A agroindústria no rancho, que tem 200 metros quadrados, com câmaras frias, caldeiras e demais instalações necessárias para atender à legislação, conta com 200 animais, entre cabras e bodes -  (crédito: Laticínio Chaparral/Divulgação)

A agroindústria no rancho, que tem 200 metros quadrados, com câmaras frias, caldeiras e demais instalações necessárias para atender à legislação, conta com 200 animais, entre cabras e bodes

crédito: Laticínio Chaparral/Divulgação

Dos 853 municípios mineiros, mais de 500 produzem queijo, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). Nessa toada, uma família vem se destacando na fabricação da iguaria no Rancho Chaparral, localizado em Santo Antônio do Aventureiro, na Zona da Mata mineira. Os queijos finos fabricados a partir do leite de cabra são comercializados na região e vendidos para Juiz de Fora, que recebe maior parte do carregamento, e Leopoldina.

Agora, a técnica em Laticínio Isabela Schettini Monteiro Neto, de 51 anos, e a filha dela, a médica veterinária Marina Monteiro Neto, de 29, aguardam o recebimento do selo do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA) para levar os queijos da agroindústria familiar para grandes mercados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Em um futuro próximo, mãe e filha pensam em tornar o laticínio um ponto de visitação turística na região de Santo Antônio do Aventureiro.

A Emater-MG auxiliou na organização da documentação exigida para o registro da unidade no órgão de inspeção sanitária, como o projeto arquitetônico, memorial descritivo econômico, sanitário e de construção do espaço, além da elaboração do manual de boas práticas de fabricação, dos programas de autocontrole e do processo de rotulagem dos produtos.

Ao Estado de Minas, Isabela conta que ela e o marido, Jaci Toledo Neto, de 58, deram início, em 2005, à criação de caprinos para produção de leite. Em 2008, o casal iniciou a produção dos queijos para atender, a princípio, à demanda de familiares e amigos. “Jaci sempre foi meu maior incentivador e, certo dia, ele me questionou sobre iniciar a fabricação. Um criador de cabras no Sul de Minas me forneceu a primeira receita. Depois, peguei outras e, algumas vezes, o queijo dava certo, mas em outras não. Em 2007, iniciei o curso técnico em Laticínios, em Leopoldina, que durou dois anos e foi fundamental para o meu aprimoramento. Com a prática, outros cursos e o passar dos anos, os queijos hoje são maravilhosos. Graças a Deus, todos que experimentam gostam muito”, diz orgulhosa.

A agroindústria no Rancho Chaparral, que tem 200 metros quadrados, com câmaras frias, caldeiras e demais instalações necessárias para atender à legislação, conta com 200 animais, entre cabras e bodes. Lá são feitos queijos de massa láctica. Eles dão origem ao boursin, tipo mais cremoso também comercializado no formato de bolinhas imersas no azeite e conhecido como petit fromage.

Outra variação é o rolinho aventureiro, um tipo maturado com penicillium candidum feta, mesmo mofo usado para fabricação do queijo brie. Já o do tipo caprino da mata é feito com processo de maturação de pelo menos 30 dias. Hoje, no rancho são produzidos entre 200 e 300 litros de leite por dia, o que equivale à fabricação, também diária, de 25 a 40 quilos de queijo. “Tudo tem dado certo. Embora exista um pouco de preconceito em relação ao queijo de leite de cabra, as pessoas acabam se surpreendendo depois que experimentam. Então, nosso negócio tem avançado”, completa Isabela.

“Todos os dias, pela manhã, faço a ordenha das cabras entre 5h e 6h e levo o leite na caminhonete para o laticínio. Priorizamos muito a qualidade da nossa matéria-prima e não usamos leite de outros produtores, já que temos uma produção que atende nossa demanda, sendo possível aumentá-la, caso seja necessário”, explica a técnica em Laticínio, acrescentando que, além do marido, contou com apoio da filha, pois ela assumiu as diligências para que a família conseguisse de fato o selo Sisbi-POA, fundamental para levar a produção para fora do estado.

Formada em medicina veterinária pela PUC Minas, Marina se tornou mestre em clínica e reprodução animal pela Universidade Federal Fluminense e ajuda os pais a tocarem o negócio. “Realizei o experimento de mestrado no nosso empreendimento ao seguir um protocolo para a indução da reprodução dos animais. As cabras que utilizamos são da raça saanen, e elas ficam durante 60 dias em luminosidade artificial antes de começarem a entrar no cio por meio dessa indução a cada 10, 15 ou 20 dias. Ao usar técnicas de inseminação artificial, o intervalo de tempo precisa ser reduzido, deixando-o mais sincronizado. No mestrado, então, a gente fez essa sincronização nas cabras com o uso do hormônio prostaglandina, que não tem descarte no leite”, explica a médica, que também coordena as partes financeira e administrativa do Rancho Chaparral.

Apoio a agricultores familiares

Em 26 de outubro, o governo de Minas lançou o Programa de Capacitações Temáticas em Apicultura, Agricultura Irrigada, Fruticultura e Queijo Artesanal para beneficiar 1,5 mil agricultores familiares da área de atuação do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene). A iniciativa conta com R$ 1,2 milhão de investimento proveniente de emenda parlamentar, com intermédio do Idene e do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional.

O contrato assinado entre a Idene e Emater-MG estabelece a promoção de oito encontros técnicos para treinamento dos profissionais da empresa pública que irão ministrar os cursos, além de cem capacitações presenciais para produtores rurais beneficiados pelo programa.

Pesquisa da Emater-MG aponta que a produção de queijos artesanais conta com cerca de 8 mil agroindústrias familiares em Minas Gerais. O destaque é o queijo minas artesanal, com mais de 3 mil agroindústrias. 

Minas tem destaque no Mundial do Queijo

O concurso de queijos e produtos lácteos do Mundial do Queijo de Tours, na França, garantiu ao Brasil na última edição, encerrada em 12 de setembro, 81 medalhas: 17 de ouro, 23 de prata e 41 de bronze. Na competição anterior, em 2021, o país levou 57 medalhas. Do total de 1.640 queijos avaliados, 288 foram feitos por 91 queijeiros de Minas Gerais e de outros 11 estados. Dez das 17 medalhas de ouro foram conquistadas por produtores mineiros. Antes disso, em 23 de julho, a cidade de Ipanema, no Vale do Rio Doce, quebrou novamente o próprio recorde de maior queijo minas do mundo, título conquistado e superado há mais de dez anos. O produto foi apresentado durante a 13ª Festa do Queijo, na Praça Coronel Calhau, no Centro da cidade. Desde 2011, a cidade realiza o desafio de produzir o maior queijo minas do mundo. Logo na estreia, o produto já chegou a 1.305 quilos. Pesado pelo Rank Brasil, representante do Livro dos Recordes no país, a produção deste ano tem medidas impressionantes: 2.727 quilos, superando o da última edição em 274 quilos.