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Estado de Minas

Mais dois moradores de rua são assassinados em Brasília

Duas semanas depois de um desabrigado ter sido queimado vivo, outras vítimas são atacadas: desta vez executadas a tiros enquanto dormiam


postado em 12/03/2012 07:17 / atualizado em 12/03/2012 07:55

Brasília – Pela segunda vez em menos de 15 dias, um caso de crueldade contra moradores de rua foi registrado no Distrito Federal. No fim de fevereiro, dois desabrigados da cidade-satélite de Santa Maria, a 26 quilômetros da capital, foram queimados. Um morreu e o outro continua internado em estado grave (veja quadro). No início da manhã desse domingo, dois homens foram executados na região do Areal, em Águas Claras, a 20 quilômetros do Centro de Brasilília. Cada um levou um tiro na cabeça. Dormindo, não tiveram qualquer chance de defesa. Eles estavam sem documentos, e os corpos não haviam sido oficialmente identificados até o fim da tarde de ontem.

Alguns moradores da região deram à polícia informações sobre as vítimas. Os homens tinham por volta de 35 anos e moravam em canteiro central da Quadra Sul 11 havia pelo menos sete anos. Adriano Bispo de Oliveira era conhecido como Adrianinho Goiano e tinha dificuldades para andar –recentemente, foi atropelado depois de vagar bêbado por uma das ruas da cidade. Ivaldo, conhecido como Maranhão, havia trabalhado de pedreiro antes de se entregar ao vício do álcool. A dupla costumava pedir comida, água e dinheiro para comprar cachaça.

Na cena do crime não foram encontrados quaisquer indícios de drogas pelos agentes da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), que investiga o caso. De acordo com alguns policiais, traficantes frequentam a região para vender crack. O local fica próximo a um albergue público. “Isso é uma tragédia anunciada e a tendência é piorar. Os desabrigados ficam perto do albergue para ter onde comer”, disse o coordenador do Movimento Pela Remoção do Albergue, Luiz Cláudio Cezário.

Comerciantes e moradores da região afirmam que as vítimas não eram usuárias de drogas. “Eles não mexiam com ninguém, não usavam drogas. Só bebiam demais”, contou Arisvalda da Silva, que tem uma lanchonete em frente ao local do crime e costumava dar comida para os homens. “É claro que o morador de rua incomoda de uma forma genérica, mas esses dois só faziam maldade a si mesmos”, reforçou o líder comunitário Evandro Pereira. “Tirar a vida de uma pessoa desse jeito é crueldade.”

O crime ocorreu por volta das 6h30. De acordo com testemunhas, um homem encapuzado, montado em uma bicicleta, teria se aproximado do lugar em que os desabrigados dormiam e retirado o cobertor que escondia o rosto do primeiro deles, José Francisco de Sousa. “Ele olhou para mim e disse: ‘Não é você’. Tentei dormir e só levantei depois”, recordou o serralheiro desempregado, que passou a morar na rua há 15 dias.

Em seguida, contou, o criminoso conferiu os rostos dos outros três mendigos que dormiam na área. Disparou na cabeça das duas vítimas escolhidas, que morreram no local. “Quando levantei, vi aquele banho de sangue”, lembrou. Duas cápsulas de balas calibre .40, de uso exclusivo das Forças Armadas, foram encontradas no local do crime. O quarto morador de rua fugiu do local depois dos assassinatos.

Investigações A identificação dos suspeitos é tratada como prioridade pela Polícia Civil. Caberá ao Instituto de Identificação (II) do órgão, vinculado ao Departamento de Polícia Técnica, esclarecer quem são as vítimas. Até o fim da tarde de ontem, familiares e amigos dos homens não haviam entrado em contato com a 21ª DP para pedir informações sobre o fato. Somente depois da identificação oficial será pesquisado se a dupla possui antecedentes criminais.

O fato de o criminoso ter mostrado o rosto ao morador de rua sobrevivente não auxilia no início das investigações, explicou a delegada Silvana Pereira da Silva, plantonista da 21ª DP. “Por enquanto, temos apenas um homem que foi visto. Isso não quer dizer que já tenhamos identificado algum suspeito”, afirmou.

A polícia ainda não tem uma linha de investigação, disse a delegada. “Ainda não dá para dizer se temos um crime motivado por intolerância, acerto de contas ou qualquer outra coisa”, comentou. Quando o responsável pela ação for encontrado, pode pegar até 60 anos de prisão, por ter cometido dois homicídios qualificados (sem dar chance de defesa às vítimas).

ESCALADA DA VIOLÊNCIA


20 de abril de 1997
Cinco rapazes de classe média alta atearam fogo ao corpo do índio Galdino Jesus dos Santos, de 44 anos, que dormia em parada de ônibus. Galdino não resistiu aos ferimentos e morreu cerca de 20 horas depois de dar entrada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Em 2001, quatro dos acusados foram condenados a 14 anos de reclusão e ganharam liberdade condicional em 2004 – o quinto envolvido era adolescente na época do assassinato.

2 de novembro de 2004
O morador de rua Fernando Henrique Oliveira, de 29, morreu depois de ser agredido a socos e pontapés por um adolescente de 17 anos. O jovem cobrava uma dívida de
R$ 15 e estava acompanhado de um rapaz armado. A agressão ocorreu de madrugada. Na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), o agressor disse que prestava socorro à vítima.

19 de janeiro de 2009
O servidor do Banco Central José Cândido do Amaral, de 50 anos, matou os moradores de rua Paulo Francisco de Oliveira Filho, de 35, e Raulhei Fernandes Mangabeiro, de 26, com tiros na cabeça. Os dois despertaram a raiva de José ao ser vistos trocando carícias na Praça do Índio. Depois de três meses de investigação, ele foi preso e confessou o crime. O servidor público foi condenado a seis anos e oito meses de reclusão pelo crime de homicídio privilegiado qualificado. Ele também é suspeito de ter executado outro morador de rua em Taguatinga, em 2006.

25 de fevereiro de 2012
Um grupo usou gasolina para atear fogo em dois moradores de rua que dormiam sob uma árvore em Santa Maria. José Anderson Micles Freitas, de 22, morreu. Paulo Cezar Maia, de 42, teve 20% do corpo queimado. Em 6 de março, a Polícia Civil prendeu quatro dos sete suspeitos de cometerem o crime. A investigação ainda acusou o marceneiro Daniel de Abreu Lima, de 36, de ter oferecido aos jovens R$ 100 para de “livrarem” dos moradores de rua.

Mendigo é morto em Campo Grande


Um morador de rua, identificado como Levi da Costa, de 22, foi amarrado na madrugada de ontem em uma árvore de um bairro afastado do Centro de Campo Grande (MS) e teve o corpo queimado por ao menos seis pessoas. Ele sofreu queimaduras de segundo grau e permanecia internado até o fechamento desta edição. De acordo com o boletim de ocorrência, o crime foi cometido por três casais que ocupavam motocicletas. O fogo atingiu rosto, peito, braços e pernas do rapaz. O caso ocorreu perto de um centro comunitário do Bairro Nascente do Segredo, onde havia uma concentração de jovens. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas Levi da Costa já havia sido conduzido para o hospital. Policiais tentaram interrogá-lo em busca de pistas dos agressores, mas a vítima já estava sob efeito de medicamentos e não conseguiu prestar informações. O estado de saúde de Costa é tido como grave, segundo servidores que o atenderam na
Santa Casa.


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