Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

O pior inimigo da humanidade é e sempre será o próprio homem (estúpido)



Orbitando uma estrela inimaginavelmente gigante, com dia, mês e hora para explodir, em meio à tempestades ininterruptas de milhões de corpos celestes imensos, ‘raspando’ nossas franjas em velocidades hipersônicas, a Terra não corre risco de extinção maior do que com as merdas que fazem os próprios seres humanos, espécie dominante do planeta.





A despeito de todo o poder que nos traz o posto de Reis do Universo, apenas por mera curiosidade, é certo que a civilização mais bem-sucedida do mundo é a das formigas, com suas inúmeras espécies, formando nada menos do que 20% da biomassa do planeta, sendo os habitantes mais longevos e organizados que temos notícia. Isso, sim, é sucesso.

Humanos, tal qual nos conhecemos, para ser extremamente simplista, simplório e resumista, há, sei lá, cinco ou seis séculos, no máximo, exagerando muito, talvez, para satisfazer os mais críticos, mil anos, dois mil anos, certamente são o topo da cadeia alimentar. Pergunto: isso é - e será - suficiente para nos salvar de nós mesmos?
EXTINÇÃO

- Leia: Twitter encerra conta de congressista por falsa informação sobre COVID-19 

Durante a chamada Guerra Fria, em meados dos anos 1960, a humanidade esteve realmente à beira do fim. Por um detalhe ou outro, felizmente, um russo idiota e um americano imbecil frearam seus dedinhos apocalípticos e não decretaram o fim da nossa existência. Mas, até quando seremos ameaçados por nossos semelhantes?

A resposta é simples, direta e alarmante: sempre! Como dominantes, apenas nós mesmos seremos capazes de nos subjugar a ponto da extinção total. Vírus e/ou outras doenças mortais são - ao menos até hoje, de acordo com nosso conhecimento atual - plenamente, como direi?, controláveis. E tal assertiva só comprova minha tese.

Ora, o maldito novo coronavírus só não está ‘morto e enterrado’ graças à estupidez humana. Fôssemos capazes de nos distanciar adequadamente, usar máscaras o tempo todo, nos vacinar etc. e esta pandemia já teria encontrado seu lugar na história. Notem: mediante regras, responsabilidade e segurança mínima, ‘quase tudo’ está permitido.




NETFLIX

O filme Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up), com Leonardo Dicaprio e Jennifer Lawrence, em cartaz na Netflix, tem feito um sucesso danado não por seu enredo ou outros atributos técnicos, mas pela forma com que mostra o estágio e o tamanho da imbecilidade humana, de forma brutalmente simples, direta e real. Um verdadeiro soco no estômago!

Diante da iminente colisão de um asteróide com a Terra, e a consequente extinção da humanidade, negacionismo e futilidade onipresentes e dominantes nas redes sociais imperam sobre quaisquer tentativas de ‘cura’, ao mesmo tempo em que a mediocridade política conduz e manipula o destino do planeta - sim; há Bolsonaros por todos os lados.

Outro aspecto implacável - e deplorável - de nossos tempos, abordado no filme, que ainda resiste sob a conduta machista de grande parte dos homens, é a distinção entre gêneros, como se uma mulher, para ser respeitada, necessitasse de doses cavalares de poder, e não possuindo, só encontrará lugar na beira do tanque ou pilotando um fogão.   

EINSTEIN

- Leia: Algumas questões sobre 'Não olhe para cima'

O filme, uma sátira, não é engraçado, pois extremamente perturbador, ao refletir na tela o espelho das sociedades atuais - a maioria delas, ao menos. É por demais irritante perceber, bem ao nosso lado, gente que acredita na planitude da Terra ou em chips de dominação em massa, dentro das vacinas contra o coronavírus - uma ‘arma biológica chinesa’.    

Einstein, certa vez, disse: ‘duas coisas são infinitas; o universo e a estupidez humana. E sobre o universo, ainda não tenho certeza’. Eis aí. O gênio viveu de 1880 a 1955 e já sofria na pele os efeitos da ignorância reinante à época. Imagino o que não sentiria hoje, em tempos de Twitter e WhatsApp, coitado. Certamente, seria mais um ‘cancelado’.

O bicho-homem comum precisa ser medíocre, imbecil, pois, do contrário, teria de se encontrar com a realidade nua e crua de um mundo cruel; de uma existência solitária - mesmo que jamais só -; e de uma angústia e dor insuperáveis e terríveis, diante da única certeza da vida: a morte! Daí a fuga para as manadas, que é o que não falta, aliás.




RELIGIÃO

Pior ainda, e contribuindo para a disseminação descontrolada da estupidez, são as religiões mais novas do que muitos uísques por aí. Ou mesmo as mais antigas, onde extremistas e fundamentalistas se apropriam da ‘narrativa’ e se declaram porta-vozes de Deus ou de figura sagrada equivalente. Em um mundo desesperado, fiéis são presas fartas e fáceis.

Hoje, em nome de Jesus, por exemplo, não se usa máscara ou não se toma vacina. Em nome de um livro, escrito por homens, e não por Deus algum, investe-se, com fúria, contra homossexuais. Ainda há uma legião de centenas de milhões de terráqueos dispostos a matar e a morrer por suas crenças, tal qual ocorreu na idade média.

É somente graças a uma invenção relativamente nova, um tal ‘contrato social’ - em risco, sim, mas ainda presente em boa parte das nações -, que determina deveres e direitos, regras e leis, e prevê um mínimo de ordem no caos, que almoços em família não estão terminando em facadas de prata e taçadas de cristal nas cabeças ocas dos convivas.




2022

Este ano será especialmente brutal e sanguinário no Brasil. As eleições presidenciais de outubro, ao que tudo indica, serão disputadas por dois exemplares do que há de pior na civilização moderna. Dois mentirosos, manipuladores, populistas, sedentos por poder e dinheiro, idolatrados por milhões de medíocres, obtusos e violentos seguidores.

Assistiremos a lulistas jurarem que o meliante de São Bernardo é uma vítima inocente de um juiz corrupto. Assistiremos aos fanáticos do bolsonarismo, a despeito das rachadinhas e mansões, jurarem que o ‘mito’ é mais honesto do que Madre Teresa de Calcutá. E quanto mais próximos da derrota, mais virulentos e falaciosos se tornarão um dos dois.

Esmagados, em meio à predominância das hostes imbecis, estaremos eu e a minoria dos viventes que:
1) Chegaram até aqui;
2) Compreenderam mais do que dois parágrafos;
3) Não idolatram políticos;
4) Preferem a imprensa, com seus erros e defeitos, ao WhatsApp;
5) Acreditam na Ciência e na Medicina;
6) Mantêm a fé e Deus nos devidos lugares.

A boa notícia é: os imbecis não acabarão com o mundo em 2022. Já a má notícia é: eles continuarão tentando. Bora resistir, moçada! Com toda nossa força.  




audima