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Estado de Minas

Câmara discute descriminalização de drogas no Brasil

Usuário não será preso, mas avaliado por médicos que vão decidir sobre necessidade de tratamento, segundo proposta apresentada


postado em 23/08/2012 12:09 / atualizado em 23/08/2012 12:17

Brasília – Uma comitiva da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD) entregou ontem ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), um anteprojeto de lei que propõe a descriminalização do uso de drogas no país. A proposta já conta com cerca de 110 mil assinaturas de apoio, coletadas desde o começo da campanha, em 7 de julho. De acordo com a entidade, a meta é chegar a 1 milhão de assinaturas pela internet, para pedir a criação de uma legislação sobre drogas “mais justa e eficaz”. A CBDD é formada por médicos, juristas, pesquisadores e representantes de entidades diversas.

O anteprojeto transforma o uso (hoje classificado como crime, mas sem prisão prevista) em infração administrativa, desde que a quantidade apreendida seja para consumo em até 10 dias . A quantidade máxima deve, segundo o texto, ser definida pelo governo em regulamentação posterior. De acordo com Pedro Abramovay, diretor de campanhas do Avaaz (site que colheu mais de 100 mil assinaturas para esste pré-projeto) e secretário nacional de Justiça do governo Lula, a ideia é trazer para o Brasil o modelo adotado em Portugal há mais de 10 anos, em que o usuário flagrado com drogas não é levado pela polícia, é encaminhado para uma comissão de médicos e juristas que define multa ou advertência e um possível atendimento médico. Em Portugal, a quantidade máxima para maconha, por exemplo, é de 25 gramas.

Ele argumenta que a lei das drogas foi mudada em 2006 com o objetivo de reduzir o número de pessoas presas, ao permitir que o usuário não fosse preso. Mas, como a lei manteve o uso como crime e não definiu quantidades, os usuários passaram a ser classificados como traficantes. “Hoje, se você é pobre, é traficante. Se é rico, é usuário. Pela primeira vez, uso e tráfico de drogas são os crimes que mais prendem no Brasil. Passamos de 62 mil presos em 2006 para 125 mil em 2011”, disse Abramovay.

Uma proposta na mesma linha foi fechada pela comissão de juristas, que defendeu a reforma do Código Penal no Senado. Lá, segundo Abramovay, a ideia era descriminalizar a posse de quantidade para até cinco dias, mas não havia a proposta de uma comissão para avaliar cada caso.

Abramovay alega que nos países que descriminalizaram o uso não houve aumento de consumo. "Não é a legalização, a liberação, podem ficar tranquilos, não é uma medida que aumenta o consumo. Permite que se trate melhor o doente”, disse.

Ainda conforme Abramovay, a expectativa é de que um projeto de lei a respeito seja apresentado entre o fim do ano e o início de 2013 por um grupo de deputados. Quem encabeça a iniciativa é o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da comissão. “A ideia é colocar o usuário de droga no lugar correto. Jogar na cadeia é uma violência. É preciso haver a distinção entre o usuário e o traficante”, afirmou o parlamentar. Segundo ele, “a comissão que discutiu o texto apresentado a Marco Maia é muito representativa, pois reúne cientistas, religiosos, juristas e estudiosos do tema”.

Rigor com traficantes

 

O presidente da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Gadelha, destacou durante o encontro na Câmara dos Deputados que o projeto não defende o arrefecimento no tratamento a traficantes de drogas nem a ideia de legalização. “Somos rigorosos no sentido da repressão ao tráfico, mas é importante distinguir traficante de usuário. O mais importante é tirar a ideia de que o dependente de drogas, como o de álcool e tabaco, é um criminoso. Ele precisa de tratamento”, afirmou.

Gadelha admite que o país não tem estrutura adequada para tratar todos os usuários de drogas e diz que esse não pode ser um impedimento: “Temos que nos preparar para atender”.

A proposta foi apresentada ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que disse que colocaria o texto no e-democracia, site oficial da Casa que promove debates. A coleta de assinaturas para o projeto será mantida apenas na internet, explica Rubens César Fernandes, diretor da organização não governamental Viva Rio, uma das entidades que participam do grupo. “Não quisemos misturar a coleta (nas ruas) com o ambiente eleitoral. Só faremos a coleta depois das eleições. Temos tido uma resposta impressionante com a internet”, afirmou Fernandes, que informou ainda que a meta era conseguir 50 mil assinaturas em um mês e a campanha obteve mais que o dobro. Estão na comissão Pedro Abramovay, Rubens Fernandes e Paulo Gadelha.

 


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