Estudo da Fundação do Câncer, divulgado esta semana, revela que cerca de 6 mil casos de câncer relacionados ao HPV (papiloma vírus humano) no Brasil poderiam ser evitados por meio da prevenção primária a cada ano. A publicação “O impacto do HPV em diferentes tipos de câncer no Brasil” mostra que são estimados 17 mil casos de câncer de colo do útero em um ano, o tipo mais frequentemente associado ao HPV.

Foram analisados cinco tipos de câncer: orofaringe, ânus e canal anal, vagina, vulva e pênis. A análise do perfil dos pacientes com algum desses cinco tipos de câncer revela que a maioria, considerando homens e mulheres, tem mais de 50 anos (78%), baixa escolaridade (64%) e é negra (56% e 53%, respectivamente).


No entanto, a maioria dos pacientes já chega às unidades de saúde em estágios avançados da doença, com destaque para o câncer de orofaringe, tumor que se desenvolve em parte da garganta. No caso deste tipo, os pacientes são diagnosticados em estágios avançados da doença em todas as regiões do Brasil (homens, 88%; e mulheres, 84%).

Os dados apontam que as pessoas que chegam ao hospital com o diagnóstico em mãos, em sua maioria, são tratadas com mais de 60 dias, o que fere a Lei 12.732/12, que garante ao cidadão iniciar o tratamento dentro desse prazo após o diagnóstico da doença.


A Fundação do Câncer também alerta para a questão econômica. O não adoecimento por esses tipos de câncer, preveníveis em grande parte por meio da vacinação, poderia impactar os custos da saúde no Brasil, evitando assim 4,5 mil mortes/ano. Sem dúvida, a prevenção iria reduzir gastos com diagnóstico, tratamento e internações, inclusive abrindo espaço para o atendimento a pacientes com outros tipos de câncer no sistema de saúde.


Os dados da publicação reforçam a importância de estratégias eficazes de detecção precoce, tratamento rápido e acesso igualitário aos cuidados de saúde, tanto em termos de gênero, faixa etária e nível econômico. Além disso, ao observar informações sobre o tempo entre diagnóstico e tratamento, é perceptível a ineficiência do fluxo da rede de saúde. Devido às disparidades regionais, é fundamental desenvolver intervenções direcionadas para cada tipo de público e região brasileira.


Dito isso, medidas preventivas, no caso dos cânceres relacionados ao HPV, são cruciais. A boa notícia é que o Brasil dispõe da vacinação contra tipos relevantes do papiloma vírus, disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A partir dos 9 e até 14 anos, meninos e meninas podem tomar as duas doses gratuitamente, assim como pessoas de 15 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, além de pacientes transplantados e oncológicos.


Mas enquanto a sociedade não se despir de preconceitos, e isso começa na infância, os números continuarão ascendentes. O pensamento de que “meu filho (minha filha) não precisa se vacinar contra o HPV, porque está longe de ter relações sexuais” precisa ser transformado em “meu filho (minha filha) precisa se vacinar contra o HPV, porque o contágio é pele a pele e não necessariamente via relação sexual”.


Por ora, assistimos aos baixos índices de vacinação contra o HPV, que, no Brasil, são de 76% (primeira dose) e 57% (segunda dose) para meninas, e 62% (primeira dose) e 50% (segunda dose) para meninos.