Estado de Minas

Como o Estado de Minas se prepara para narrar histórias no século 21

Mudanças na forma de produzir e de apresentar conteúdos na era digital transformaram a redação do EM em um laboratório do jornalismo


postado em 05/03/2018 15:04 / atualizado em 25/07/2018 17:40

(foto: Arte de Soraia Piva sobre fotos Arquivo EM)
(foto: Arte de Soraia Piva sobre fotos Arquivo EM)

Criar conteúdo multiplataforma com o selo da tradição dos 90 anos do Estado de Minas torna-se desafio menos complexo diante de trajetória como a que mostramos neste especial. Se inovações tecnológicas – da escrita cuneiforme ao papiro, dos monges copistas à imprensa – sempre fizeram parte da história da comunicação, o ritmo de novidades no ambiente atual exige postura ativa das empresas que vão sobreviver à disruptura digital bancando jornalismo profissional. Como referência no mercado internacional, marcas como The New York Times, Washington Post e El país já atuam adiante das tendências – antevendo hábitos de consumo e distribuindo conteúdo jornalístico multiplataforma. Por isso, a palavra de ordem também para o Núcleo de Criação Multimídia do Estado de Minas é experimentação.

Os jornalistas que trabalham nele têm a tarefa de desenvolver projetos beta, que incorporem e repensem notícias e conteúdo para novas plataformas. Para marcar a celebração dos 90 anos do jornal, o grupo desenvolveu seu primeiro podcast original, o Megafone. O nome do projeto homenageia o megafone que o jornal usava, nos anos 1930, para fazer o primeiro ao vivo de sua história: quando o Brasil estreou na Taça Mundo, em Montevidéu, as informações em tempo real da partida contra a Iugoslávia, que chegavam à redação via telefone, eram repassadas a uma multidão à porta do jornal, na sede da Avenida João Pinheiro.

O episódio-piloto do podcast Megafafone vai ao ar hoje e traz entrevista com Anna Marina, editora do caderno Feminino e Masculino. Ela foi a primeira mulher a trabalhar no jornal, há 60 anos, e está na redação até hoje. Na conversa, Anna conta os casos da cobertura de moda – em que se tornou referência nacional – e reflete sobre as relações entre o jornal e a cidade: ambos em transformação ininterrupta.

“Não tive problema quando eu entrei, porque eu virei homem. Tudo que eles faziam eu fazia, saía para beber cerveja, tudo!”, relata. O Megafone vai entrevistar outros jornalistas veteranos que contam a história do Estado de Minas de ponto de vista privilegiado, como o repórter fotográfico Jorge Gontijo, o chargista Son Salvador, e os repórteres Ivan Drummond, Gustavo Werneck e Marta Vieira. Até o fim deste ano, teremos um acervo único e vasto  sobre a história do jornalismo profissional em Minas Gerais.

Humor e imersão
Para esta comemoração dos 90 anos, os jornalistas Luiz Othávio Gimenez e Larissa Kümpel prepararam edição especial do vlog Xotifalá. Sucesso nas redes sociais, as edições que mais viralizaram alcançaram 4 milhões de pessoas. Desta vez, o jornal deixa de ser apenas o cenário ao fundo do estúdio de vidro e se torna personagem: o vídeo mostra os bastidores da redação, com os traços de humor e despojamento que marcam o sucesso do Xotifalá.

Um passeio em vídeo feito com câmeras 360 graus também vai revelar os processos de construção da notícia em um grande jornal. O material pode ser explorado ao girar a tela do celular ou mover o mouse do computador, arrastando o cenário e mudando o ponto de vista. Essa produção é continuidade da experiência com vídeos imersivos, que o jornal testou no Bloco do 360, canal que cobriu o carnaval de Belo Horizonte com perspectiva inédita: de dentro do bloco, ou de cima do trio, nossos repórteres levaram os leitores para onde eles nunca estiveram.

Engajamento
Como passo inicial na estratégia de aumentar o senso de pertencimento e participação dos jornalistas rumo ao digital, no último ano o jornal concebeu seu primeiro grande projeto digital-first: o BH 120, em comemoração ao aniversário de 120 anos da capital, o que envolveu mais de 100 profissionais em 12 especiais multiplataforma publicados quinzenalmente entre julho e dezembro. O treinamento das equipes para a cobertura do carnaval foi outro passo nesse mesmo sentido, ação que se torna constante no aperfeiçoamento da produção de conteúdo pelo Estado de Minas.

