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Estado de Minas

Trecho no Bairro Betânia é o mais violento do Anel Rodoviário

Desde setembro de 2009, pelo menos 15 pessoas morreram no local


postado em 13/07/2012 06:00 / atualizado em 13/07/2012 07:13

(foto: Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press)
(foto: Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press)

O acidente da manhã dessa quinta-feira no Anel Rodoviário, na altura do Bairro Betânia, na Região Oeste de Belo Horizonte, que causou a morte de uma pessoa, deixou várias feridas e tumultuou o trânsito em toda a capital, ocorreu no trecho mais perigoso ao longo dos 26,5 quilômetros do corredor. A opinião de especialistas e policiais rodoviários que patrulham o Anel é comprovada pelos números trágicos. Desde setembro de 2009, pelo menos 15 pessoas morreram no trecho entre o km 1 e o km 8 da via, trecho entre os bairros Olhos D’água e Cidade Industrial.

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De acordo com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o maior problema do trecho é que os veículos de carga descem embalados e não conseguem parar quando se deparam com a lentidão do trânsito, causada pelo afunilamento da pista sob o viaduto da linha férrea. Nem mesmo a sinalização e a fiscalização dos radares é capaz de evitar batidas no local.


Uma das tragédias mais marcantes no local foi registrada em 28 de janeiro de 2011, na qual morreram cinco pessoas, entre elas uma criança de 2 anos. O motorista de uma carreta bitrem, que transportava 37 toneladas de trigo, perdeu o controle do veículo e arrastou 10 carros em uma sequência de batidas no km 5, o mesmo onde ocorreu o acidente de ontem, logo depois do viaduto da Via do Minério.


Ao passar pela lombada, o condutor Leonardo Farias Hilário, de 25 anos, se deparou com carros em menor velocidade, por causa do afunilamento das pistas. O motorista, de Mato Grosso do Sul, disse que a carreta perdeu o freio. A perícia da Polícia Civil, contudo, aponta que o veículo de carga trafegava a 115 km/h. Onze pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de 2 anos. Leonardo chegou a ser preso duas vezes, mas hoje responde ao processo em liberdade. Em 14 de junho, as alegações finais foram juntadas ao processo que tramita no 1º Tribunal do Júri e agora o juiz vai decidir se o acusado irá a júri popular.

A proporção da tragédia e o clima de comoção que tomou conta da capital depois das cinco mortes em janeiro de 2011 levaram a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) a adotar uma série de medidas para tentar evitar mais mortes no trecho. Entre as providências adotadas estavam a instalação de radares, a estipulação do limite de velocidade de 50 km/h para veículos pesados e a proibição para que caminhões circulassem na faixa da esquerda. O acidente de ontem mostrou que as medidas não são foram suficientes e que o risco persiste.

Mais mortes

Em 21 de maio de 2010, em circunstâncias muito semelhantes às de ontem, uma carreta carregada de minério bateu em três carros, arrastou outros dois e os espremeu na traseira de um caminhão baú. As vítimas eram passageiros de um Uno prensado contra a traseira do caminhão baú: uma mulher de 22 anos, grávida de cinco meses, a mãe dela, de 48, e o irmão, de 24. O motorista do carro, um guarda municipal de 26, sobreviveu. Ele e a mulher voltavam uma consulta pré-natal.


Na tragédia de 11 de setembro de 2009, na qual morreram cinco pessoas, entre elas um bebê de 1 ano, um caminhão que seguia no sentido Vitória não conseguiu parar, arrastou 12 carros e bateu em outro caminhão. A força das batidas causou um princípio de incêndio, controlado por outros motoristas. O trânsito no Anel Rodoviário ficou interditado por várias horas, com um congestionamento de cerca de 10 quilômetros . (Com Paula Sarapu)

 

Repercussão

Leitor comenta no em.com


Dizer que não adianta fazer nada é fechar os olhos para a situação.Temos que brigar pela construção urgente de um novo anel (rodoanel) e manter uma fiscalizaçao constante. A vida das pessoas não pode ser tratada desta forma.
Antônio Martins

Tem de reformar o anel urgente, mas primeiro precisam construir o rodoanel para desviar o tráfego dos caminhões. Só desta forma os transtornos e acidentes serão diminuídos no periodo das obras. Passo no anel todos os dias e vou continuar passando, Deus nos ajude, pois os políticos, aff.
Robert Paiva

