Nos últimos 40 anos, as mudanças do clima, com o aquecimento e a ocorrência de eventos extremos no planeta, tornaram-se mais acentuadas. Não faltaram alertas sobre os impactos das alterações na vida de todos os seres da Terra. A voz dos cientistas, dos climatologistas e dos ambientalistas não foi, na devida medida, considerada pelas sociedades e pelos governantes. Manteve-se o nível de exploração, cada vez maior, dos recursos naturais, ignorando as consequências do comportamento predatório, sem preocupação de promover ações compensatórias, como a recuperação das áreas afetadas pelas atividades voltadas aos mais diferentes setores da economia.


Na próxima quinta-feira (30/11), em Dubai, a maior cidade dos Emirados Árabes, ao sul do Golfo Pérsico, começará a 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) e se estenderá até 12 de dezembro. Estarão reunidos líderes dos países que assinaram o acordo climático original da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1992, durante a Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro. Ao longo dessas décadas, os esforços e cumprimento de metas foram pífios. Isso se comprova com o agravamento contínuo dos fenômenos climáticos extremos que afetam os países e aprofundam as desigualdades socioeconômicas, deixando um lastro de fome, miséria e perdas de vidas em todos os continentes.


A expectativa é de que não será um debate fácil, ante os conflitos de interesses econômicos que estarão em jogo. Como construir um acordo para eliminar a emissão de gases de efeito estufa que aceleram o aquecimento global quando o petróleo é a base da economia dos Emirados Árabes e de outros países?
Recente relatório da Oxfam – Igualdade Climática: um Planeta para os 99% – mostra que “o 1% mais rico da população mundial produziu tanta poluição em 2019 quanto cerca de 5 bilhões de pessoas (dois terços da humanidade)”. O estudo avalia que “as descomunais emissões” dessa parcela mais rica em 2019 “são suficientes para causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor entre 2020 e 2100”.


Para alguns especialistas e observadores, os dados revelam uma incongruência em relação às decisões do Acordo de Paris, subscrito por 195 países em 2015, de redução em 43% das emissões de gases de efeito estufa por meio da eliminação das fontes fósseis de energia – petróleo, gases e queima de carvão –, como chave para conter o aquecimento global. Sem isso, avaliam, seria trafegar rumo ao colapso do planeta.
Tem sido alto o preço pago pela humanidade pela indiferença e pelo descaso em relação aos alertas. No Brasil, onde o negacionismo em relação à ciência é bem acentuado, ocorreram episódios gravíssimos. Em setembro último, no Rio Grande do Sul, os ciclones causaram danos imensuráveis em 100 cidades, deixando centenas de famílias desabrigadas e 47 mortes. Novembro chegou com uma onda de calor. Em algumas cidades, como o Rio de Janeiro, a sensação térmica foi superior a 58oC. Em todas as regiões do país, não foi diferente, provocando um desconforto antes não sentido pelas pessoas, levando várias à hospitalização e até à morte.


No setor produtivo, a agricultura, sobretudo o agronegócio, vê as projeções de colheita e faturamento frustradas, seja pela estiagem, seja pelas chuvas torrenciais. Os dois extremos – seca e excesso de água – vão repercutir na produção de alimentos e na elevação do custo de vida em um Brasil com mais de 21,1 milhões de famintos – pouco mais de 10% da população do país. Mais uma vez, o pantanal mato-grossense arde em chamas, com perdas inestimáveis do patrimônio natural que impactarão, como sempre ocorre, outros biomas.


Todos estudos e projeções indicam e reforçam os alertas do passado de que a vida na Terra depende da eliminação dos gases fósseis e de uma virada radical no sentido de adotar as fontes limpas de energia – solar, eólica, hídrica –, e de estancar os desmatamentos e quaisquer outras atividades hostis ao patrimônio natural. Nas mãos dos governantes está a solução para preservar e garantir a perenidade da vida no planeta. Cabe aos cidadãos, em todas as partes do mundo, pressioná-los pela decisão correta. n