Estado de Minas

Repercussão de notícias no jornal definiu finais felizes para estas histórias

Dramas revelados nas páginas do Estado de Minas ganham final feliz graças à sensibilidade de leitores e à repercussão em todo o país


postado em 05/03/2018 14:32 / atualizado em 06/03/2018 21:33

Tecnologia aproxima Romero Fernandes do filho, Romerinho, que está em tratamento nos EUA(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Tecnologia aproxima Romero Fernandes do filho, Romerinho, que está em tratamento nos EUA (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Em 90 anos do jornal Estado de Minas, há histórias e mais histórias para se contar de verdadeiros contos de fadas, em que a publicação de reportagens tornou-se instrumento capaz de operar total transformação na vida dos entrevistados, primeiramente documentada nas páginas de papel e, nos últimos tempos, ganhando repercussão cada vez maior a partir dos milhares de acessos no Portal Uai e nas mídias sociais.

Momento em que Melchior experimentou a cadeira motorizada presenteada pelo Atlético(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Momento em que Melchior experimentou a cadeira motorizada presenteada pelo Atlético (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

São inúmeros os relatos, que variam desde gestos aparentemente pequenos, como impulsionar a doação pelo clube de futebol Atlético Mineiro de uma cadeira de rodas motorizada ao jovem portador de miopatia nemalínica Melchior Tavares, hoje com 21 anos, a até mobilizar a gigantesca campanha de arrecadação de fundos em prol do estudante Romero Junio do Espírito Santo, então com 17 anos. Em maio, faz dois anos que o Romerinho, como é mais conhecido, embarcou para os Estados Unidos em busca de tratamento alternativo para seu raro quadro de leucemia no hospital City of Hope.

Flagrante feito pelo EM de Bárbara no lixão interrompeu uma saga de três gerações na miséria(foto: Renato Weil/EM/D.A Press 22/6/1999)
Flagrante feito pelo EM de Bárbara no lixão interrompeu uma saga de três gerações na miséria (foto: Renato Weil/EM/D.A Press 22/6/1999)

Um dos exemplos mais significativos de superação viria em 1999, em pleno lixão no município de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A equipe de jornalistas localizou a menina Bárbara, com longos cabelos e uma boneca no colo, brincando em meio à fétida montanha de detritos, rodeada por moscas varejeiras e urubus. Desde que saiu publicada a matéria, na época vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo 1999/Regional Centro-Oeste, além de concorrer aos prêmios Ayrton Senna, Abrelpe e Líbero-americano, a família de Bárbara foi adotada financeiramente por empresários de Varginha, no Sul de Minas, e nunca mais precisou pisar no lixão.

A atitude dos empresários Marcos e Moacir interrompeu a saga de três gerações da mesma família, então conformadas a tirar a própria subsistência da reciclagem, além de dar fim ao lixão, mais tarde transformado em aterro sanitário. Hoje com 26 anos, casada e mãe de um menino de 7, Bárbara emocionaria os leitores ao ser fotografada de novo. Procurada atualmente, ela negou-se a conceder entrevista ao EM. Com muita naturalidade e confiança na voz, Bárbara diz que se orgulha de sua história de vida pregressa, mas que prefere colocar uma pedra sobre o passado e investir em novos planos, os quais se recusa a revelar.

#Somostodosromerinho

Em tempo recorde, exatos 13 dias, a campanha com esse slogan atingiu arrecadação próxima a R$ 1 milhão, destinada a financiar o tratamento alternativo contra a leucemia linfoblástica aguda de Romerinho. Então um estudante de 17 anos, estava ameaçado de perder a vida em pouco tempo caso não se encontrasse novas formas de tratamento. Em maio, faz dois anos que Romerinho foi aceito no hospital de referência contra tipos raros de câncer, o City of Hope, na esperança de alcançar a cura para seu tipo específico de enfermidade.

“A doença do meu filho é teimosa e tornou a reincidir em julho do ano passado, mas Romerinho conseguiu vencê-la mais uma vez”, afirma o pai dele, Romero Fernandes, com a voz alterada pela emoção. Feito o depósito de R$ 1 milhão na conta do hospital, é ele quem mantém a família morando no exterior, apenas com os rendimentos provenientes de sua papelaria. Na época, Romero fez questão de publicar o comprovante do depósito milionário na conta do City of Hope, exigido como garantia para dar início ao tratamento.

Em dezembro passado, Romero viajou para passar o Natal com a família nos Estados Unidos e acompanhar de perto o caso do filho. “Ele é um dos únicos no mundo a conseguir vencer o câncer na medula nestas condições, tendo rescindido por três vezes, mesmo após ter sofrido um transplante de medula”, explica o comerciante. Além de apoiar incondicionalmente o filho na luta contra o câncer, Romero sonha em retribuir a confiança a ele depositada pela sociedade, trazendo uma filial do City of Hope para o Brasil. Em janeiro último, a direção do hospital recebeu finalmente uma comissão brasileira encabeçada por Romero.


Morte e vida

Do Norte de Minas, vem outro exemplo de história revelada pelo EM que conseguiu mudar o destino de crianças. A Fundação Sara, que completa 20 anos em 2018, tornou-se referência no apoio à criança com câncer, com sede em Montes Claros e uma unidade em BH. A instituição foi criada pelo casal Álvaro Gaspar Costa e Marlene Cavalcanti em homenagem à filha, Sara, que morreu em decorrência de leucemia.

