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Estado de Minas

Grupos de apoio confortam famílias que perderam filhos em acidentes de trânsito

Dor dos pais não tem fim. Quem perdeu os filhos em acidentes de trânsito marcados por fatores como a imprudência garante que ficou também sem chão.


postado em 19/07/2012 06:00 / atualizado em 19/07/2012 06:34

“É um sentimento de impotência incrível, está muito além do que eu poderia fazer”, diz a empresária Petrarka Gibosky, de 31 anos, mãe da pequena Ana Flávia, que tinha 2 anos quando o carro dirigido pela mãe foi atingido pela carreta desgovernada que desceu o Anel Rodoviário sem freios, matou cinco pessoas, inclusive Ana Flávia, e feriu outras 11 em janeiro do ano passado. Essa é a sensação de quem viveu um drama semelhante na família. Para os pais de vítimas do tráfego, a disputa entre os veículos já virou uma guerra civil, em que as pessoas ficam expostas a qualquer situação e os abusos frequentes contribuem para o perigo.

Petrarka mora em São Paulo e tinha vindo visitar a mãe em BH. Ela estava com duas filhas pequenas e uma sobrinha no banco de trás, todas sentadas em cadeirinhas e usando cinto de segurança, voltando de um passeio. “Na hora só escutei um barulho e vi fumaça. A imprudência foi muito grande. A gente perde o chão”, diz ela. Hoje, grávida de sete meses de um menino, espera dar uma nova companhia para a filha mais velha, Sarah, de 8 anos. “É uma tentativa de trazer mais alegria para a casa. Mas cada um tem seu valor e a Ana é insubstituível. Não deixo de pensar nela um instante.”

"Depois que acontece na nossa família, a gente passa a observar mais as coisas. Os carros vêm se tornando sonhos de consumo dos jovens e a contrapartida é a imprudência, a imaturidade e a inversão de valores de uma sociedade consumista", Marisa Claudino Moreno, aposentada (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS)
A aposentada Marisa Claudino Moreno, de 58, sofreu um duro golpe quando contava com a ajuda dos dois filhos para cuidar do marido, com câncer terminal. Na noite de 7 de junho de 1997, Luís Gustavo, de 19, o filho mais velho, que cursava engenharia química na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), voltava da faculdade para casa, quando foi surpreendido por um acidente. Ele estava em um jipe antigo com quatro amigos e o motorista não conseguiu fazer a curva do Viaduto B do Complexo da Lagoinha. O impacto da batida na mureta arremessou o jovem para fora do veículo, que não dispunha de cinto de segurança na parte de trás, e causou a morte de Luís. Ele foi o único dos cinco que faleceu no acidente.

“Depois que acontece na nossa família, a gente passa a observar mais as coisas. Os carros vêm se tornando sonhos de consumo dos jovens e a contrapartida é a imprudência, a imaturidade e a inversão de valores de uma sociedade consumista, associadas aos problemas em nossa malha rodoviária”, desabafa a aposentada. Por uma década, ela fez parte do grupo Apoio a Perdas Irreparáveis (API), fundado pela psicóloga Gláucia Rezende Tavares, de 56, com o marido, para amparar as famílias nessas situações.

Álcool ao volante

Ela também perdeu a filha Camile, de 18 anos. Um motorista bêbado tirou a vida da jovem, que estava no primeiro ano de jornalismo, na Via 240, voltando de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Essa situação do trânsito é tão complicada que hoje já chamamos os casos de trauma, pois as causas podem ser evitadas. A ideia do grupo é buscar caminhos para a superação e ausência do ente tão querido que se vai”, diz Gláucia. Hoje, 5 mil famílias participam de reuniões mensais e o grupo está também na Bahia e no Espírito Santo, além de Minas.

Preocupação com homicídios

O Mapa da violência divulgado ontem pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos aponta Minas no 20º lugar no ranking nacional de homicídios da população de até 19 anos em 2010. É a mesma posição ocupada pelo estado uma década antes, período delimitado pela pesquisa. Os assassinatos aparecem como a principal causa externa de mortes de jovens no país, que registrou taxa de 13 mortes para cada 100 mil habitantes em 2010. Em território mineiro esse índice no mesmo ano ficou em 10,7/100 mil, contra a proporção de 5,2/100 mil registrada em 2000.

Apesar do aumento, a Secretaria de Estado de Defesa Social destacou que Minas é o oitavo estado com menor índice de jovens assassinados no país. Afirmou ainda que crescimento da taxa será analisado por especialistas em segurança pública do governo. Segundo a secretaria, após investimentos feitos entre 2003 e 2010 em políticas públicas voltadas para jovens, como o programa de redução de homicídios Fica Vivo, o estado conseguiu manter estáveis suas taxas, que eram de 10,5 por 100 mil em 2004 e 10,7 em 2010. Na Região Sudeste, esse último índice é o segundo de menor incidência, atrás de São Paulo, com 5,4, segundo a pesquisa.

Ainda conforme a Seds, serão implantados neste ano três Centros de Prevenção à Criminalidade, com os programas Fica Vivo e Mediação de Conflitos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para o próximo ano estão previstas novas expansões dos programas para o interior, com instalação de um núcleo em Passos e em outras cidades a serem definidas.


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