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Estado de Minas

Crise na Polícia Federal deixa alunos da Academia Nacional de Polícia sem aula

Rixa entre profissionais e direção da Polícia Federal leva ao afastamento de 14 instrutores, deixando 624 alunos sem curso de abordagem, armamento e tiro


postado em 27/04/2014 06:00 / atualizado em 27/04/2014 08:05

Brasília – Mais de 600 alunos do curso de formação da Polícia Federal, última etapa da seleção para ser admitido na carreira, sofrem com a falta de professores na Academia Nacional de Polícia (ANP). Eles estão sem aulas de abordagem, importante tópico sobre como se comportar em operações, e terão de repor as de armamento e tiro, que ficaram suspensas por quase três semanas. O problema surgiu depois que pelo menos 14 instrutores foram afastados de suas funções, no dia 9. Uma queda de braço entre os profissionais e a direção da instituição agrava a crise interna na PF, responsável pela segurança da Copa do Mundo, que começa em 45 dias, e no momento em que a corporação investiga casos de corrupção no alto escalão do poder.
O estopim das divergências se deu na solenidade de comemoração dos 70 anos da PF, em 28 de março. No teatro de arena que fica dentro da ANP, professores descontentes com a instituição baixaram a cabeça e permaneceram em silêncio durante a execução do hino da corporação. A manifestação silenciosa aconteceu logo depois de o diretor da PF, Leandro Daiello, ressaltar os feitos da instituição e afirmar que ela passa por um bom momento. Os profissionais quiseram demonstrar, além de insatisfação salarial, descontentamento com a estrutura hierárquica da Polícia Federal e com a falta de condições de trabalho como um todo.
O fato causou mal-estar entre os superiores, sobretudo porque havia, na cerimônia, algumas autoridades. Na semana seguinte, em 4 de abril, uma nova manifestação colocou os professores e a direção da ANP em pé de guerra. Os agentes decidiram se vestir com o uniforme preto da PF, usado em operações, no dia do hasteamento da bandeira. A direção da ANP anunciou a suspensão da solenidade e das aulas. A partir daí, os 624 alunos do curso de formação começaram a ser prejudicados em dois eixos específicos: Serviço de Armamento e Tiro (SAT) e Setor de Ensino Operacional (Seop).
Cinco dias depois do protesto com o uso de roupas pretas, um ofício do diretor da ANP, Sérgio Lúcio Fontes, determinou a remoção de 14 professores para outras unidades da PF em Brasília sob o argumento de que “macular essas solenidades com o pretexto de protestar contra o que quer que seja configura grave violação dos deveres de professor”. Além do grupo dos 14, mais cinco docentes que estavam em Brasília, mas lotados em outros estados, voltaram para as unidades de origem. O afastamento atingiu também professores que não eram vinculados à ANP, mas lecionavam na academia. Há casos de profissionais com mais de 30 anos de PF.

Abordagem Os profissionais se dizem perseguidos por manifestar as insatisfações. “Qual vai ser o padrão de tiro e abordagem?”, questiona um professor com mais de 10 anos na ANP. “Ele (o diretor) tirou pessoas do setor operacional e não conseguiu substitutos porque é uma doutrina que foi montada durante anos”, diz outro agente. A dificuldade maior tem sido repor os docentes de abordagem. A direção da academia teria até pedido apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar do DF (PMDF) para que cedessem profissionais treinados na área. No caso de armamento e tiro já foram recrutados agentes da própria PF para substituir os professores removidos.
Em documento interno, remetido à direção pelo coordenador de ensino da ANP, Leandro Almada da Costa, os funcionários que participaram das manifestações foram classificados como “inconsequentes e irresponsáveis, que desenvolvem uma espécie de assédio moral vertical ascendente”. O ofício informa que, desde o episódio do aniversário de 70 anos da PF, os servidores envolvidos com os protestos já estavam sendo identificados. “Independentemente da legitimidade dos pleitos sindicais que originaram o ato, a mensagem que os professores do SAT e do Seop transmitiram de forma acintosa aos alunos dos cursos de formação daquela data é que, na luta por interesses corporativos pessoais vale tudo, inclusive desrespeitar normativos, tradições, valores e símbolos da PF”, registrou o memorando.

justiça

Diante das transferências forçadas, o Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal (Sindipol/DF) ingressou com um mandado de segurança na Justiça para que os profissionais retornem aos postos anteriores. De acordo com a entidade, o juiz que assumiu o caso deu um prazo para que a União preste esclarecimentos sobre o assunto. Procurada pela reportagem, a direção da Polícia Federal não se manifestou.
Queixas e castigos

A crise na Polícia Federal (PF) chegou ao ponto de um funcionário ser punido após enviar um e-mail ao canal de comunicação do governo federal “Fale com a presidenta,” no qual ele desabafa sobre os problemas na corporação no ano passado. A ferramenta está disponível na página da internet do Palácio do Planalto e permite a comunicação “entre a população e a presidenta Dilma Rousseff”. Embora a plataforma use “um formulário eletrônico que garante a privacidade e a segurança do remetente e da mensagem”, o nome do policial foi descoberto e ele tornou-se alvo de um processo administrativo disciplinar e, posteriormente, a uma suspensão de dois dias. O caso foi parar na Justiça. No último dia 14, o juiz federal Cleberson José Rocha, do Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF-1), determinou que a União anule as penalidades aplicadas ao servidor.
Na mensagem enviada ao Palácio do Planalto, o agente federal reclamou das condições salariais, em “tom de desabafo”, conforme descrito no texto enviado. Após ser punido, ele decidiu entrar na Justiça alegando que as penalidades, se mantidas em sua ficha funcional, causariam reflexos negativos para a carreira de policial federal. O juiz que analisou o processo entendeu que o servidor não se referiu de modo depreciativo às autoridades ou à corporação e ressalta que ele enviou a mensagem pelo seu e-mail pessoal, for a do ambiente de trabalho, “não tendo aparente reflexo no exercício das atividades funcionais do servidor”. (JC e RM) 


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