Estado de Minas

A trajetória da industrialização de Minas nas páginas do EM

EM revela dia a dia como o estado rural se industrializou e se tornou o 2º colégio eleitoral do país, por onde passam todas as articulações políticas


postado em 05/03/2018 14:39 / atualizado em 06/03/2018 21:20

Praça da Liberdade na década de 1920(foto: Igino Bonfioli/Arquivo EM - década de 1920)
Praça da Liberdade na década de 1920 (foto: Igino Bonfioli/Arquivo EM - década de 1920)

Ao longo de nove décadas, Minas Gerais transformou suas bases predominantemente rurais do inicio do século 20 em uma das potências da federação, da qual se tornou a terceira economia. Quando foi publicada a primeira edição do jornal Estado de Minas, em 7 de março de 1928, a população mineira era de apenas 5,8 milhões de habitantes, número hoje alcançado se considerados apenas os moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Desde então, as cidades cresceram e setores da indústria e de serviços avançaram, ganhando espaço continuamente. Tudo acompanhado dia após dia, um acontecimento depois do outro pelo EM, em um trabalho que o credenciou ao longo de décadas como o jornal com a maior propriedade para contar a história de Minas e as histórias dos mineiros.

Em mais de 27 mil edições, o EM retratou o crescimento econômico mineiro, as mudanças de valores da sociedade, a evolução das cidades e segue, nos dias de hoje, acompanhando os desafios da inovação, ao mesmo tempo em que enfrenta a missão de se reinventar diariamente como fonte de informação confiável e de qualidade. Nesse percurso, o jornal mostrou como hoje os mais de 21 milhões de mineiros se tornaram responsáveis por 9% do PIB brasileiro.

Os desafios para o futuro, retratados nas páginas diárias do EM, são diversificar a cadeia produtiva, investir em indústrias de base tecnológica e aumentar a qualidade de vida da população – Minas é hoje a 9º unidade no ranking do IDH da Federação. A mineração – cravada no nome do estado desde seu descobrimento pelos bandeirantes – começou a ganhar volume com a implantação das companhias siderúrgicas Belgo-Mineira e Itabira Iron Company, na década de 1920.

A exportação de minério enfrentou, como mostraram as páginas do EM,  a resistência de vários políticos mineiros, que consideravam a atividade danosa ao estado e muito baixo o valor pago pelas empresas para compensar a exploração mineral. Foram criadas taxas para inibir a entrada de conglomerados estrangeiros e valorizar a criação de empresas nacionais, o que se consolidou em 1942, quando decreto do então presidente Getúlio Vargas criou a Vale do Rio Doce, estatal que viria a ser privatizada em 1997.

Indústria

Construção do Viaduto Santa Tereza, no Centro de BH, no início do século passado (foto: Arquivo EM)
Construção do Viaduto Santa Tereza, no Centro de BH, no início do século passado (foto: Arquivo EM)


 E foi exatamente na década de 1940 que foi dado o passo decisivo para a industrialização em Minas, quando o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, depois governador,  e o presidente Vargas apostaram na criação de empresas que trouxessem investimentos e empregos para o estado. Assim, os leitores do EM viram surgir em 1941, na região metropolitana da capital, o primeiro distrito industrial planejado do país,  em Contagem, com linhas férreas desviadas para atender às novas empresas que ali se instalavam. Na década seguinte, a vocação para o desenvolvimento se aprofundaria, com passos decisivos como o de 1952, quando foi criada a Cemig, primeira estatal de energia que abriria a porta para atrair outros empreendimentos. Na mesma linha, em 1954, Vargas e JK participariam da inauguração da Companhia Siderúrgica Mannesmann, no Barreiro.

Nos anos 1960, o apoio institucional do governo mineiro, por meio da criação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), passaria a ser decisivo para trazer outras grandes empresas. Dois anos depois do início da década, a Usiminas se instalava em Ipatinga, na região que ficaria conhecida como Vale do Aço.

A década de 1970 trouxe novos avanços na área econômica. Em 1976, por exemplo, o EM noticiava a inauguração da fábrica da Fiat, em Betim, também na Grande BH. A montadora italiana foi a primeira a produzir veículos no estado, que ganharia novas fábricas automotivas nas décadas seguintes, com a Iveco, instalada em Sete Lagoas, na Região Central, e a Mercedes-Bens, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, esta já em fins da década de 1990.