Intitulada “Quando a morte dá sentido à vida”, a reportagem publicada em fevereiro de 1999 narrou o drama vivido pelo casal com a doença e a morte da menina, aos 4 anos. Colegas de trabalho e amigos da família chegaram a arrecadar recursos para o transplante de medula, mas Sara não conseguiu esperar a cirurgia.

Álvaro e Marlene decidiram usar os R$ 98 mil na criação de uma instituição dedicada a ajudar outros pais de crianças com câncer. “O Estado de Minas nos deu voz, divulgando a proposta da instituição em nível estadual. A partir daí, o nosso trabalho ficou conhecido”, afirma. A entidade assiste 170 crianças e adolescentes e conta com cerca de 200 voluntários.

Paixão nacional

Embarque do menino Matheus Teodoro de Oliveira para Miami (EUA)(foto: Bruno Furtado/EM/D.A Press)
Embarque do menino Matheus Teodoro de Oliveira para Miami (EUA) (foto: Bruno Furtado/EM/D.A Press)


“Huhuhu, a gente vai pra Miami!”, reagiu, aos pulos, o pequeno cruzeirense Matheus Teodoro Oliveira, a ponto de quase se desplugar dos fios da máquina que o mantém vivo desde o nascimento, sem conter a alegria ao saber que embarcaria em direção aos Estados Unidos para fazer um transplante de intestino no hospital Jackson Memorial Medical, em Miami, em junho de 2016. Aos 7 anos na época, o garoto tem displasia neuronal intestinal, doença que o impedia de se alimentar por vias naturais. Ele é também deficiente visual, em função de uma catarata congênita e do descolamento de retina nos dois olhos.

A sobrevida do transplante multivisceral pediátrico no Jackson Memorial Medical, onde atua o médico brasileiro Rodrigo Vianna, que já realizou em torno de 400 deles, é de 90% em um ano. Atualmente bem de saúde, Matheus fez o transplante e viajou para Miami graças ao custeio das despesas pelo governo brasileiro, obrigado a tomar providências para salvar a vida do garoto por intermédio de ação judicial e da intensa campanha de mobilização #Juntospelomatheus, movida pela mãe dele, Gecilene, com a participação do Cruzeiro Esporte Clube e grande repercussão nas edições do EM.

Cruzeirense, Matheus ganhou notoriedade nacional em outubro de 2015, quando entrou em campo com os jogadores do clube na partida contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro. Com o Mineirão lotado, ele teve o nome cantado pelos torcedores celestes. Desde então, a causa foi abraçada por jogadores, dirigentes, personalidades de diversas áreas e pessoas comuns, que fizeram doações para a campanha, que chegou a arrecadar cerca de R$ 700 mil.

Super-herói

“Você não sabe minha alegria quando o Mel grita lá da porta: ‘Mãe, vou ali e já volto!’”, afirma Áuria Júnia Teixeira, de 38 anos, mãe de Melchior Júnior Felipe Teixeira, agora com 21 anos, apelidado carinhosamente de Mel pela família. Ela assistiu ao filho viver mais da metade da vida no hospital e, mesmo dentro de casa, preso ao perímetro restrito ao alcance do respirador. Após ganhar a cadeira motorizada doada pelo Galo, o clube de futebol do coração de Melchior, em setembro de 2015, depois de reportagem veiculada no EM, a vida do jovem torcedor melhorou bastante em qualidade e também em autonomia. “Eu... estou bem... de saúde”, diz Melchior, interrompendo a frase com pausas necessárias para utilizar o aparelho respirador.

Ainda não está completo o sonho de Mel, que costumava quase cair da cama ao sonhar que era um super-herói e que estava voando ou andando em alta velocidade, pronto para salvar a si próprio e ao mundo. Mesmo tendo recebido a doação da cadeira motorizada, avaliada em cerca de R$ 17 mil, Melchior não consegue se deslocar sozinho até a escola, pois a mais perto está situada a cerca de meia hora de casa, inviabilizando o deslocamento do rapaz, que precisa estar ligado 24 horas ao oxigênio.

Jornada do bem

Há 55 anos, nascia a Jornada pelo Natal do Menor – hoje, Jornada Solidária Estado de Minas. Com a iniciativa, o jornal se tornou a primeira empresa privada com um programa social. Mais de 10 mil instituições e 2,5 milhões de crianças já foram beneficiadas pelo projeto. Até 2003, o objetivo era proporcionar um Natal para os pequenos. Com visão no futuro, houve ampla reestruturação, e a Jornada passou a priorizar a qualidade de ensino, educação e aprendizado de meninos e meninas de até 6 anos.

O programa realiza reformas patrimoniais em creches comunitárias de Belo Horizonte, ampliando os espaços com novas salas de aula, brinquedotecas e bibliotecas e readequando banheiros, cozinhas e refeitórios. Lazer e conforto também estão no foco, com a construção de parquinhos e salas multimídia e a renovação de mobiliário, eletrodomésticos, eletrônicos, brinquedos e livros. Tudo é feito considerando a garantia da acessibilidade. Já foram entregues 35 creches completamente reformadas.


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