Não temos educação no trânsito, nao respeitamos nada. As autoescolas servem apenas para tirar a carteira e nao preparam os motoristas para as ruas. Nao adianta arrumar a rodovia, as mortes continuarão a acontecer.
Laiton Cardoso da Silva

Mais um acidente no anel, na altura do Bairro Betânia... Não parece notícia velha?
Diana Martins

Nesse trecho do anel, uma descida acentuada, de repente as três pistas viram duas apenas, com a terceira sendo ocupada por uma pilastra de concreto do viaduto acima. É uma armadilha pavorosa para quem não conhece o trecho e até para quem conhece...
Valmir Marques

Governo libera recursos para projeto executivo

 

Em 12 de junho, a presidente Dilma Rousseff (PT) esteve em Belo Horizonte e firmou termo de compromisso com o governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) para a revitalização do Anel Rodoviário e transferência da administração da via para o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), que terá a responsabilidade de fazer as obras dos 26,5 quilômetros do Anel.

Além dos R$ 17 milhões, a União vai repassar ao estado R$ 1,5 bilhão, recursos necessários para a remoção e desapropriação de cerca de 3,5 mil famílias que vivem no entorno do Anel Rodoviário e a execução das obras. O projeto prevê a construção de 12 trincheiras e 18 viadutos, além da pavimentação da via. Os editais para o serviço deverão ser publicados no fim do ano e a estimativa é que as obras tenham início no segundo semestre de 2013 e sejam concluídas no fim de 2014, depois da Copa do Mundo.


Rodoanel

Na mesma visita, a presidente Dilma se comprometeu a construir o Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte e a duplicar a BR-381, no sentido BH-Vitória. O edital de licitação do projeto executivo da Alça Sul do Rodoanel, entre Betim, Ibirité e Nova Lima, foi publicado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em 9 de julho. As propostas para a obra, que vai desviar da área urbana o tráfego pesado que passa pela BR-040, BR-262, BR-356 e BR-381, devem ser entregues até 9 de agosto.


O custo estimado do projeto é de R$ 10 milhões e quem vencer a licitação terá prazo de 630 dias para apresentar o projeto concluído. O complexo viário terá 35,8 quilômetros e sua execução custará R$ 500 milhões aos cofres públicos.


O traçado do Rodoanel foi dividido em três alças que farão o contorno da capital mineira passando por 10 municípios. A parte Sul é de responsabilidade do Dnit, a Norte cabe ao governo do estado e a Leste à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), as duas últimas com recursos federais. A Alça Sul tem como principal trajeto a ligação da BR-381 (Fernão Dias) à BR-040 (BH-RJ).

 

 

O acidente

Um morto, oito feridos e caos no trânsito de Belo Horizonte durante a maior parte do dia e começo da noite. Este foi o saldo do acidente ontem no Anel Rodoviário, na altura do Bairro Betânia, sentido Vitória, quando um caminhão-baú transportando 12 toneladas de produto tóxico perdeu os freios, bateu em nove veículos e só parou depois de atingir a mureta central, causando a morte do caminhoneiro Carlos Eduardo Salazar, de 27 anos. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o condutor rodou cerca de dois quilômetros com o veículo desgovernado e por pouco não causou uma tragédia.

O acidente ocorreu por volta das 10h, no trecho mais perigoso do Anel Rodoviário, onde pelo menos 15 pessoas morreram desde 2009 (veja na página 20), e mais uma vez trouxe o caos para motoristas em diversas regiões da cidade. O Anel ficou interditado por mais de seis horas e os reflexos foram sentidos na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na BR-040, onde o congestionamento chegou a 10 km, e na Avenida Raja Gabáglia. O tráfego de veiculos nos principais corredores de BH só se normalizou depois das 18h.

MILAGRE Para motoristas e passageiros dos veículos atingidos pelo caminhão-baú em sua trajetória descontrolada, sobreviver foi um milagre. “Renasci”, afirma o chef de cozinha Marcelo José de Oliveira, de 32, motorista do primeiro carro a ser abalroado pelo caminhão, um Ford Ka.

