Jornal Estado de Minas

TURISMO E NEGÓCIOS

Portugal, Brasil e Turistas



Por Isabella Ricci

É fato que o personagem principal do turismo é o turista. Sem ele não existiria o setor do turismo. E por ele, o mundo foi se adaptando para que uma prática que está na essência do ser humano, se tornasse uma atividade organizada capaz de movimentar a economia de um país.



O deslocamento existe desde que o homem existe. Afinal, por diversos motivos, sempre saímos de um ponto a outro. Entretanto, desde o século XIX descobrimos que o deslocamento não precisa ser apenas por motivos de saúde, negócios ou visitas a parentes. Descobrimos que o deslocamento – que agora chamamos de turismo – pode ser motivado também para o lazer. Essa descoberta fez o homem enxergar as viagens sob uma nova perspectiva, e naturalmente, diversos tipos de negócios que atendem ao turista foram e são criados ao longo dos tempos.

Considerando que a revolução industrial aconteceu um século antes, e ainda é objeto de estudo, sobre movimentação dos mercados e tantos outros estudos, imagine para o turismo, como setor comercial. É uma atividade que é pensada como negócio há pouquíssimo tempo. Os números são complexos de serem avaliados, e fazer uma engrenagem que precisa de excelência do setor público e do setor privado é uma equação complicada. Neste sentido, se formos analisar a linha histórica de como o mundo evoluiu, no turismo não temos novidade nenhuma. Tal qual o velho continente foi precursor de várias atividades, no turismo não é diferente.

Nesta série sobre Portugal, temos a oportunidade de comparar com o Brasil diversos aspectos do turismo. Mas essencialmente pensando o turista como o ator central da nossa jornada. O volume de turismo em um país, estado ou região é medido pelo seu fluxo turístico, que nem sempre é fácil de se medir metodologicamente. Mas um simples observador é capaz de olhar e perceber se um local recebe poucos ou muitos turistas, se o destino está focado em turismo de massa ou não. E ainda, fazendo a conta que chamamos de “conta de padeiro” já é possível ter uma ideia se o turismo de fato acontece ali ou não.



Portanto, posso afirmar que, em Portugal, o turismo de fato acontece. Em 2020, no ano da pandemia, o país recebeu 8,8 milhões de turistas, o que significou uma movimentação econômica de 1,4 bilhões de euros, que representou uma queda de 66,3% em relação a 2019, antes da pandemia, de acordo com o Turismo de Portugal que é a autoridade turística nacional de Portugal, integrado ao Ministério da Economia e do Mar. 

E no Brasil? O turismo acontece? Em 2021 o país europeu fechou o ano com mais de 14,5 milhões de turistas, o que significa metade dos turistas em 2019, antes da pandemia. Já no Brasil, saímos de 6,3 milhões de turistas em 2019 para 2,1 milhões em 2021. Considere ainda que a extensão territorial de Portugal é de 92.212 km2 e a do Brasil, 8.516.00 km2. Só o estado de Minas Gerais ocupa 586.528 km2 do território brasileiro, o que significa que caberiam pouco mais de meia dúzia de “Portugais” dentro de Minas Gerais.

Sim, os números assustam. Parece que estamos engatinhando no turismo. Porém, é importante entender que as dimensões continentais do Brasil dificultam a execução de projetos e investimentos no setor. O Travel BI de Portugal apresenta números de 5 regiões que concentram o fluxo turístico do país: Algarve, Alentejo, Lisboa, Norte, Madeira, Centro e Açores. Já no Brasil, de acordo com o site do Ministério do Turismo são 322 regiões turísticas reconhecidas, sendo só em Minas Gerais 44 regiões turísticas reconhecidas pelo Ministério do Turismo e certificadas pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo do estado.



Ou seja, as dimensões dos investimentos são igualmente proporcionais às dimensões territoriais. Portanto, realmente não adianta importar o que Portugal faz no turismo, mas sim como eles pensam e planejam o turismo. O Brasil tem plenas condições de avançar no turismo como uma das principais atividades econômicas do país, favorecendo os pequenos empreendedores, fazendo com que eles transformem o turismo em uma grande S/A para o Brasil.

O Sebrae é uma das instituições que investem em toda a complexa cadeia produtiva do turismo. Tal qual o governo estadual direciona esforços para atuar tanto na infraestrutura turística como na ponta promocional, afim de termos como resultado o já conhecido fluxo turístico. Neste contexto, esperamos que este texto fique obsoleto o mais breve possível, pois aí saberemos que o turismo por aqui, caminha par e passo com nossa irmã Portugal.