
Pelo desenho traçado, a linha 2 deveria ter 11 estações, com 17,5 quilômetros de extensão. Seria de superfície da estação BHBus Barreiro até o Bairro Gameleira, na Região Oeste, e depois subterrânea pela Avenida Amazonas até o Bairro Santa Tereza, na Região Leste (veja mapa). A linha 3, por sua vez, teria 12,5 quilômetros subterrâneos, da barragem da Pampulha até a Praça da Savassi. A previsão é que sejam 11 estações. Os últimos investimentos no metrô de BH divulgados pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), no entanto, se referem ao período de 2003 a 2006, quando o governo federal destinou R$ 158,7 milhões ao sistema.
O marcos “esquecidos” das linhas 2 e 3 são um exemplo de como parte dessa verba pode ter sido aplicada em vão. As indicações foram feitas pela empresa paulista Enerconsult S.A, contratada por R$ 15 milhões para desenhar os dois traçados. Como parte do trabalho, a companhia espalhou pequenos discos de metal em importantes corredores de trânsito para marcar onde seriam as novas rotas. Hoje, a Superintendência de Trens Urbanos de Belo Horizonte (STU-BH) admite não saber onde ficam todos os pontos demarcados pela empresa. Também reconhece que muitos deles foram perdidos com obras viárias feitas na cidade, como na Avenida Antônio Carlos e as recentes intervenções na Savassi.
A reportagem do Estado de Minas localizou seis pontos demarcados, cinco da linha 3 e um da linha 2. Os da linha 3 são numerados de 2 a 6, começando no canteiro central da Avenida Cristóvão Colombo, a 50 metros da Praça Diogo de Vasconcelos (Savassi), na Região Centro-Sul, e com a outra extremidade no canteiro central da Avenida Afonso Pena, esquina com as ruas Caetés e Curitiba, próximo à Praça Rio Branco (perto da Rodoviária). Os demais estão na Avenida João Pinheiro, esquina com Rua Gonçalves Dias, ao lado da Praça da Liberdade; no canteiro central da Avenida Álvares Cabral, entre a Avenida Afonso Pena e a Praça Afonso Arinos; e na Afonso Pena, próximo à Praça Sete. O marco 12 da linha 2 também foi instalado no canteiro central da Afonso Pena, no cruzamento com a Álvares Cabral.
O passo seguinte ao desenho dos traçados e instalação dos marcos seria a elaboração do projeto básico das duas rotas, mas o processo foi interrompido em 2004 por falta de recursos. Ao EM, a Superintendência de Trens Urbanos de BH informou que não pediu a instalação dos marcos, que teriam sido uma opção tecnológica da Enerconsult. Embora admita não saber se os marcos representam pontos onde deveriam ser construídas estações do metrô, o órgão sustenta que o “desaparecimento” de alguns marcos não compromete o resultado final do trabalho da Enerconsult, que concluiu o traçado das duas novas rotas.
A avaliação é rebatida pelo engenheiro civil Márcio Aguiar, mestre em transportes e professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec. Para ele, investimentos em novos estudos deverão ser necessários. “Trabalhos como esse perdem a validade, pois a demanda de passageiros aumenta com o passar dos anos”, analisou. “ Como a cidade passou por várias obras viárias, traçados podem ter que ser redefinidos”, alertou.
Linha 2
Os problemas provocados pela interrupção, em 2004, do projeto das linhas 2 e 3, vão além de marcos e desenhos de traçados. Segundo a Superintendência de Trens Urbanos de BH, R$ 60 milhões foram aplicados para que o ramal férreo do Calafate ao Barreiro pudesse ser utilizado como parte da linha 2 do metrô. Mas, apesar do investimento, o trecho até hoje é apenas usado por trens de carga e as estruturas de concreto erguidas ali estão se deteriorando. Para o engenheiro Márcio Aguiar, a demora em tirar do papel as duas linhas do metrô só faz piorar problemas de trânsito na capital. “O que existe em BH é o que chamamos de trem urbano”, opina. “A única opção que resta às pessoas são os veículos particulares e ônibus lotados, causando um colapso no trânsito”, acrescentou.
Moradores reclamam da demora. O técnico judiciário Alcimar Motta, de 49, que mora na Região Noroeste e precisa ir à Savassi trabalhar, sonha com o metrô. “A linha 3 facilitaria demais minha vida.”
