Estado de Minas 90 ANOS

Da tragédia em 1976 à euforia de um predestinado em 1997: como o Cruzeiro conquistou a América

Bicampeão da Libertadores e dono de mais cinco títulos sul-americanos, Cruzeiro é conhecido como time copeiro e sempre respeitado pelos adversários no continente


postado em 07/09/2018 07:10 / atualizado em 06/09/2018 22:03

A foto do predestinado atacante Elivélton correndo de braços abertos pelo gramado do Mineirão é emblemática. O gol solitário sobre o Sporting Cristal, marcado aos 35min do segundo tempo, diante de mais de 95 mil torcedores, no Mineirão, colocava o Cruzeiro em um seleto grupo de brasileiros com dois títulos da Copa Libertadores – lista que, até hoje, tem apenas São Paulo e Grêmio (tricampeões), Santos e Internacional (bi).


“A memória quando eu vejo essa foto é a explosão que houve no Mineirão. A explosão de alegria do torcedor, que incentivou, que acreditou”, lembra Elivélton, hoje com 47 anos, aposentado desde 2010. “Não me lembro muito do gol, mas da alegria, do povo sofrido, que pagou ingresso caro. Lembro-me de que estava uma noite fria e o gol fez o Mineirão explodir em festa”, dizo dono da camisa 20.


Em 1976, o time de Raul, Nelinho, Darci Menezes, Moraes, Vanderlei, Piazza, Zé Carlos, Eduardo, Jairzinho, Palhinha e Joãozinho dominou a América do Sul(foto: Arquivo EM/D.A Press %u2013 21/7/76)
Em 1976, o time de Raul, Nelinho, Darci Menezes, Moraes, Vanderlei, Piazza, Zé Carlos, Eduardo, Jairzinho, Palhinha e Joãozinho dominou a América do Sul (foto: Arquivo EM/D.A Press %u2013 21/7/76)

Foi uma campanha conturbada para o time celeste na primeira fase. Depois de perder para o tricolor gaúcho, na estreia, Oscar Bernardi foi demitido e trocado por Paulo Autuori, que estreou com derrota para o Alianza Lima por 1 a 0, na semana seguinte, no Peru, e ainda perdeu o seguinte para o futuro adversário da decisão, pelo mesmo placar, em Lima.


A arrancada só começou na segunda fase. Com defesas de Dida e Palhinha e Reinaldo inspirados, o Cruzeiro se classificou em segundo do grupo, com 9 pontos. Na fase final, Marcelo Ramos brilhou, com três gols. O Cruzeiro passou pelo El Nacional, nos pênaltis, reencontrou o Grêmio, superou o chileno Colo Colo e, na decisão, depois de empatar sem gols em Lima, venceu o Sporting Cristal, no Mineirão.


“O coração de Minas bate em azul e branco, aliviado e festivo com a conquista do bicampeonato da Libertadores”, descrevia o Estado de Minas de 14/8/1997. “Coube ao incansável Elivélton, com um chute de fora da área, despachar a ansiedade dos mineiros e garantir a conquista e a passagem para Tóquio, no Japão, onde o time decidirá o título do Mundial Interclubes contra o Borussia Dortmund, da Alemanha”, dizia. No fim do ano, o time celeste acabou derrotado pelos alemães por 2 a 0, no Japão.


CAMPANHA ESPETACULAR

Para entender a fama do Cruzeiro no continente, entretanto, é preciso voltar duas décadas antes do bicampeonato. Em 1976, o time de Raul, Nelinho, Darci Menezes, Moraes, Vanderlei, Piazza, Zé Carlos, Eduardo, Jairzinho, Palhinha e Joãozinho dominou a América do Sul, marcando incríveis 47 gols e sofrendo 16, em 13 partidas (11 vitórias, um empate e uma derrota). O primeiro título da Libertadores veio com vitória sobre o River Plate, por 3 a 2, em campo neutro, em Santiago, depois de vencer no Mineirão (4 a 1) e perder no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires (2 a 1).


“Quando ele (o árbitro chileno Alberto Martínez) apitou pela última vez, eram 23h49 da noite em BH e uma explosão de alegria tomou conta da cidade: carros buzinando, foguetes estourando, bares cheios, gente saindo de casa para comemorar, um carnaval que rompeu pela madrugada adentro”, relatava a capa do Estado de Minas de 31/7/1976.


O EM daquele dia exaltava o gol de pênalti de Nelinho, os gols de placa de Eduardo e Joãozinho e justiça ao melhor time da América. Palhinha foi artilheiro com 13 gols, seguido por Jairzinho, com 11. Na trajetória, um capítulo triste: a morte de Roberto Batata, titular absoluto, autor de um gol na estreia, em acidente de carro quando buscava a família em Três Corações. “A promessa cumprida: a taça de Roberto Batata”, contava o EM no dia seguinte ao título, sobre a união dos atletas para erguer o troféu em homenagem ao amigo.


A tentativa do tricampeonato bateu na trave. Em 2009, a equipe do técnico Adilson Batista empatou sem gols com o Estudiantes, em La Plata, e abriu o placar no Mineirão, mas sofreu a virada, deixando a terceira taça escapar.
O apelido

Em 1989, o Cruzeiro jogou contra o Olímpia, pela Supercopa dos Campeões da América, precisando reverter um resultado adverso de dois gols. Sob forte chuva, a Raposa fez 3 a 0 no Mineirão e, a partir de então, começou a ser chamada pela imprensa paraguaia de ‘La Bestia Negra’ do Olímpia. Em 1994, quando se enfrentaram de novo pela Supercopa, o time paraguaio novamente venceu o primeiro jogo por 2 a 0 e o Cruzeiro emplacou 4 a 0 na segunda partida, eliminando o Olímpia pela quarta vez consecutiva de uma competição internacional e selando a fama celeste de time copeiro. O termo, em tradução livre, é comparado a ‘monstro negro’, ou ‘asa negra’ no Brasil. O tempo passou e o apelido ganhou outros países e acabou virando marca registrada do clube celeste.

 

BRILHO CONTINENTAL

l Libertadores
1976 e 1997

l Supercopa da Libertadores
1991 e 1992

l Recopa Sul-Americana
1998

l Copa Ouro
1995

l Copa Master da Supercopa
1995

 

PÁGINAS HISTÓRICAS
Estado de Minas, 21/11/1991
O supercampeão


(foto: Arquivo EM)
(foto: Arquivo EM)
Em 1991, o Cruzeiro vivia jejum de títulos importantes, que foi quebrado com a grande fase do volante Ademir. Ele e Mário Tilico (duas vezes) marcaram os gols da vitória sobre o River Plate por 3 a 0, no Mineirão, conquistando a Supercopa da Libertadores. “Esta é a maior conquista do futebol mineiro em 15 anos”, destacava a manchete do EM de 21/11/1991. No ano seguinte, o Cruzeiro voltou a conquistar a Supercopa, sobre o Racing, quando brilhou a estrela de Renato Gaúcho.


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