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Estado de Minas

Basílica de Ouro Preto toca sino para lembrar roubo de peças sacras

Ouro Preto mantém tradição de tocar sino da Basílica de Nossa Senhora do Pilar para cobrar a recuperação das peças. Moradores relembram clima de medo durante as investigações


postado em 01/09/2013 06:00 / atualizado em 01/09/2013 07:31

Museu, no subsolo da igreja, de onde ladrões levaram 17 peças em 1973: vestimentas estão expostas até hoje(foto: Beto Noves/EM/D.A Press)
Museu, no subsolo da igreja, de onde ladrões levaram 17 peças em 1973: vestimentas estão expostas até hoje (foto: Beto Noves/EM/D.A Press)


A ideia de tocar o sino da matriz todo dia 2 setembro partiu do padre Simões – era uma forma de cobrar uma atitude das autoridades. “Mantemos a tradição”, afirma o diretor de Arte Sacra de Ouro Preto, Carlos José Aparecido de Oliveira. Incansável na sua luta, o pároco sempre teve esperança de rever o acervo, enquanto distribuía cartas abertas à população. Numa delas, em 1990, escreveu: “Pessoas altamente qualificadas em roubar ficaram, durante a noite, na Matriz do Pilar de Ouro Preto. Realizaram a repugnante profanação, tirando peças preciosíssimas (…), ferindo nossa fé cristã e machucando a consciência cultural de Ouro Preto, das Minas Gerais e do Brasil. Vilipendiaram o sacrossanto e arrancaram as raízes históricas de uma comunidade”.

Natural de Ouro Preto e residindo atualmente entre essa cidade e o Rio de Janeiro (RJ), a jornalista Laura Godoy, de 33 anos, ainda não tinha nascido quando tudo ocorreu, mas sente o mesmo pesar da população. Autora de uma monografia sobre o fato, Laura entrevistou padre Simões e lembra bem a certeza dele de que o roubo fora encomendado e “envolvia pessoas graúdas”. Ele era tão incomodado com essa história, acrescenta Laura, que, quando podia, visitava antiquários em São Paulo e se fazia passar por comprador, na tentativa de reencontrar alguns dos objetos. Conforme matéria publicada pelo Estado de Minas em 2 de setembro de 1979, padre Simões confessou: “Muita gente sofreu durante as investigações, inclusive eu. Um rapaz esteve mais de uma semana preso no Dops, em Belo Horizonte, sofrendo horrores para confessar”.

O artista plástico Luiz Antônio Rodrigues morava ao lado do Pilar, como ocorre até hoje, e atuava como guia na igreja. “Foram dias com muitos policiais nas ruas, mal-encarados, que enxergavam todos como suspeitos. Queriam pegar um bode expiatório”, conta. Num daqueles dias, ele foi “convidado” para tomar um café com o padre Simões e viu militares com baionetas. “Na minha inocência, fiquei até fã dos policiais, pois tudo parecia um filme. E eu só tinha visto isso no cinema.” De repente, ele fica bem sério e fala sobre padre Simões. “Ele apanhou, levou uns bons tapas. Envelheceu com esta história”.

Na porta da casa de Alice Ribas, de 99, próxima à Basílica do Pilar – a igreja recebeu esse título no ano passado, por decreto do papa Bento XVI –, há uma fotografia do templo que ela frequenta a vida inteira. Com a voz baixinha e protegida pelo cachecol branco de lã, Alice diz que se lembra daquele dia, quando chegou bem cedo para a missa das 7h. Viu a igreja toda aberta. O padre já estava a postos. “Eu me lembro…”, murmura. E quando perguntada se foi procurada pela polícia, ela arregala os olhos e responde: “Polícia? Não…”, e, imediatamente, volta para um mundo bem particular.

Olhando a fachada da igreja, Carlos José lamenta. “Naquele tempo, as igrejas não tinham segurança nem se fazia o registro fotográfico do acervo”. Uma testemunha que poderia ajudar levou para o túmulo um segredo que poderia pôr fim ao caso. Ela teria visto um veículo Variant branco e pessoas dentro do templo, mas achou melhor ficar calada e não depor na polícia. Se anotou a placa, ninguém sabe.


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