As letras da Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, levaram o Brasil ao reencontro com a democracia, depois de 21 anos de ditadura militar (1964-1985). Como nenhuma de suas seis ntecessoras, ampliou direitos civis e garantias individuais, por isso “cidadã”. Desde então, sete presidentes juraram obedecê-la, dois impeachments ocorreram e, este ano, quando a mais antiga carta constitucional em vigor completa 30 anos, brasileiros viram ganhar corpo a discussão sobre a criação de um novo conjunto de leis mestras para reger a nação. Num país em crise e polarizado, o assunto esteve na tangente do debate presidencial. A ideia acabou jogada para escanteio após críticas, vindas também do Supremo Tribunal Federal (STF), casa criada para protegê-la.
Nesse tempo, mais de uma centena de emendas
Passados 30 anos, já somos 208 milhões de brasileiros, a Carta Magna permanece a mesma, porém transformada dentro das possibilidades que o próprio documento permite, de forma a resguardar seus princípios que asseguram direitos fundamentais, regime federativo, a república e a democracia. De 1988 para cá, foram 106 emendas constitucionais e 263 regulamentações, que tocaram em pontos como flexibilização de monopólios estatais, reforma previdenciária, remuneração no serviço público, entre outros.O Supremo, corte vocacionada para a interpretação da Constituição, também tomou 4.305 decisões para elucidar as letras da lei máxima e garantir que ela se sobreponha a todas as outras leis no país. Com base na Constituição, em 2011, por exemplo, o STF reconheceu a união estável para casais do mesmo sexo, abrindo caminho para o casamento homoafetivo. Mas, apesar das modernizações à luz dos novos tempos, a necessidade de novas regras para a nação apareceram com força nas eleições de 2018. O programa de governo do PT continha proposta de convocar nova Constituinte, retirada ao longo da campanha. Vice-presidente eleito, o general da reserva Hamilton Mourão defendeu a elaboração de nova Constituição por “notáveis”, sem a necessidade de participação dos “eleitos pelo povo”. Após críticas, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) desautorizou o vice. Garantiu que será um “escravo” da Constituição e, na sessão solene do Congresso, em homenagem aos 30 anos da carta, afirmou que “na democracia só há um norte, é o da nossa Constituição”. “Uma nova Constituinte é absolutamente antijurídico, significaria uma ruptura institucional. Não se estabeleceram prazos de validade. As alterações em seu texto são feitas por emendas”, afirma Fernando Jayme. “O problema é que a Constituição preconiza uma situação muito bacana de uma sociedade justa, fraterna, solidária. Isso gera uma frustração nos governantes que não dão conta de alcançar seus princípios, que acabam responsabilizando a Constituição”, completa."Adeus, meus irmãos. É despedida definitiva, sem o desejo de retorno. Nosso desejo é o da nação: que este plenário não abrigue outra Assembleia Nacional Constituinte (%u2026) Declaro promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil"
Ulysses Guimarães