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Estado de Minas

Praga em pastagens causa morte súbita do capim amazônico

Depois de décadas de desmatamento da Amazônia, praga em pastagens e fiscalização forçam produtores a preservar


postado em 26/12/2014 06:00 / atualizado em 26/12/2014 07:52

Étore Medeiros e Ana Pompeu

Em muitas áreas da Amazônia, o verde da floresta deu lugar ao pasto para alimentar rebanhos, o principal destino das regiões devastadas(foto: JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS)
Em muitas áreas da Amazônia, o verde da floresta deu lugar ao pasto para alimentar rebanhos, o principal destino das regiões devastadas (foto: JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS)

Brasília – “O pessoal fala que antigamente era fácil demais de formar a braquiária: derrubava o mato e estava pronto”, conta Aldo Danetti. O mato ao qual o pecuarista de 57 anos se refere é a floresta amazônica, e a braquiária é o tipo de capim mais comum na região. Ele é dono de fazenda de 480 hectares em Alta Floresta, no Norte de Mato Grosso. O local foi colonizado entre as décadas de 1970 e de 1980, com o incentivo dos governos militares sob o lema “uma terra sem homens para homens sem terra”. Derrubada a floresta, a matéria orgânica que “sobrava” por cima da terra era tão rica que o capim crescia em abundância.

Entretanto, de três a quatro décadas depois da substituição do mar verde florestal pela monocultura do capim, a natureza está dando o troco — para desespero dos criadores de gado. A principal e, muitas vezes, única fonte nutricional dos rebanhos amazônicos, o capim braquiária começou a sofrer a chamada “morte súbita”. Pecuaristas do Mato Grosso, Pará, Acre e Rondônia já sofrem com o amarelamento das folhas, que secam e morrem rapidamente. É o que mostra a segunda reportagem da série As agressões contra a floresta.

“Não tem como salvar. Parece até que é um fungo que dá na terra, e quando chove, ele se espalha. Quando eu precisava mesmo do capim, ele raleava”, recorda Danetti sobre as estações chuvosas, época de o gado ganhar peso para o abate. A explicação mais aceita é que a morte súbita da braquiária é gerada pelo encharcamento do solo, que reduz a oxigenação nas raízes do capim. Debilitada pela alteração da terra, ele fica suscetível à infestação de fungos, que se desenvolvem melhor no ambiente úmido e matam a planta. Depois de uma malsucedida tentativa de reformar o pasto, sem assistência técnica, há alguns anos, Danetti é hoje um dos criadores atendidos pelo projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono, do Instituto Centro de Vida (ICV), uma ONG de Mato Grosso.

Com a assistência técnica do ICV, Danetti reformou áreas atingidas pela morte súbita da braquiária. Calcário, cloreto de potássio, ureia e adubo são parte dos ingredientes usados para preparar a terra para outras variedades de forragem, mais resistentes e adaptadas ao solo amazônico, como o mombaça. “Esses capins são bons, mas mais exigentes”, pondera.

assistência Vando Telles, do ICV, coordenou o projeto-piloto que atendeu Danetti e outros criadores da região. Ele explica que com um ganho de peso mais rápido, o pecuarista recupera antes o investimento no rebanho; e com um pouco de ração por dia, o criador pode entregar ao frigorífico um animal com carnes de maior qualidade, e, em alguns casos, recebem mais por isso. “Para uma ONG entrar em uma fazenda e testar algo novo, não foi simples. O produtor não pagou nada, mas teve de abrir a fazenda. Eles deram a mão de obra, o maquinário e a terra. Nós entramos com os insumos e a assistência técnica. O custo disso ficou 50% para cada lado.”

Embora alguns criadores ainda prefiram derrubar áreas florestais para obter pastos mais vigorosos, a prática está a cada dia menos rentável na região. O aperto do monitoramento iniciou uma mudança na cultura dos pecuaristas da região. A dificuldade na venda vem do o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne, ação integrada do Ministério Público Federal, do Ibama, e dos maiores compradores de carne da região.

acordo A mudança veio em 2009 depois de uma multa bilionária a pecuaristas que tinham desmatado mais de 150 mil hectares no Pará e aos frigoríficos que receberam a carne do gado criado ao custo da degradação florestal. Hoje, ao assinarem o TAC, os frigoríficos assumem o compromisso de não adquirir animais oriundos de áreas de desmatamento. “Primeira etapa foi fazer com que o mercado assumisse a responsabilidade pelo meio ambiente que, como determinado pela Constituição, é dever de todos. Agora, o próprio mercado está desenvolvendo ferramentas para facilitar esse rastreamento da origem da carne”, comemora Marco Antônio Barbosa, procurador da República em Mato Grosso.


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