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Estado de Minas JANELAS PARA A INSEGURANÇA

Brasil nunca investiu e se empenhou para conter a ameaça real do terrorismo

Sem histórico de terrorismo e conflitos étnicos, Brasil terá teste de fogo durante os Jogos, mas, para especialistas, risco de ataques não é significativo. Organização é alvo de críticas


postado em 24/07/2016 06:00 / atualizado em 24/07/2016 08:09

Operação Hashtag, deflagrada pela PF, prendeu 11 suspeitos de planejar ataques terroristas no Rio(foto: Mario Angelo/Reprodução/Sigmapress/Estadão Conteúdo)
Operação Hashtag, deflagrada pela PF, prendeu 11 suspeitos de planejar ataques terroristas no Rio (foto: Mario Angelo/Reprodução/Sigmapress/Estadão Conteúdo)
Brasília - A diversidade cultural, a extensa área territorial e a tradição de ser um país amigável são qualidades deixaram o Brasil mais vulnerável a possíveis ameaças de ataques terroristas. Sem registros de atentados, o país nunca investiu e se empenhou em formar um time de inteligência realmente forte para conter a ameaça real com a vinda de delegações estrangeiras para competir na Olimpíada do Rio de Janeiro. Em contrapartida, ao menos 100 pessoas suspeitas de terrorismo estarão sob monitoramento constante durante os Jogos.

Somadas aos problemas que o país já enfrenta, a tradição do país intensificou os riscos de ataques. Isso porque o empenho do governo em trabalhar para o sucesso no megaevento não correspondeu. A poucos dias do evento, ainda há pendências que precisam ser finalizadas. Na última quarta-feira, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, anunciou que só nesta semana uma autoridade do Comitê Olímpico com poder decisório se reunirá com os ministros para os últimos ajustes. Aliado aos impasses cotidianos como criminalidade em alta, falta de infraestrutura e transporte público ineficiente, o Brasil enfrenta imbróglios pontuais: faz fronteira seca com 10 países — e o controle nessas áreas é ruim, o que possibilita entrada de armamento pesado e de drogas. “É muito difícil patrulhar uma fronteira com 10 países e por aí entram drogas, armas”, reforça o especialista em segurança pública e relações internacionais Pedro Rafael Azevedo.

Há pouco mais de 20 dias, a companhia aérea Avianca emitiu um boletim interno alertando para a possível fuga de um terrorista sírio para o Brasil. Ex-presidiário de Guantánamo acolhido no Uruguai como refugiado, Jihad Ahmad Diyab, de34 anos, estaria em solo brasileiro. A Polícia Federal evitou comentar o assunto. Mas o anúncio da companhia aérea reforça a tese de que as portas de entrada no país estão vulneráveis, por terra, pelo ar e pelo oceano.

O Brasil enfrenta também problemas como a falta de recursos financeiros para ampliar a estrutura humana e tecnológica. “As políticas em segurança pública não são prioridade e não são levadas a sério. Falta, por exemplo, políticas para barrar os altos índices de homicídios. Se fosse (prioridade) não teríamos uma enxurrada de armas e drogas entrando no país”, critica o doutor em segurança internacional e professor na University of Central Florida (EUA) Marcos Degaut. Ele ressalta que o último concurso público para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ocorreu em 2010. Além disso, o policiamento e a maneira como o país lida com as diferenças das carreiras nos estados é avaliada por especialistas em segurança como deficitárias. “Nossas polícias atuam de forma precária. Nossas polícias são mal pagas e não existe concurso público para a Abin desde 2010. São seis anos esperando com um número que já era defasado”, afirmou.

LOBO SOLITÁRIO Além dos pontos que deixam o país suscetível a possíveis ataques, entra em cena uma ameaça invisível: os lobos solitários. Eles não são identificados na ação de contrainteligência, que visa a fazer a prevenção. “É uma ameaça que você não sabe de onde vem”, pontua Pedro Rafael. No atentado de Nice, na França, o tunisiano Mohamed Lahouaiej Bouhlel dirigiu um caminhão em meio à multidão matando 84 pessoas. Ele era considerado amador, sem histórico de envolvimento terrorista. Especialista em segurança pública internacional, Carlos Brito avalia que o Brasil “desdenha” de iniciativas preventivas. O acesso a muitos órgãos públicos, por exemplo, ocorre sem que exista nem sequer detector de metais. Apesar disso, Carlos pondera que os EUA “é um país obcecado por segurança e investimento na área, e de tempo em tempo é alvo de ataque terrorista”.

As inteligências da Polícia Federal e da própria Abin fazem paralelamente — e também de forma conjunta — o monitoramento de pessoas suspeitas a fim de evitar ou impedir atentados. Com uma equipe reforçada por profissionais de outras áreas, esse monitoramento tende a dar conta da demanda para a Olimpíada. O trabalho resultou na prisão de 11 suspeitos em estados brasileiros entre quinta e sexta-feira.

Mesmo depois dessas prisões, o país mantém o monitoramento de pelo menos 100 suspeitos. Nem a Polícia Federal nem a Abin revelam ao certo o número para não atrapalharem as investigações. “Não há possibilidade de que não haja pessoas no Brasil envolvidas ou simpatizantes com terrorismo. É bem provável que esse numero seja bem maior que cem”, acredita Pedro Rafael.

FORAGIDO Dezenas de policiais federais e civis acreditam ter cercado o último dos 12 suspeitos de planejar atos terroristas no Rio que continua foragido. Na quinta-feira, a Operação Hashtag da PF prendeu 10 suspeitos de planejar ataques. Interceptações telefônicas descobvriram que Leonid El Kadre de Melo estaria na cidade de Vila Bela de Santíssima Trindade (MT). É a mesma localidade onde se entregou na sexta-feira o décimo primeiro investigado, que também estava foragido, Valdir Pereira Rocha.  Ele é apontado pelos investigadores como um dos mais engajados entre os integrantes de uma comunidade do Facebook onde foi mencionado o risco de realizar atentados durante os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, contra delegações de países que fazem combate ao Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Leonid tem passagens pela polícia e já esteve preso por homicídio qualificado. Ex-integrante de uma quadrilha que promovia assaltos em Tocantins, ele foi acusado de matar um comparsa do grupo por desavenças em função da partilha de um roubo.


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