Estado de Minas

Café, siderurgia e startups: 90 anos de economia em páginas de jornal

As transformações do estado foram estampadas nas páginas do EM


postado em 13/07/2018 07:06 / atualizado em 12/07/2018 16:37

“Agrava-se a crise do café”. Com essa manchete e o subtítulo “Perspectivas sombrias”, o Estado de Minas noticiou em 30 de outubro de 1929  fato econômico marcante do século 20. O texto, publicado também no Jornal do Commércio, descrevia assim os acontecimentos do dia que ficou conhecido como Terça-feira Negra: “A situação do mercado de café na nossa praça aggravou-se de um modo decisivo na manhã de hontem. A Bolsa não funcionou”. Daquele crash histórico à inovadora cultura de startups, as páginas do jornal refletiram as mudanças constantes na atividade econômica.

Símbolo da industrialização de Minas, a antiga Belgo-Mineira entrou em operação no fim dos anos 30 e expandia sua trefilaria em 1971(foto: Arquivo O Cruzeiro/Arquivo EM - 1971)
Símbolo da industrialização de Minas, a antiga Belgo-Mineira entrou em operação no fim dos anos 30 e expandia sua trefilaria em 1971 (foto: Arquivo O Cruzeiro/Arquivo EM - 1971)

“As notícias de Nova York, onde o café cahiu em dezenas e dezenas de pontos, as reuniões de Santos, onde a situação era alarmante, e os preços nos limites da lei (1$000 por dez Kilos), e as appreensões gerais, provocaram um movimento não de pânico, mas de prudência”. Em 31 de outubro – “A situação do café e a atitude do sr. Washington Luís” – e em 1º de novembro – “A crise do café continua causando apreensões” –, o EM noticiou os desdobramentos da maior crise econômica do século passado.

Nas décadas seguintes, as iniciativas de produção e exportação do minério de ferro das montanhas de Minas Gerais, iniciadas nos primeiros anos do século passado, ganham força, assim como a vocação do estado também para a produção siderúrgica. Em 1937, entra em operação a usina da antiga Belgo-Mineira (hoje pertencente ao grupo ArcelorMittal) em João Monlevade, na Região Central. Foi o estímulo para que o eixo da economia se deslocasse da Zona da Mata, produtora de café, para a Zona Metalúrgica, com a mineração e o aço.

Sacos de cimento

Nos anos 1940, com o mundo envolvido na Segunda Grande Guerra, aumenta a demanda por minério de ferro e aço para a produção de armas, um contexto que viabiliza a industrialização mineira. Uma vez criada a Cidade Industrial de Contagem, na Grande Belo Horizonte, o Estado de Minas destacava o acordo celebrado entre o governo de Minas e a Companhia de Cimento Portland Itaú, com a notícia: “10 mil sacos de cimento, diariamente”. A fábrica foi a primeira a se instalar no parque industrial.

No ano seguinte, a notícia era: “Aprovados os estatutos da Cia Vale do Rio Doce S.A” com destaque, e “A cerimônia de entrega do acervo da Itabira Iron ao Brasil”, no detalhe. Era a realização de um ideal para os mineiros. “A exploração das minas de Itabira será feita pelo Brasil para o Brasil”, diz o título do discurso do ministro Sousa Costa, reproduzido com destaque pelo jornal em 7 de junho de 1942. Em nova fase de desenvolvimento, com o binômio energia e transporte, Juscelino Kubitschek assume o governo de Minas e promove uma certa revolução industrial.

Vocação industrial

Em 26 de abril de 1952, o jornal noticia que é “De um bilhão de cruzeiros o capital da Cemig”, e destaca a criação da Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A (Cemig), a partir da “maior incorporação da história econômica de Minas”. Com energia para mover os motores e ferrovias e estradas e escoar a produção, Minas acelera sua industrialização. Em 1954, com a presença do presidente Getúlio Vargas e do governador Juscelino Kubitscheck, é inaugurada a siderúrgica Mannesmann, em Belo Horizonte. “Importante marco da evolução industrial do Estado” é a notícia de 12 de agosto de 1954. Em maio de 1956, é inaugurada, em Pedro Leopoldo, a Cauê, a mais moderna fábrica de cimento do país.



