Dois pinheiros na neves -  (crédito: Pixabay)

Dois pinheiros na neves

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Um dia você é jovem. No dia seguinte, seu período reprodutivo terminou. A menopausa chega dando muitos avisos que a gente não vê. O corpo fala e a gente não escuta. Os sinais são muitos, mas a gente nunca percebe que é a perimenopausa que está nos atropelando. O ciclo menstrual vai ficando irregular, deixando a mulher com medo de ser gravidez. As alterações de humor e a dificuldade para dormir atrapalham nossa rotina, ainda assim, a gente só entende o que está acontecendo depois que, definitivamente, você para de menstruar.

Nesse final de ciclo reprodutivo, podemos ficar deprimidas, sem entender de onde vem aquela tristeza, aquela melancolia. A queda de hormônios aumenta o risco de depressão. O sono aparece durante o dia e desaparece no meio da noite. Menos sono, mais cansaço, menos libido.

As ondas de calor chegam para coroar o momento apocalíptico. Eu sempre soube dos tais fogachos, mas nunca ninguém tinha me explicado de que se trata de um calor que vem de dentro para fora, como se fossemos um vulcão entrando em erupção. Começa ali perto do diafragma e vai subindo com se fosse água fervente. A gente vai tirando a roupa e, se estiver nevando, a vontade é de correr pelada na neve. Então vem aquela transpiração com suor saindo por todos os poros, molhando o que ainda resta de roupa no seu corpo, e você sai da sensação de superaquecimento para o modo congelamento rápido. Vem um frio e você sai catando as peças de roupa que havia jogado longe.

O corpo muda, a gente ganha peso, mesmo passando a semana comendo apenas salada. E a gordura se acumula na barriga, no quadril, na papada. E o colágeno? Acho que evapora junto com o suor do fogacho, ou será que a gente perde até pela urina? Não é possível uma coisa desaparecer com tanta rapidez do nosso corpo! A pele fica seca, trincada, igual barro quando seca. O canto da boca fica arqueado para baixo, o cabelo cai. A gravidade se torna implacável.

Um dia, a gente se olha no espelho e não se reconhece. Que corpo é esse? De onde surgiram essas manchas no meu rosto? Dizem que deixar o cabelo natural envelhece. Ah, que ótimo seria se pintar o cabelo fosse a fonte da juventude. O cabelo é o de menos, o grisalho me dá uma sensação de poder. Difícil é reconhecer todo o resto quando a gente se olha no espelho. Para onde eu fui? Esse corpo não combina com as ideias que eu tenho na cabeça!

A vantagem é não mais sangrar todo mês, não sentir cólicas, não ficar com os seios doloridos e inchados, nem sentir todo o desconforto do período pré-menstrual. Pelo menos uma coisa tinha que prestar nesse processo!

Envelhecer é um processo natural, mas neste momento ele fica muito acelerado. Deveria ser mais fácil lidar com esse envelhecimento, mas os atravessamentos culturais dificultam muito! A menopausa é vista como uma fase que determina mudanças até no papel social da mulher. Culturalmente, o corpo jovem e fértil é o corpo ideal. O fim da fertilidade é como se fosse a data de validade de uma mulher, passou pela menopausa, ficou obsoleta, venceu, deixou de ser objeto de desejo. Deixar de ser objeto de desejo do outro mexe com o nosso psiquismo.

Entrar na menopausa é lidar com essas mudanças endógenas no corpo e seus efeitos no psiquismo. Lidar com a angústia de um período associado à entrada na velhice, associado às bruxas que eram caçadas na Idade Média. Você pode sentir falta de versões anteriores, mas elas não eram nem melhores, nem piores que a versão atual. É só diferente. A gente se torna feiticeira, como fez Rita Lee, vivendo sem medo do tempo, sem medo das rugas, sem medo do espelho. Fazendo do tempo nosso aliado.

“Ou você segue o caminho das peruas, ou das feiticeiras. As peruas perseguem a fonte da juventude e o grande inimigo delas é o tempo. Já as feiticeiras, o maior aliado delas é o tempo.” (Rita Lee)