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Estado de Minas

Coleta seletiva atende apenas 14% da população de BH e não há planos de ampliação

Para especialistas, cidade desperdiça cerca de R$ 75 milhões ao não reciclar resíduos sólidos


postado em 13/08/2012 06:46 / atualizado em 13/08/2012 06:53

A aposentada Ângela Cristina separa o lixo em casa e vai até uma unidade de recebimento de pequenos volumes, onde descarta o material para ser reciclado. Ela diz que falta incentivo para a população fazer a coleta seletiva (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
A aposentada Ângela Cristina separa o lixo em casa e vai até uma unidade de recebimento de pequenos volumes, onde descarta o material para ser reciclado. Ela diz que falta incentivo para a população fazer a coleta seletiva (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Com apenas 30 bairros e 14% da população atendida pela coleta seletiva de lixo, Belo Horizonte não trata o serviço como prioridade nem sequer conta com metas para a ampliação do programa. Enquanto o número de bairros atendidos se mantém estagnado, o de locais de entrega voluntária (LEVs) diminuiu em 35%, passando de 150 para os atuais 97 contêineres preparados para receber recicláveis. A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) não tem atualmente previsão de ampliação do serviço na cidade. “Há uma dificuldade de colocar a coleta seletiva no programa de governo, pois ainda há outros problemas de limpeza urbana, como bota-foras, que representam risco de saúde pública. Num contexto em que muita gente ainda joga lixo em lugares inadequados, a coleta seletiva ainda é perfumaria”, informa a chefe do Departamento de Programas Especiais da SLU, Aurora Pederzoli. Quanto aos LEVs, ela afirma que muitos foram depredados pela população, que confunde o equipamento com uma lixeira comum.

O coordenador da especialização em gestão de resíduos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), Hiram Sartori, ressalta a importância de ampliar a coleta seletiva o quanto antes. “Faltam metas de recuperação de itens recicláveis, que é pífia. O aterro é ocupado sem necessidade e tem seu tempo de uso reduzido. Encurtar a vida útil do aterro significa ter que pagar outro mais longe e mais caro”, alerta. Estudo elaborado pela Fundação Banco do Brasil e pela organização não governamental WWF-Brasil mostra o enorme potencial de reciclagem desperdiçado em BH.

Somente 2,65% das 283.824 toneladas de material reciclável descartado por ano na capital mineira – entre papel, plástico, vidro e metais – vão para a coleta seletiva. Com isso, a estimativa é de que BH jogue literalmente no lixo R$ 75,5 milhões em resíduos sólidos que poderiam ser reciclados. Atualmente, a cidade paga R$ 309 por tonelada para recolher materiais dos LEVs, R$ 187 por tonelada no caso da coleta porta a porta e R$ 110,6 por cada tonelada recolhida na coleta domiciliar do lixo comum.

Gestão integrada

A ampliação das metas de reciclagem em BH também esbarra na falta de elaboração do plano municipal de gestão integrada de recursos sólidos, planejamento obrigatório de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei Federal 12.305/2010. A exigência era de que municípios concluíssem o plano, que deve contemplar ações de coleta seletiva na semana passada, mas Belo Horizonte nem sequer começou o trabalho. Cidades sem o planejamento ficam impedidas de solicitar recursos para a limpeza urbana ao governo federal, o que pode atrapalhar a intenção da prefeitura de começar a construir mais um galpão de reciclagem ainda este ano.

Enquanto o município não oferece soluções, os cidadãos fazem o que podem para destinar corretamente os resíduos. A aposentada Ângela Cristina Martins Álvares, de 57 anos, até queria que os moradores fizessem a separação do lixo para a reciclagem no prédio onde mora, no Bairro Barroca, na Região Oeste de BH. Mas, por enquanto, sem caminhão de coleta porta a porta, não é possível implantar a ideia. O único jeito é juntar tudo na sacola, pôr no porta-malas do carro e despejar na unidade de recebimento de pequenos volumes (URPV) do Bairro Nova Suíça, na mesma região, onde há um local de entrega voluntária (LEV). Ontem, ela estava com um saco cheio de embalagens, papel e papelão.

“Eu moro perto e tenho disponibilidade, senão não daria. Falta incentivo. Se cada um não fizer a sua parte a reciclagem não se torna possível. Além disso, se a gente mesmo não procurar descobrir, não tem informação”, diz. Também aposentado, Orlando Gomes, de 74, se divide entre o LEV do Nova Suíça e o do Salgado Filho, bairro onde mora. Apesar de fazer a sua parte, ele não acredita na possibilidade de uma separação universal do lixo. “Lá em casa, por exemplo, eu propago a ideia, ensinando minha mulher, mas tem hora que não tem jeito, entra tudo numa sacola só e vai para o lixo comum. Tem coisas miúdas de plástico que são quase impossíveis de serem segregadas. E se for lavar tudo, quanta água não se gastará?”.

ENQUANTO ISSO...
...A ameaça dos lixões

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, mais de 90% dos municípios brasileiros não elaboraram plano para tratamento do lixo e de resíduos industriais, o que pode impedir o país de acabar com os lixões no prazo de dois anos. Desde 5 de agosto, o documento é exigido pelo governo federal como contrapartida para a liberação de recursos da União. Segundo os dados, apenas 291 cidades aprovaram um plano municipal de resíduos sólidos e 197 estão analisando o projeto. A soma dessas duas situações mostra que apenas 488 dos 5.565 municípios do país, o equivalente a 8,8% das cidades, cumpriram as determinações da União.

Indústria recebe críticas

Na luta para aumentar cada vez mais o percentual de resíduos sólidos em condições de serem reciclados, catadores e gestores ambientais também dirigem suas críticas à indústria de embalagens, que lança produtos que não têm demanda para reciclagem. Para a presidente da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Oeste, Maria das Graças Silveira, essa atitude não é correta.

Coordenador do curso de especialização em gestão ambiental de resíduos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), Hiram Sartori ressalta que uma das soluções possíveis para esse problema é a exigência do uso de material reciclável por parte das indústrias. “Do total da produção, um percentual teria que usar matéria-prima vinda da reciclagem”, explica o especialista. Para ele, o principal investimento em coleta seletiva tem que ser em educação. “Quando eu invisto na mudança do comportamento, dou oportunidade de as pessoas participarem dessas ações que se tornam parte da cultura, e não mera obrigação. É a forma mais eficiente de investir na coleta seletiva”, explica.

Mas antes disso há um desafio enorme até que esse material possa ser recolhido e chegar aos galpões dos produtores. A Superintendência de Limpeza Urbana não encara hoje a coleta seletiva como prioridade. “Um dos problemas para a ampliação é porque os galpões estão saturados e não têm espaço para receber mais material. Há também dificuldade com a mão de obra, pois muitos catadores migraram para a construção civil”, afirma a chefe do Departamento de Programas Especiais da SLU, Aurora Pederzoli, estimando haver 400 catadores atuando hoje na cidade.

 

 


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