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Estado de Minas

Projeto de lei barra obras de Guimarães Rosa nas escolas

Projeto pretende priorizar nas salas de aula uso apenas de livros escritos na norma culta. Proposta original previa a proibição, mas, alertado por colegas, autor aceita aliviar texto


postado em 20/04/2012 06:00 / atualizado em 20/04/2012 06:41

Na terra de Guimarães Rosa, escritor conhecido no Brasil e no mundo inteiro por retratar em seus livros a fala popular, a leitura de obras que fujam do padrão culto da língua portuguesa pode sofrer restrição. Projeto de lei (1.983/2011 ), pronto para ser votado na Assembleia Legislativa, determina que as redes pública e privada de ensino priorizem a adoção de “livros que não contrariem a norma culta da língua portuguesa”. O texto original da proposta, apresentada no ano passado pelo deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB), queria proibir o uso em toda sala de aula de livros didáticos, paradidáticos e literários com conteúdo contrário à norma culta, bem como com teor sexual e incentivos diretos ou indiretos à prática de atos criminosos.

A proposta só não foi adiante porque a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Legislativo alertou o autor sobre a polêmica que o texto iria causar e sugeriu que a palavra “proibir” fosse trocada por “priorizar” e que fosse eliminada a restrição legal de adotar na rede pública e privada de ensino material que contivesse “elevado teor sexual” e “incentivos diretos ou indiretos à prática de atos criminosos”.

O argumento da CCJ é de que é muito difícil definir esses conteúdos. “Seja pelo risco de se adotarem posturas que carregam excessiva carga ideológica, em um espaço que deve privilegiar a pluralidade cultural e o conhecimento isento da influência de posicionamentos de natureza preconceituosa, que é, por excelência, o meio educacional”, diz o parecer da comissão sobre o projeto. O relatório da comissão também alertou sobre a polêmica que envolve o ensino em sala de aula das variações da língua e das diferenças das linguagem falada da escrita.

Um abaixo-assinado contra o projeto do deputado circula desde ontem pela internet e conta com mais de mil assinaturas. O texto afirma que sua aprovação vai impedir os alunos de terem acesso ao “riquíssimo patrimônio literário brasileiro edificado no século 20, já que um traço comum à vasta e heterogênea produção literária nacional dos últimos cem anos é exatamente a subversão à norma culta padrão de nossa língua materna. Restaria proibida em nossas escolas a distribuição de livros da autoria de Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Mário de Andrade, para ficar em apenas três nomes de uma infindável lista de grandes autores que inclusive satirizaram o ensino da norma culta da língua”. O manifesto cita o famoso poema do modernista Oswald de Andrade, “Pronominais, que satiriza a norma culta da gramática, “do professor e do aluno”.

“Considerando que o ensino de Língua Portuguesa condizente com um Estado Democrático de Direito deve se pautar pela leitura crítica de textos de quaisquer gêneros discursivos, em vez de encontrar-se restringido por uma lei que representa indiscutivelmente um retrocesso aos regimes mais autoritários de nossa história (lembrando a censura executada pelo regime militar para proibir a circulação de diversas obras literárias acusadas de cometer as mesmas “violações” que o referido projeto menciona), manifestamo-nos contrários à aprovação do Projeto de Lei 1.983/2011”, finaliza o texto que propõe a não aprovação do projeto.

O autor do projeto se defende da acusação de tentar cercear a leitura de obras que não sigam o padrão determinado pelas gramáticas e diz que toda a polêmica em torno do assunto tem fundo eleitoral. Bruno Siqueira é pré-candidato a prefeito em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e sua principal adversária, a petista Margarida Salomão, pré-candidata pelo PT, é professora universitária no curso de letras e de linguística da Universidade Federal de Juiz de Fora. Para a professora de linguística da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Arabie Bezri Hermont, essa polêmica em relação ao ensino da norma culta e falada e suas diferenças é assunto superado dentro da universidade por todos que atual no ensino de literatura e língua portuguesa. “A escola por excelência tem de ensinar a língua escrita, mas não pode ignorar que a língua é viva, que  falar é diferente de escrever e isso tem de ser passado para o aluno”. A professora considera absurda essa restrição, principalmente em relação ás obras literárias, onde “tem licença para tudo”.


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