Há cinco anos, a montadora Mercedes faria um dos movimentos que representam a integração da economia mineira ao mercado mundial. Em 2012, a empresa expandiu a produção de caminhões Actros e Accelo para a planta de Juiz de Fora, que passou a integrar o sistema global de produção de veículos comerciais da Daimler.

Vozes de Minas

O presidente da República do Brasil, Juscelino Kubitschek (d), o governador de Minas Gerais, Bias Fortes e outras personalidades inauguram o viaduto das Almas juntamente com a inauguracão da BR-381(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press)
O presidente da República do Brasil, Juscelino Kubitschek (d), o governador de Minas Gerais, Bias Fortes e outras personalidades inauguram o viaduto das Almas juntamente com a inauguracão da BR-381 (foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press)

No cenário político, o Estado de Minas acompanhou em suas nove décadas a trajetória de 28 governadores, 13 deles eleitos por voto direto. E mostrou como sua população se tornou responsável pelo segundo maior colégio eleitoral do país, por onde passam necessariamente as articulações de poder em nível nacional. Ao longo desses 90 anos, políticos mineiros figuraram como protagonistas em alguns dos principais acontecimentos nacionais, mesmo que nos últimos anos, como retratam as páginas do EM, parlamentares do estado tenham perdido espaço em decisões federais e colecionado poucas conquistas. Sem representantes no ministério do governo do presidente Michel Temer (MDB), políticos mineiros assistiram no ano passado ao governo federal leiloar usinas da Cemig e ao adiamento, nas últimas décadas, das principais demandas na área de infraestrutura.

Mas o recuo não apaga os movimentos que partiram de Minas Gerais para influenciar no futuro político do país. Entre eles o de outubro de 1943, durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, quando políticos, advogados e empresários mineiros se levantaram contra a manutenção do regime e cobraram a volta da democracia. “Um povo reduzido ao silêncio e privado da faculdade de pensar e de opinar é um organismo corroído, incapaz de assumir as imensas responsabilidades decorrentes da participação num conflito de proporções quase telúricas”, afirmaram os assinantes do Manifesto dos Mineiros.

Na década seguinte, Juscelino Kubitschek, um dos políticos mineiros mais carismáticos, se consolidaria como liderança nacional ao chegar à Presidência, depois de passar pela Prefeitura de Belo Horizonte e pelo Palácio da Liberdade. Em seu mandato, nos anos 1950, o país viveria um período de grandes investimentos, com a inauguração de hidrelétricas e estradas, além da construção da nova capital no até então inóspito Planalto Central.

Na década seguinte, um movimento militar que partiu de Minas Gerais marcaria um dos períodos mais tensos da história brasileira. Ao marchar de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro, as tropas de Olímpio Mourão Filho deram a largada a uma das épocas mais duras e conturbadas da história do país. A ditadura militar foi responsável pela repressão contra aqueles que se opunham ao regime e resultou em centenas de assassinatos de civis. Seriam precisos 21 anos até que o Brasil voltasse a viver uma democracia.

Diretas

Nesse movimento de redemocratização, Tancredo Neves se tornou outro mineiro com grande destaque na política nacional. No período em que governou o estado, ele se tornou uma das principais figuras do movimento pelas Diretas já, após longos anos de ditadura militar. Apesar de a grande mobilização popular ter sido ignorada pelo Congresso Nacional, que decidiu contra o voto direto, Tancredo foi escolhido pelo Colégio Eleitoral para ser o presidente da República. No entanto, uma infecção generalizada impediu sua posse e levou à morte do político, chorada por todo o país em 21 de abril de 1985.

No início dos anos 1990, em mais um momento turbulento da política nacional, coube a outro político de Minas assumir a liderança da nação. Ex-prefeito de Juiz de Fora, Itamar Franco assumiria a Presidência da República após o impeachment de Fernando Collor, em outubro de 1992. Depois da nomeação de vários ministros mineiros, seu governo ficou conhecido como “República do Pão de Queijo”. Em fevereiro de 1994, Itamar foi responsável pelo lançamento do Plano Real, elaborado por uma equipe de economistas liderada pelo então ministro e depois presidente Fernando Henrique Cardoso. Um plano que controlaria a inflação galopante e lançaria as bases para a economia moderna do país.


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