As grandes reportagens especiais criadas no núcleo nos últimos anos marcam a presença do jornal em competições jornalísticas de alcance nacional, como o Prêmio Petrobras de Jornalismo e o Images and Voices of Hope. Foi assim com O martírio de Dandara, Travessia, Vozes de Mariana, Três paixões, Além dos muros, Dois irmãos e Hildas de hoje. Alguns desses produtos, com edições inéditas para curta-metragem, foram selecionados e ganharam prêmios em festivais de cinema, como o Mix Brasil, Festival de Cultura da Diversidade, em que Dandara venceu o Prêmio Canal Brasil de Incentivo ao Curta-Metragem.

Passado de inovações
Desafio do jornal de agilizar e ampliar sua capacidade de manter os leitores bem informados passou por grandes avanços no processo gráfico desde o começo

Quarta-feira, 7 de março de 1928. Enquanto a primeira edição do Estado de Minas ganhava as ruas, Belo Horizonte ainda celebrava a fundação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ocorrida seis meses antes, e os torcedores do Palestra Itália comemoravam a vitória sobre o Atlético pelo Campeonato Mineiro, em novembro. Mundo a fora, o noticiário seguia as viagens do aviador norte-americano Charles Lindbergh (1902–1974), que desde a façanha de se tornar o primeiro a cruzar o Atlântico em voo solo visitava cidades em todos os continentes até meados dos anos 1920.

A década seguinte à fundação do EM trouxe um grande desafio para jornalistas de todo o mundo. Em 1936, o início da Guerra Civil Espanhola deixaria os europeus aterrorizados e transformaria a história do fotojornalismo e das coberturas de conflitos devido à exigência de informar de forma cada vez mais ágil os leitores. Para isso, era fundamental investir em equipamentos mais modernos e em profissionais qualificados.

No começo da década de 1940, o EM já contava com um serviço de radiotelegrafia para receber informações do país e do exterior de forma mais rápida. Um avanço em qualidade na época essencial, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A agilidade de entregar aos leitores informações relevantes e bem-apuradas sobre fatos mundiais, assim como notícias locais, estreitaram a relação do jornal com seu público.

Credibilidade
Outro exemplo dessa proximidade e confiança se destacou nas eleições estaduais de janeiro de 1947, quando o EM usou uma solução criativa de cobertura em tempo real. Um gigantesco placar foi instalado na fachada do Cine Brasil, na Praça Sete, para informar à população os resultados das urnas. A atualização do painel, no qual era exibido o nome de cada político e seus respectivos votos, foi acompanhada por milhares de pessoas. Por meio dessa estratégia original, os leitores do Estado de Minas ficaram sabendo da vitória do governador Milton Campos e quais foram os 72 deputados estaduais mais votados.

A preocupação de sempre estar próximo ao público mineiro, com informações de qualidade e ágeis, exigiu a constante preocupação do jornal em atualizar seus equipamentos, seja o maquinário de impressão, seja a tecnologia usada por repórteres, fotógrafos e outros profissionais ligados diretamente à redação do EM. Ao longo dos anos 1960 e 1970, a equipe que se revezava no comando dos linotipos (máquinas com um teclado que funde em placas de chumbo cada linha de texto a ser impressa) foi fundamental para a produção em larga escala de conteúdo. Eram 25 máquinas dessas em operação no prédio da Rua Goiás, no Centro de Belo Horizonte.

Memória vivaFuncionário do Estado de Minas desde 1968, Geraldo Girardelli sabe como poucos as vantagens que o uso dessas tecnologias de impressão trouxeram para os leitores. “Os linotipos, assim como outros equipamentos da gráfica e da redação, sempre foram o que havia de melhor no mercado mundial para se produzir jornal. Isso garantiu muita qualidade ao Estado de Minas”, explica Girardelli, que começou a trabalhar no EM aos 17 anos, e hoje comanda a Gerência de Manutenção e Impressão.

A atual excelência gráfica do jornal, reconhecida em premiações internacionais, é um reflexo dessa preocupação constante do jornal em sempre se manter atualizado no processo produtivo de notícia. Se o fim da década de 1980 marcou o início da informatização das redações da imprensa mundial e do próprio Estado de Minas, os últimos anos têm sido de constantes desafios na busca por processos diferenciados de produção e de distribuição de conteúdo, seja no meio impresso, seja no digital. Tudo sem perder de vista o compromisso com os leitores, um hábito de 90 anos.


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