Como ele, o caminhoneiro Manoel Clementino Rocha, de 39, comemorou o fato de não ter sido ferido com gravidade. “Tive muita sorte”, confirmou. Seu caminhão Iveco foi o segundo a ser atingido pelo veículo dirigido por Carlos Salazar. Outro caminhoneiro, Euler Lopes Rosa, de 34, atribuiu à força divina ter escapado ileso. “Agradeço muito a Deus por estar vivo”, disse.

Os policiais rodoviários informaram que o caminhão-baú carregado de óxido cloreto de cobre, um fungicida, seguia de Resende (RJ) com destino a Cristalina (GO). Quando chegou à descida do Bairro Betânia o motorista percebeu que havia perdido o controle do caminhão e passou a alertar condutores que estavam à frente. Segundo testemunha ouvida pela PMRv, Carlos gritou e gesticulou, pedindo para que carros e caminhões abrissem caminho. “Provavelmente, ele perdeu o freio”, acredita o major Agnaldo Lima de Barros.

Num esforço desesperado de desviar de uma caminhonete F350 que estava na faixa da esquerda, o condutor do caminhão-baú tentou mudar para a faixa do meio. Mesmo assim, caminhonete foi atingida por trás e lançada contra a mureta. “Pensei que ele fosse passar por cima de mim”, recorda o empresário Herbert Penido, de 47, motorista da F350.

Mais adiante, pouco antes da entrada do Bairro Betânia, entre a faixa do meio e a da direita, o caminhão bateu na lateral de um micro-ônibus, que tombou sobre o capô de uma Saveiro que vinha ao lado, na faixa da esquerda. “Na hora, fui mais para a esquerda e freei de vez. Se não tivesse freado, o ônibus teria caído em cheio sobre meu carro”, observa o vendedor José Geraldo Cardoso, de 56, motorista da Saveiro. José ficou ileso, mas cinco ocupantes do microônibus sofreram escoriações.

Já na faixa da direita, o caminhão-baú colidiu com a traseira de outro caminhão, que rodou e também foi atingido na lateral da cabine. O Ford ficou atravessado no meio da pista. “Antes de rodar, passei rente à pilastra (da passarela próxima ao viaduto do Betânia), por pouco não fui esmagado”, conta o motorista Euler Lopes Rosa, de 34. Parte da porta do motorista do baú ficou presa à carroceria do outro caminhão. O baú cruzou as faixas da pista até bater na mureta. Carlos foi atirado fora do veículo e morreu no meio da pista. O compartimento de carga se abriu e o material tóxico se esparramou pelo esfalto, tanto no sentido BH-Vitória quanto na pista do outro lado da mureta, sentido BH-Rio de Janeiro.

Sem solução à vista

Uma das causas para o transtorno no trânsito de Belo Horizonte depois do acidente foi a demora em liberar a via, devido à carga tóxica que o veículo transportava. Foram mais de seis horas de interrupção do tráfego, com reflexos em várias regiões da capital.

De acordo com o tenente Geraldo Donizete, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), a transportadora da carga não tinha contrato com uma empresa especializada para a retirada do material. O militar informou que foi necessário fazer contato com uma empresa de São Paulo, que enviou uma equipe de Contagem, na Grande BH, para recolher a carga. “O derramamento do material impediu que o tráfego fosse liberado antes de sua total retirada. Foi preciso aguardar a chegada de pessoal especializado. Só foi possível improvisar um desvio para a marginal, com os veículos passando sob o canteiro, já que no trecho do acidente não existe área de escape”, justificou o policial.

Como a capital não tem um plano de contingência para minimizar os impactos de ocorrências desse tipo, o consultor de transporte e trânsito da ONG Ruaviva – Instituto da Mobilidade Sustentável, João Luiz Silva Dias, diz que o problema está longe de ter uma solução. Para ele, a saída é a construção de uma via específica para absorver o tráfego rodoviário que se mistura com o urbano no local.

“Somente com a criação de um rodoanel, para escoar o transporte de cargas, será possível evitar esses reflexos no trânsito urbano. Não há o que fazer no Anel Rodoviário, que se transformou numa nova Avenida do Contorno. A intensificação da fiscalização, a instalação de radares e a melhoria de sinalização a cada nova ocorrência não vão mudar o atual quadro”, diz o especialista.


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