Estado de Minas

Arrudas-parque, Pampulha limpa e outras manchetes que BH merecia

A dupla celebração do aniversário da cidade de Belo Horizonte e do jornal Estado de Minas nos propõe o belo exercício de pensar nas manchetes futuras do jornal sobre a capital dos mineiros. A seguir, meu exercício de imaginação. Sugiro que cada leitor faça o seu.


postado em 12/12/2018 06:45

(foto: Lélis)
(foto: Lélis)
 

ANTIGO CAMPO DO AMÉRICA ESPORTE CLUBE, A ALAMEDA, VIRA NOVAMENTE PARQUE
Com um belo discurso de inauguração, o prefeito de Belo Horizonte entregou ontem à população da cidade o trecho recuperado do Parque Municipal junto ao Viaduto da Avenida Francisco Sales, que durante décadas foi ocupado por um hipermercado. Na ocasião, o alcaide lembrou o plano original da nova capital de Minas Gerais, onde se previa uma área para o parque municipal correspondente a pelo menos três vezes a atual. Lembrou ainda as mutilações que o verde sofreu ao longo dos anos para implantação de hospitais e outros espaços comerciais naqueles arredores, detendo-se no caso específico do novo espaço inaugurado que fora subtraído ao parque para se transformar em estádio de futebol para importante time da capital, o qual, em crise, o vendeu para uma rede de supermercados. Com a ação atual da prefeitura, a cidade não apenas resgata importante espaço público, como repõe um grande número de espécimes vegetais muito importantes para atenuar as grandes alterações climáticas das últimas décadas. Esta ação se insere também na atual onda de recuperação da paisagem urbana da cidade, após a demolição do anexo do Edifício Sulacap/Sulamérica e da recuperação da imagem do Iate Tênis Clube, esperando-se para breve outras ações administrativas que venham requalificar a nossa urbe.

BELO HORIZONTE GANHA PRÊMIO INTERNACIONAL DE DIREITO À CIDADE
Na noite da última sexta-feira, o Instituto Internacional das Cidades conferiu a Belo Horizonte o prêmio Cerdá, considerado o “Oscar das cidades” e criado em homenagem ao assim considerado fundador da ciência do urbanismo. O prêmio foi conferido em reconhecimento aos esforços da cidade de Belo Horizonte, que, nas últimas décadas, tem procurado propor ações que favorecem a fruição dos espaços urbanos por todas as camadas da população, garantindo sua segurança, acessibilidade fácil e gratuita a todos os pontos da capital, distribuindo ações de qualificação urbana até seus recantos tradicionalmente menos assistidos e criando políticas públicas de educação, saúde e cultura, garantindo a presença do estado em todos os lugares e para todos. Ao receber o prêmio na solenidade em Bonn, o prefeito de Belo Horizonte reconheceu que a cidade começou a fazer jus a ele a partir do momento em que passou a ver o cidadão com mais carinho e a sociedade por uma ótica de maior justiça, distribuindo com mais equidade a renda gerada pela economia urbana e distribuindo os investimentos por toda a sua extensão territorial. “A compreensão de que violência não se combate com violência, mas com educação, cultura e justiça social foi fundamental para a mudança de nosso paradigma administrativo, compreensão assumida por uma sequência de governos, que, mesmo sendo de partidos diferentes e até mesmo opostos, concordaram que uma continuidade de políticas públicas que garantisse paz e oportunidades seria maior que qualquer divergência política”, disse o prefeito ao discursar.\
 
VALE DO ARRUDAS FINALMENTE SE TRANSFORMA EM PARQUE LINEAR
Os terrenos da extinta Rede Ferroviária Federal nos arredores da Praça da Estação há tanto tempo desocupados se somaram às ruas e praças e a alguns lotes particulares que aderiram ao projeto para finalmente realizar o grande potencial urbanístico da área urbana compreendida entre a Estação Lagoinha e a Estação Santa Efigênia. Trata-se da última reserva estratégica da área central com capacidade de absorver amplos espaços públicos e de costurar a cidade no sentido leste-oeste – através da continuidade de calçadas desde a Serraria Souza Pinto à Estação Lagoinha – e norte-sul, propiciando ao pedestre a ligação Centro-bairros Floresta e Colégio Batista. A realização do projeto que está na agenda da cidade há várias décadas só foi possível graças a uma visão urbana ampla e sistêmica da atual administração que substituiu as tradicionais viseiras e ações pontuais de administrações anteriores. É claro que muito contribuíram para a beleza local o destapamento do Ribeirão Arrudas, revelando o rio da cidade, e a remoção do intruso edifício outrora ocupado pelo Centro de Referência da Juventude, em obsolescência constatada desde a sua inauguração.
 
NOVA ESTAÇÃO DO METRÔ EM CONFINS INTEGRA VETORES NORTE E SUL DA CAPITAL
A inauguração do terminal de metrô no aeroporto de Confins vem se somar a uma rede importante de mobilidade urbana na capital que, desde a Estação Jardim Canadá até o aeroporto, garante o transporte de massa no vetor norte-sul metropolitano. Depois da recém-inaugurada Estação Barreiro, essa é a mais importante obra da malha metroviária que vem garantindo aos moradores de Belo Horizonte deslocamentos rápidos e seguros por todo o território e que, ao longo dos anos, veio substituindo o automóvel particular, tornado desnecessário em função das novas facilidades de locomoção. A gradativa substituição do automóvel pelo transporte público e pelo uso intensivo de bicicletas criou uma questão inusitada no mercado imobiliário belo-horizontino que vem oferecendo a preços baixos grandes áreas antes ocupadas pelas garagens dos prédios e que agora estão vazias. Pelo lado da administração pública, o problema é a busca de recursos para transformar as amplas vias asfaltadas em ruas ajardinadas de pedestres, o que representa um vultoso investimento além da capacidade financeira da capital.
 
PAMPULHA LIMPA: SONHO ANTIGO FINALMENTE REALIZADO
Contrariando as previsões de total assoreamento do lago que tanto assombraram os belo-horizontinos nos anos 80 do século 20, a realização da Grande Regata Belo Horizonte-Rio vem marcar a limpeza total do lago, com a retirada completa dos esgotos e sedimentos que, através da sua bacia, constantemente chegavam à lagoa. Especialistas indicam que isso só foi possível graças às novas formas de gestão metropolitana e à consciência dos prefeitos dessa região, que compreenderam que as fronteiras municipais devem ser transpostas em nome de uma cooperação e solidariedades maiores, posto que as bacias hidrográficas e os problemas sociais não se restringem às suas respectivas confrontações oficiais. O nosso patrimônio da humanidade afasta, assim, todas as ameaças de retirada de seu título, para motivo de júbilo de toda a nossa população, que se acostumou a ver na região o trânsito não só de turistas, mas de toda a gente dos arredores que reconhece a Pampulha como um grande parque urbano.
 
Flávio Carsalade é arquiteto urbanista e professor da UFMG. Outra manchete que ele gostaria de ver estampada no jornal é “Após conquistar a tríplice coroa, Galo vence a Libertadores em noite emocionante”, mas ele mesmo registra que “por sua dificuldade, esse nosso sonho fica para outro amanhã...”


Publicidade