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Estado de Minas

BH não avança no tratamento do lixo

Levantamento do EM mostra que cidade não avança no tratamento do lixo. Falta de estrutura do poder público e desinteresse da população contribuem para o problema estagnada em BH


postado em 13/08/2012 06:42 / atualizado em 13/08/2012 07:00

 Simone Hanke luta para conscientizar os vizinhos e instalou recipientes para a coleta separada de resíduos sólidos no condomínio onde mora (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS )
Simone Hanke luta para conscientizar os vizinhos e instalou recipientes para a coleta separada de resíduos sólidos no condomínio onde mora (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS )

O que têm em comum a professora Simone Hanke, de 35 anos, moradora do Bairro Estoril, na Região Oeste de Belo Horizonte, e o catador Claudinei Custódio Santos, de 42, que trabalha diariamente em um dos galpões da associação dos catadores Asmare, também na capital? Ambos enfrentam a ineficiência do poder público e a falta de condições de a cidade reciclar o lixo produzido por seus moradores. Do montante ínfimo de 30 toneladas diárias de resíduos sólidos enviadas para a reciclagem, que representa menos de 1% do total de 3,5 mil t de lixo produzidas por dia em BH, cerca de 30% viram rejeito nos galpões de reciclagem e vão direto para o lixo comum.

A constatação vem de levantamento feito pelo Estado de Minas nas sete cooperativas que trabalham com reciclagem na capital e que, além de doações, recebem resíduos da coleta seletiva da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Não bastasse o baixo alcance do serviço na capital mineira, onde apenas 30 dos 324 bairros são atendidos pela coleta porta a porta, o gargalo da reciclagem é reforçado pela falta de consciência da população e pela dificuldade de comercializar materiais que, apesar de recicláveis, acabam parando no aterro sanitário.

Clique e aprenda a separar o lixo
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Em frente ao condomínio onde mora, formado por três blocos de prédios e 64 apartamentos, Simone tenta colaborar para o maior aproveitamento do material reciclável e instalou lixeiras próprias para a separação dos resíduos. São dois recipientes para material orgânico, um para metal, um para papel, outro para plástico e um para vidro. Mas o esforço vai por água abaixo. Como a Rua Paulo Piedade Campos não é atendida pela coleta porta a porta, todo o material separado vai para o caminhão de lixo comum, caçamba adentro. Simone esbarrou ainda no despreparo de quem deveria orientar, quando buscou informações sobre o manejo correto dos materiais. “Procurei a prefeitura para saber quais eram as regras. O primeiro entrave foi obter informação e achar a pessoa certa para dizer como procedermos.”

Mas o problema não acabou por aí: “Como vi que o caminhão da coleta seletiva não passaria, entrei em contato com catadores, mas eles também não apareceram”. A professora, que é bióloga e pós-graduada em resíduos sólidos, não perde a esperança de os vizinhos aderirem integralmente à causa e, principalmente, de terem o lixo reciclável recolhido: “Ainda tenho esperança de o caminhão passar”.

PORCARIA NAS MÃOS

Na outra ponta da reciclagem, o catador Claudinei lida com uma situação ainda pior. Papel higiênico, absorvente íntimo, seringas e restos de comida passam todos os dias por suas mãos desprotegidas. Sem luvas, ele despeja os sacos de lixo numa bandeja de madeira e tenta garimpar materiais onde, em tese, deveria haver apenas recicláveis – plástico, vidro, metal e papel. Com a agilidade de quem está há 30 anos no ofício, Claudinei deposita num tambor a porcaria a ser levada para o aterro sanitário, destino final de um terço do material recolhido pela coleta seletiva na capital.

“Infelizmente, tem muito papel higiênico e comida junto do material reciclável. Isso atrai roedores, contamina o que pode ir para a reciclagem, ocupa o galpão e o catador ainda perde tempo. O mercado da reciclagem também é muito difícil ainda”, afirma Fernando Godoy, um dos administradores e associados da Asmare, a maior cooperativa de Minas, onde a taxa de rejeito chega a 40%.

Com tanta sujeira, profissionais da reciclagem acabam expostos a riscos. “Direto tiro absorvente usado do saco de recicláveis”, conta Claudinei, que nem se importa mais com o papel higiênico. “A gente se acostuma.” Enquanto o irmão dele, Claudecy Custódio Santos, de 35, descarrega carrinho lotado de sacos de rejeitos, Claudinei faz o apelo: “Se a população ajudasse, ficaria mais fácil para a gente.” A realidade é comum nas demais cooperativas. “Muitos não se importam de fato com que o que jogam dentro do lixo reciclável e acham que estão contribuindo simplesmente por mandar material. Já recebemos sondas de hospital, uma caixa de pizza cheia de seringas, muita fralda”, conta a administradora da Cooperativa Solidária dos Recicladores e Grupos Produtivos de Venda Nova.

Mas caminhões que saem dos galpões das cooperativas direto para o aterro sanitário Macaúbas, em Sabará, para onde é levado o lixo comum de BH, carregam também fardos de isopor, embalagens de biscoito, vasilhas de marmitex, copos de liquidificador e até vidro. Embora sejam recicláveis, esses produtos não encontram mercado na capital mineira e, por vezes, lotam galpões já saturados à espera de compradores. “Faltam indústrias de reciclagem próximas a BH. Como o preço da mercadoria é muito baixo, não conseguimos mandar certos produtos para outros estados, pois o frete é caro e não compensa. Estou com cinco fardos de marmitex parados no galpão. Outro dia tive que mandar 40 fardos de embalagem de biscoito para o aterro”, conta a presidente da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Oeste, Maria das Graças Silveira.


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