan (empresa comprada pelo Google) – um raríssimo caso de aquisição por uma grande empresa americana”.

 Essa história até hoje inspira promessas de grandes voos, como o da Take, empresa de chatbots que já atendeu clientes como Rock in Rio, Cemig, Casas Bahia e Santander. No novo espaço, de um andar inteiro, que a Take ocupa na WeWork, alguém escreveu no mural a meta representada pela mudança: #TakeGoGlobal. Do antigo endereço, na Rua Paraguassu, no Prado, quando há 15 anos a empresa tinha 15 funcionários, a Take chegou no novo escritório com 150 funcionários e livre da preocupação com cabos, papéis, telefone e internet.

O fundador e principal executivo, Roberto Oliveira, exp lica a estratégia além-montanhas: “Precisávamos mudar porque crescemos e a visão é expandir globalmente porque podemos agora contar com essa estrutura em qualquer lugar do mundo. Se eu quiser montar equipe em Hong Kong ou Cingapura, posso simplesmente fazer um aditivo no contrato e expandir dessa forma. Nosso ativo é mais a propriedade intelectual e não as mesas, os computadores e as cadeiras. Quanto menos eu empatar dinheiro em estrutura é melhor.”

Mineradoras unidas em espaço criativo
Esse salto de compreensão na tendência de modelo de negócios “asset light” é justamente um dos pontos de convergência para iniciativas como o Mining Hub, que reúne 12 mineradoras em espaço que deve ser inaugurado no ano que vem. “As conversas começaram no fim do ano passado, com o encontro entre mineradoras, pensando em ter a inovação como pilar de transformação deste setor, visto como tradicional, mas que precisa de muita tecnologia”, explica Gustavo Henrique Roque, gerente de inovação da Ferrous.

A ideia, segundo ele, era criar um espaço para aproximar essas empresas e trabalhar com cinco pilares: segurança, gestão de resíduos e rejeitos, fontes de energia alternativas, eficiência operacional e gestão da água. A inauguração do espaço ocorre em janeiro, e em fevereiro chegam as startups. Cada uma fica três meses trabalhando com uma mineradora, em projeto-piloto que, se funcionar, pode ser replicado para as outras grandes companhias.

Nova geração de profissionais
Oxigenar o negócio com novas ideias que florescem no solo fértil da colaboração foi também o que levou MRV, Banco Inter e Localiza a se unirem para criar e agora manter o Órbi Conecta, outra iniciativa de destaque nesse ambiente. “Diante desse desafio da transformação digital, a parte da tecnologia pode talvez ser a última fase. A questão passa muito mais por estratégias de cultura do que necessariamente contratar novas tecnologias, apesar de que isso acontece para agilizar mudanças”, acredita Anna Martins, diretora-executiva do Órbi Conecta.

O espaço, que funciona no Bairro Lagoinha, região Noroeste da capital, desenvolveu-se a partir da comunidade do San Pedro Valley, a união de várias startups de BH, que já deixou as amarras geográficas do Bairro São Pedro para nomear este ecossistema. “O que esperamos para breve é que o próximo unicórnio brasileiro (empresa que atinge valor de US$ 1 bilhão) virá de Minas”, aposta Pedro Menezes, fundador da Segfy e integrante do San Pedro Valley.

 De acordo com ele, a nova geração de profissionais que chega ao mercado de startups em BH já vem com o modelo mental da colaboração azeitado. Parte do processo tem a ver com iniciativas de formação como a da formação transversal em inovação oferecida pela UFMG, com a disciplina empreendimentos em informática, que tem professores voluntários das empresas de destaque no setor.

 “Mais de 600 pessoas já passaram por lá e a tendência é que isso chegue também a outras universidades”, diz Menezes. Por causa de iniciativas assim, a UFMG venceu, pela segunda vez consecutiva, o prêmio de universidade do ano pelo Startup Awards 2018, evento organizado pela Associação Brasileira de Startups.

Para Anna Martins, as perspectivas são otimistas: “Belo Horizonte tem se destacado muito neste mundo de empreendedorismo de base tecnológica. O San Pedro Valley é a segunda maior comunidade de startups do Brasil. A cultura de BH está muito relacionada à questão de criação e à base das empresas tecnológicas. Aqui é a cidade da criatividade, das novas ideias, de testes, existe essa cultura efervescente. A vocação é ser um celeiro para o Brasil e o para o mundo”.

Criação no Centro
(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)

Com investimento de R$ 50 bilhões, o Edifício Bemge, na Praça Sete, está em obras para abrigar o P7 Criativo, iniciativa da Codemge, Fiemg, Sebrae, Fundação João Pinheiro e Governo de Minas Gerais, com previsão de inauguração para maio de 2019. O diretor presidente, Leonardo Guerra, explica como a novidade vai se inserir no ecossistema de inovação de BH: "Estão ali a economia do conhecimento, as empresas de tecnologia, mas o P7 abrange também a moda, o design, a música, o audiovisual. E por ser arranjo estadual, criaremos mecanismos para atuar junto aos polos, como o audiovisual da Zona da Mata e estudar outras iniciativas no interior"
 
Inovação de casa
Criada em 2013, a A4D, agência de marketing digital do grupo Diários Associados, é internacionalmente premiada. Parceira do Premier Partner Google, a empresa se especializou em serviços e estratégias digitais como SEO, adwords e inbound marketing. A agência atende clientes de todos os segmentos e tamanhos, com soluções únicas para aumentar os resultados dos seus negócios.
 
Eu e ela 
Startup é aqui
Israel Salmen, presidente e cofundador da Méliuz, uma das mais promissoras startups da cidade(foto: Divulgação)
Israel Salmen, presidente e cofundador da Méliuz, uma das mais promissoras startups da cidade (foto: Divulgação)
“BH já era considerada nossa casa, porque já havíamos empreendido aqui. E aqui montamos uma excelente equipe. Há zero dor em encontrar profissionais qualificados nesta cidade. O ecossistema de startups daqui evolui bastante, com apoios do governo e universidades. Recomendaria a qualquer startup do Brasil começar um negócio aqui”
- Israel Salmen, presidente e cofundador da Méliuz, uma das mais promissoras startups da cidade.


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