Com a vocação siderúrgica se consolidando, é fundada em 1956, a partir de uma campanha dos empresários com o apoio do governo, a Usiminas, que seria inaugurada na década seguinte. “Usiminas é um exemplo da proveitosa colaboração entre dois povos amigos”, destacava a edição de 27 de outubro de 1962. Mas ainda era preciso ir além e agregar  mais valor ao minério de ferro e agora ao aço produzido no estado.

Na década de 1960, é criado o aparato institucional que permitirá a Minas desenvolver-se de forma diversificada nos anos seguintes. A receita mineira inclui o Banco de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, o Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Indi), a Companhia de Distritos Industriais (CDI) se a Fundação João Pinheiro (FJP). Com pedra fundamental lançada em 1963, a Refinaria Gabriel Passos é inaugurada em 30 de março de 1968, um ano após o oleoduto Rio de Janeiro-BH ser concluído.

Milagre mineiro

Na década seguinte, o Brasil, governado por militares, experimenta o milagre econômico, que dura até 1973, quando o mundo enfrenta a primeira crise do petróleo. Em Minas, são iniciadas as obras da Açominas, fundada em 1963 e última grande siderúrgica construída pelo Estado brasileiro. Em 14 de março de 1973, o jornal destaca a assinatura do acordo para a construção da fábrica de automóveis da italiana Fiat, em Betim. “Automóvel, o símbolo de uma nova era no estado” era a principal notícia no EM.

Nesse período, o desenvolvimento do estado divide espaço com o noticiário sobre o descontrole da inflação. Mesmo assim, grandes projetos, como o Aeroporto Internacional de Confins (março de 1984) e a siderúrgica Açominas (entra em operação em 1986) ganham destaque no jornal. Ocorreu ainda a vinda de outras montadoras de veículos para o estado (Mercedes-Benz em Juiz de Fora e Iveco, em Sete Lagoas). O estado chega à última década do século como terceira economia do país, respondendo por 9% do PIB nacional.

As privatizações

A década de 1990 marca também o início do processo de transferência à iniciativa privada de empresas estatais. Em 24 de outubro de 1991, a Usiminas é vendida em leilão. À venda se seguiram Açominas e CSN (1993), Embraer (1994), Light (1996), Vale (1997) e Bemge (1998), entre outras. As polêmicas e disputas envolvendo essas empresas foram noticiadas com destaque pelo Estado de Minas, que amplia sua cobertura sobre assuntos econômicos. Chegava o fim da década com economia estabilizada, grandes empresas privatizadas e a apreensão com as notícias sobre o risco de pane nos computadores no fim do milênio, no que ficou conhecido com “bug do milênio”.


Novatas brilhantes

O bug não ocorreu, mas chamou a atenção para o desafio que ganhou força no noticiário: a modernização tecnológica de inovação de processos produtivos a partir de novos conceitos e de iniciativas muitas vezes embrionárias. Nesse sentido, surgiria no começo do novo século uma semente frutífera para o que se delineia hoje como futuro estratégico da economia mineira, rumo à inovação e nova economia: a compra, por parte da gigante de buscas Google, de uma pequena empresa criada por professores da UFMG, a Akwan.

Marco do mergulho do estado na nova economia, a equipe da startup Hotmart tem motivo para festejar o tempo da tecnologia digital(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Marco do mergulho do estado na nova economia, a equipe da startup Hotmart tem motivo para festejar o tempo da tecnologia digital (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O buscador criado pela equipe do professor Berthier Ribeiro-Neto chamou a atenção dos engenheiros da ponto.com, que instalaram, então, em 2005, em Belo Horizonte, seu centro de desenvolvimento e pesquisa para a América Latina. Hoje, o escritório dedica-se, fundamentalmente, a grandes projetos em escala global, como a recente renovação de buscas para a Copa do Mundo.

A inspiração desse vizinho de peso seria fundamental para o surgimento despretensioso de uma comunidade de startups, por volta de 2010, que ganharia notoriedade até mesmo na imprensa especializada internacional: o São Pedro Valley. A referência nasceu como uma brincadeira, alusão ao Silicon Valley, nos Estados Unidos. Surgiram empresas como Hotmart, Rock Content, Hekima, Dito, DeskMetrics (vendida em 2016), Base2 (CrowdTest), Sympla, Smarttbot e Méliuz.

Nos últimos anos, iniciativas do governo vieram somar esforços ao suor dos empreendedores para consolidar o ecossistema de startups mineiro, hoje o segundo maior do país.


Publicidade