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Estado de Minas

Desde os tempos de JK, políticos recorrem a mães de santo e astrólogos para pedir proteção


postado em 31/12/2011 07:25

Brasília – Já passava alguns minutos das oito da manhã quando a mãe de santo Railda Rocha Pitta arriou o amalá para Xangô. Preparada com quiabo e camarão, a oferenda, também conhecida como caruru, é cozida todas as quartas-feiras no terreiro, em Valparaíso, Goiás, quando ela pede pela saúde de um dos mais notáveis filhos do orixá: Luiz Inácio Lula da Silva. Railda diz já ter preparado guias de candomblé para o petista e chegou a aconselhá-lo para que ele se protegesse dos adversários. Políticos de todo o Brasil, e de Brasília em especial, recorrem desde os tempos de Juscelino Kubitschek a mães de santo, astrólogos, videntes e paranormais. No vaivém espiritual, pedem de tudo: proteção, conselhos para ganhar eleições e, é claro, ajuda para escapar dos grandes escândalos de corrupção. Representante na região do terreiro de Mãe Menininha do Gantois, uma das mais importantes candomblecistas do país, Railda cultivou ao longo de seus 73 anos um rosário de políticos entre seus amigos, como os finados senadores Romeu Tuma e Antônio Carlos Magalhães. Foi com Lula, porém, que Railda mais ganhou prestígio. “No Planalto, fiz todo mundo cantar para Xangô.” A procura dos políticos por gurus é antiga. Juscelino Kubitschek não dava um passo sem consultar a vidente mineira Neila Alckmin. O pai de santo Bita do Barão, do município maranhense de Codó, é muito bem relacionado com a família do senador José Sarney. No Rio de Janeiro, o ex-prefeito Cesar Maia e o atual, Eduardo Paes, fizeram o município contratar durante seus três mandatos a Fundação Cacique Cobra Coral, nome de uma entidade que a médium Adelaide Scritori afirma incorporar para influenciar a meteorologia, afastando a chuva dos eventos turísticos da cidade. Mas poucos assumem publicamente sua relação com o transcendente. Temem perder os votos do eleitorado evangélico e católico conservador. Para manter a discrição, o sensitivo José Acleíldo de Andrade comprou uma casa no Lago Norte, em Brasília, apenas para atender políticos. De terno branco e uma pulseira de ouro cravejada de esmeraldas e brilhantes, o pernambucano Acleíldo veio do Rio, onde fez na TV o rinoceronte do Sítio do Picapau Amarelo. “Influencio muitas estratégias de marketing”, gaba-se. Sem revelar nomes, Acleíldo disse ter sido procurado por pelo menos um ministro recém-demitido por Dilma Rousseff. Para provar, pega um monte de papéis. Trata-se de um pedido da Polícia Federal de indiciamento de um conhecido lobista, envolvido em recente escândalo que levou à queda de um ministro. Afasta o documento e espalha as cartas de tarô pela mesa. “Vamos fazer de conta que você seja o Carlos Lupi. Tire três cartas”, pediu ao repórter, dias antes da queda de Lupi. “O que você vê? É uma figura sinistra, segurando um tridente. Mostra que ele não tem mais para onde correr”, disse, descrevendo o desenho da carta, o diabo. Virou a segunda carta, um Oito de Copas. “Ele está sendo acusado de ter desviado isso tudo que está aqui (aponta para os desenhos, que mostram potes de joias) .” Na terceira, sentenciou: “Aqui está. O mundo está pesado para ele”, disse. Era a carta O enforcado.


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