Essa medicina, do olho no olho, da mão na mão e do calor no coração está se perdendo -  (crédito: Freepik)

Essa medicina, do olho no olho, da mão na mão e do calor no coração está se perdendo

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Colocar-se no lugar do outro é tarefa que exige exercício e prática. No dia a dia acelerado, muitas vezes ficamos imersos nos nossos próprios problemas e demandas e nos esquecemos que no nosso entorno, muitas vezes, as pessoas podem estar passando por situações mais sérias que as nossas.

Esse exercício de empatia é fundamental para um bom médico. Se colocar no lugar daquele que sofre, que sente dor, que tem medo e ansiedade é necessário para verdadeiramente conseguir ajudar. O que acontece muitas vezes com muitos médicos é que a rotina vai fazendo com que muitas situações, até mesmo as mais graves, sejam normalizadas. Essa normalização é ruim, pois aí se perdem as palavras de carinho e empatia que têm o poder de confortar e acalmar os pacientes.

Para os cirurgiões, o bloco cirúrgico é um lugar comum. Para o paciente, muitas vezes, pode ser a primeira experiência naquele local, que, tenho que admitir, pode ser amedrontador, cheio de aparelhos, dispositivos e pessoas de máscara. Por isso, acho que temos que exercer empatia. Temos que tentar nos colocar no lugar do outro como se aquela experiência fosse a nossa primeira.

Tento exercer a minha numa situação como essa falando com o paciente o que eu gostaria que um cirurgião falasse comigo na entrada do centro cirúrgico. Eu me apresento, apresento minha equipe, tiro as últimas dúvidas e falo explicitamente; “Fique tranquilo, estou aqui com você!”. Pode parecer simples, mas é algo que vejo que infelizmente falta na rotina de muitos colegas, por normalizar a situação, ser engolido pela rotina e faltar o exercício da empatia.

Esse é um dever diário que creio que devemos fazer em todas situações: no trânsito, na fila do supermercado, com nossos cônjuges, filhos e colegas de trabalho. Tentar pensar como o outro muitas vezes nos fazem ver que, em determinada situação, errados mesmo estávamos nós.

Gosto sempre de lembrar dessa frase muito famosa da medicina que aprendi com meu pai, também médico, que diz que nós médicos devemos curar às vezes, aliviar muito e confortar sempre. O conforto está na verdadeira humanização de qualquer atendimento. No entendimento que aquele indivíduo à nossa frente tem pai, mãe, filhos, ama e é amado, que seu sofrimento tem valor e deve ser tratado com respeito.

Essa medicina, do olho no olho, da mão na mão e do calor no coração está se perdendo, infelizmente, para aquela do tic-toc, da dancinha e da mercantilização agressiva da medicina. Nesse meandro, as vagas de doutorado ficam vazias, os cursos de marketing e gestão médica cheios e os pacientes sem saber se procuram o médico que tem mais seguidores ou aquele que verdadeiramente investiu em sua formação técnica e acadêmica. Acaba-se a empatia, ganha a indiferença pelo próximo.

“Quando seus pés não puderem mais caminhar, caminhem com o coração.”
João Paulo II