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COLUNA

Turismo: Como consumimos nossos destinos históricos

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Uma coisa que sempre gostei de fazer em Ouro Preto é chegar na Casa de Gonzaga e ficar ali na sacada, de frente para a Igreja de São Francisco e a feirinha de pedra sabão. Ficar olhando a vida passar, coisa de mineiro mesmo, mas que cada vez temos menos tempo para fazer.



Nessas ocasiões, sempre me chamam a atenção as excursões escolares. Crianças e adolescentes, normalmente guiados por um professor, andam de um lado para o outro, entram e saem rapidamente dos atrativos. 

Também já fui aluna e já fiz essas excursões. Infelizmente, elas são mais um passeio do que estudo. Aliás, elas deveriam sim ser passeio, mas passeio com conteúdo. Viajar também é aprender, mas creio que ainda precisamos aprender a viajar. Aprender que aprender coisas novas é legal, aprender que locais que contam história estão contando as nossas próprias histórias. E mesmo que não sejam as nossas histórias, o que nos forma como pessoas são as nossas vivências e como elas são absorvidas por nós.

Não gosto muito de importar experiências, mas é difícil não comparar com alunos visitando museus na Europa, por exemplo. Lembro da primeira vez que vi um grupo enorme de alunos adolescentes chegando em uma excursão fora do Brasil. Foi no Museé d’Orsay em Paris. Fiquei com medo. Pensei, 'minha visita está acabada. Vai ser muito barulho, todos falando ao mesmo tempo e não vou conseguir chegar perto de nenhuma obra'. Em menos de cinco minutos eu já estava envergonhada da minha conclusão precoce. Estavam todos ali, concentrados na professora que pelo jeito dominava bastante impressionismo. 





Os alunos estavam atentos, muitos anotando. E quando a professora abria para perguntas, elas vinham aos montes. Fiquei ali um tempo, observando, como se aquela cena fosse parte do atrativo. Como se eu estivesse na janela da Casa de Gonzaga, em Ouro Preto. Não há como não comparar com a forma como consumimos nossos atrativos históricos. Muitas vezes entramos e saímos, sem entender qual história estava sendo contada ali.

Talvez seja necessário nos envolvermos mais com os destinos antes de visitarmos. Muitas vezes nos preocupamos mais em planejar o meio de transporte e hospedagem, do que efetivamente com o que vamos fazer em determinado local. Esse comportamento se relaciona diretamente com o texto que falei sobre a importância do investimento em cultura e turismo, sobre como a educação lá na base vai refletir no comportamento futuro, e no relacionamento com atrativos históricos ou naturais. 

Por ora, creio que os melhores investimentos seriam em atrativos culturais cada vez mais interativos e com consumo criativo. E da nossa parte, como usuários, podemos ir mudando a forma como nos relacionamos com os lugares que pretendemos visitar. E temos a ferramenta perfeita para isso: a internet. Além dos blogs de viagem, que são muito legais, que tal começar a visitar a história do destino antes de ir?! Existem também diversos blogs de história, páginas de fotos antigas, entre tantos outros conteúdos. 

Outro hábito interessante, é começar a visitar os atrativos da sua cidade. O que precisa mudar essencialmente é a forma como olhamos para os nossos atrativos histórico-culturais, e a forma como percebemos o que está sendo contado ali. Se entendermos que turismo histórico-cultural não é apenas uma visita, mas sim uma experiência, adultos, crianças e adolescentes irão desfrutar cada vez mais e melhor da nossa história.