A recente polêmica envolvendo o cantor Silva, que criticou publicamente a influenciadora Virgínia Fonseca, a cantora Luísa Sonza e o apresentador Serginho Groisman durante um show, acendeu um debate já conhecido nas redes sociais. Em questão de horas, o artista se tornou o epicentro de uma avalanche de ataques e julgamentos online, um fenômeno popularmente conhecido como "cancelamento".

Esse episódio serve como um espelho para um padrão de comportamento digital que se repete com frequência. Uma figura pública comete um erro, real ou percebido, e uma multidão virtual se mobiliza para promover um boicote e um linchamento de sua reputação. O processo é rápido, intenso e deixa marcas profundas não apenas em quem é alvo, mas também em quem assiste a tudo de camarote.
O que começa como uma crítica ou um pedido de responsabilização muitas vezes se transforma em uma onda de ódio desproporcional. A velocidade com que a informação se espalha e a facilidade de emitir opiniões, muitas vezes anônimas, criam um ambiente tóxico. Para a pessoa cancelada, o impacto vai além da carreira, atingindo diretamente a saúde mental de forma severa.
O fluxo constante de notificações com insultos, ameaças e mensagens de ódio gera um estado de alerta permanente. A pessoa se sente acuada, vigiada e julgada por milhões. Essa exposição massiva e negativa pode desencadear quadros de ansiedade aguda, ataques de pânico, depressão e, em casos mais graves, até mesmo ideação suicida. O sentimento é de isolamento e desamparo, como se o mundo inteiro estivesse contra ela.
O impacto em quem assiste
Engana-se quem pensa que apenas os alvos diretos sofrem. A audiência, que acompanha passivamente esses linchamentos virtuais, também sente os efeitos. A exposição contínua a discursos de ódio e à polarização extrema normaliza a agressividade e banaliza o sofrimento alheio. Cria-se uma cultura do medo, onde qualquer um pode ser o próximo a ser julgado e condenado publicamente.
Esse ambiente de vigilância constante pode levar as pessoas a praticarem a autocensura. O receio de emitir uma opinião que possa ser mal interpretada e se tornar o estopim para um cancelamento faz com que muitos prefiram o silêncio. O debate público empobrece, e o diálogo, que deveria ser a base das relações sociais, é substituído por um tribunal de sentenças rápidas e implacáveis.
Além disso, o consumo excessivo desse tipo de conteúdo negativo contribui para o aumento do estresse e da ansiedade geral. O cérebro humano não foi preparado para processar um volume tão grande de informações e interações sociais, especialmente quando carregadas de emoções negativas. O resultado é um esgotamento mental, conhecido como fadiga de empatia ou exaustão por indignação.
Crítica responsável versus assédio online
É fundamental distinguir o cancelamento, enquanto linchamento virtual, da crítica construtiva e da cobrança por responsabilidade. Apontar erros e cobrar posicionamentos de figuras públicas é um exercício válido e necessário para a sociedade. O problema reside no método e na escala que essas ações tomam na internet.
A linha é cruzada quando a crítica se desvia do fato e passa a atacar a pessoa de forma sistemática. O objetivo deixa de ser o debate ou a correção de um erro e se torna a destruição da reputação e o assédio moral. O que diferencia os dois são alguns pontos claros:
O Foco: A crítica foca na ação ou na fala problemática. O assédio mira a identidade, a aparência e a vida pessoal do indivíduo.
A Intenção: A crítica busca o diálogo e a responsabilização. O assédio busca a punição, a humilhação e a exclusão social.
A Escala: A crítica pode ser pontual. O assédio envolve um ataque coordenado e massivo, muitas vezes com ameaças.
Os algoritmos das redes sociais desempenham um papel crucial na amplificação desse fenômeno. Plataformas como Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok priorizam conteúdos que geram alto engajamento. Raiva e indignação são emoções que provocam reações rápidas, como comentários e compartilhamentos, alimentando um ciclo vicioso. Quanto mais polêmico o assunto, maior sua visibilidade, transformando desentendimentos em crises de proporções gigantescas.
O que é a cultura do cancelamento?
A cultura do cancelamento é um fenômeno social moderno, intensificado pelas redes sociais. Ele consiste em um boicote coletivo e massivo a uma pessoa, geralmente uma figura pública, após ela ter dito ou feito algo considerado ofensivo ou problemático.
Essa prática funciona como uma forma de ostracismo digital. O objetivo é retirar o apoio e a visibilidade da pessoa, afetando sua carreira e reputação. O processo ocorre de maneira extremamente rápida e em grande escala, com milhares de usuários participando do julgamento público.
Quais são os principais impactos na saúde mental de quem é cancelado?
Os impactos psicológicos para quem é alvo de cancelamento são profundos. A pessoa pode desenvolver transtornos de ansiedade severos, ataques de pânico e quadros de depressão. A avalanche de ódio e julgamento público gera um sentimento de humilhação e isolamento social.
Há também a perda da identidade profissional e pessoal, além do medo constante pela própria segurança e de seus familiares. Em situações extremas, o estresse e o desamparo podem levar a pensamentos suicidas. É um trauma que pode perdurar por anos.
Assistir a cancelamentos na internet também pode ser prejudicial?
Sim, ser um espectador frequente de cancelamentos também afeta a saúde mental. A exposição constante a discursos de ódio e agressividade pode aumentar os níveis de estresse e ansiedade. Gera um clima de medo, onde as pessoas temem ser as próximas vítimas por qualquer deslize.
Esse ambiente tóxico também pode levar à fadiga de empatia, que é um esgotamento emocional causado pela exposição excessiva ao sofrimento alheio. O debate público se torna polarizado e a capacidade de diálogo diminui, pois o medo de errar supera a vontade de participar.
Como se proteger dos efeitos negativos das redes sociais?
Para se proteger, o primeiro passo é ter consciência do seu tempo de tela e do tipo de conteúdo que você consome. É importante fazer uma curadoria do seu feed, deixando de seguir perfis que promovem ódio e polêmicas constantes.
Estabelecer limites de uso dos aplicativos e fazer pausas digitais, os chamados "detox", é fundamental. Priorize interações na vida real e lembre-se que o ambiente online é, muitas vezes, um recorte distorcido da realidade. Focar em conteúdos que agregam valor e bem-estar ajuda a manter um equilíbrio saudável.