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A alegria, sombrinhas e cores da origem do frevo em Pernambuco


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Flickr/ Passarinho

Originalmente, o frevo surgiu em Pernambuco entre o final do século XIX e início do século XX, como um ritmo carnavalesco nascido a partir das marchinhas de Carnaval. Ele teve influência da polca russa, de alguns passos de ballet clássico, e de outras danças afro-brasileiras populares, como o maxixe e a capoeira.

Arquivo Nacional

Com a marchinha acelerada, o frevo possui banda e segue o estilo dos blocos de carnaval. Em 2014, por exemplo, foi inaugurado o Paço do Frevo, no Recife, um lugar que reúne informações referentes ao gênero e toda a história da sua cultura. Em 14 de setembro é comemorado o Dia Nacional do Frevo.

Flickr/Isabella Valle

Além disso, possui a presença de música e dança, ritmo tocado por instrumentos de sopro, de forma acelerada. Existem na festa também movimentos acrobáticos, a inserção de elementos de outras danças folclóricas, de elementos da capoeira e figurinos coloridos, com a utilização de pequenas sombrinhas.

Reprodução/Youtube

O tipo mais comum de frevo não é cantado, mas sim executado por instrumentos de sopro e de percussão. Os instrumentos musicais mais utilizados são o trombone, o trompete, o saxofone e a tuba.

Flickr/Fernando Silva

As sombrinhas coloridas assumem um papel importante na dança. Elas auxiliam na coreografia, ajudando os dançarinos a obter equilíbrio ao executar passos acrobáticos. Além disso, trazem um colorido especial à dança.

Flickr/Fernando Silva

O frevo foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO no ano de 2012, sob a designação 'Frevo: Arte do Espetáculo do Carnaval do Recife'.

Flickr/Le Roc

O frevo nasceu da junção da capoeira. Ela foi utilizada inicialmente como arma de defesa dos passistas que remete diretamente à luta, resistência e camuflagem, herdada da capoeira e dos capoeiristas, que faziam uso de porretes ou cabos de velhos guarda-chuvas como arma contra grupos rivais.

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A dança, então, possui duas formas. Quando a multidão dança, ou quando os passistas realizam os passos mais difíceis, de forma acrobática durante o percurso. O frevo possui mais de 120 passos catalogados. A origem do nome vem de vem de ferver, por sua corruptela, frever, que passou a designar: efervescência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai e vem em direções opostas.

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Foi no Jornal Pequeno, vespertino do Recife, que mantinha uma detalhada seção carnavalesca, , a primeira referência ao ritmo. A matéria foi assinada pelo jornalista 'Oswaldo Oliveira', na edição de 9 de fevereiro de 1907. Algo que aconteceu na reportagem sobre o ensaio do clube Empalhadores do Feitosa, do bairro do Hipódromo, que apresentava, entre outras músicas, uma denominada O frevo.

Flickr/Eugênio H Silva

O gênero ganhou letra no frevo-canção e saiu do âmbito pernambucano para tomar o resto do Brasil. Basta dizer que O teu cabelo não nega, de 1932, considerada a composição que fixou o estilo da marchinha carnavalesca carioca, é uma adaptação do compositor Lamartine Babo do frevo Mulata, dos pernambucanos Irmãos Valença

Flickr/Gabriella Coutinho

A primeira gravação com o nome do gênero foi o Frevo Pernambucano lançada por Francisco Alves no final de 1930. Um ano depois, Vamo se Acabá, de Nelson Ferreira, pela Orquestra Guanabara, recebeu a classificação de frevo.

Flickr/Gabriella Coutinho

Durante o início, o frevo também sofreu influências do maxixe. Ficou conhecido na indústria fonográfica brasileira como marcha-nortista e marcha-pernambucana. Apenas na era de ouro do rádio passou a ter a designação de seus subgêneros, onde sua vertente cantada passou a ser denominada frevo-canção.

Flickr/João Pessoa

A primeira fase do frevo no carnaval, segundo Nelly Carvalho, é referente ao período que vai desde a época colonial até a década de 1850. Nessa fase, temos um carnaval de estilo lusitano com o surgimento ao final da década de 1840 do “Zé Pereira”.

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A segunda fase vai de 1850 até 1920, com um carnaval marcado pelo crescimento das festas de momo aos moldes dos carnavais burgueses europeus.

Flickr/Max Levay

Na terceira fase, que vai de 1920 até os dias atuais, com a Proclamação da República e abolição da escravatura, tem-se o surgimento de vários clubes oriundos das classes populares que prestigiavam o carnaval burguês europeu e faziam as ruas ferverem.

Instagram @pacodofrevo

Segundo o historiador Leonardo Dantas, o entrudo, antepassado dos atuais carnavais, é conhecido em Pernambuco desde os primeiros anos da colonização. Na segunda metade do século XIX, a manifestação era festejada por grande parte da população pobre, composta por trabalhadores e escravos libertos, além de parte da elite.

Instagram @pacodofrevo

O frevo é rico em espontaneidade e improvisação. Ele permite ao dançarino criar os passos mais variados, desde os simples aos mais malabarísticos, possíveis e imagináveis. E, assim, executam, às vezes, verdadeiras acrobacias que chegam a desafiar as leis do equilíbrio.

Flickr/Jan Ribeiro

Diversos cantores beberam da fonte do frevo em determinados momentos da carreira como Gal Costa, Nena Queiroga, Alceu Valença, Elba Ramalho, entre outros. Quando as primeiras notas de Vassourinhas são executadas no carnaval pernambucano, a multidão ergue os braços e grita junto e dança freneticamente.

Instagram @galodamadrugada

O maior bloco carnavalesco de frevo de Pernambuco é o Galo da Madrugada, que preserva as tradições locais. Eles tocam ritmos pernambucanos e desfilam sem cordões de isolamento. O desfile do galo da madrugada é um dos momentos para se ouvir e dançar frevo no carnaval. É considerado desde 1994 o maior bloco de carnaval do mundo pelo Guinness Book

Antônio Cruz/Agência Brasil

Então, na década de 30 começaram a surgir novos tipos de frevo. O de rua é instrumental, executado por fanfarras nas ruas ou por big band nos palcos. O Frevo Abafo, por exemplo, é tipicamente construído com uma melodia que possui ritmo melódico menos intenso. É utilizado quando dois clubes rivais (a rivalidade entre clubes esteve presente desde suas criações) se encontram nas estreitas ruas e há a tentativa de “abafar” a orquestra rival.

Reprodução/ Youtube

Frevo ventania é uma denominação que faz referência ao aspecto técnico da melodia executada pelas palhetas. Diferentemente do frevo abafo, que parece ter sua denominação derivada de sua função. O frevo de rua executado no palco permitiu arranjo e execuções mais arrojadas e/ou de maior complexidade.

Flickr/governadoreduardocampos

O frevo coqueiro por vezes é considerado uma variante do abafo, tendo como principal característica as notas agudas nos metais e recorrentemente ritmo melódico acentuado executado pelas palhetas. Este tipo de frevo é em função do volume sonoro atingido com a dinâmica forte nos ataques dos metais em notas altas. Como nas músicas de Severino Araújo, que esteve à frente da Orquestra Tabajara por mais de 70 anos.

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Inicialmente conhecido como marcha-bloco, o Frevo de bloco veio a se popularizar em torno da segunda década do século XX. Sua definição como gênero causa certa polêmica entre pesquisadores do meio acadêmico. Na sua origem, encontram-se os folguedos dos ciclos natalinos, que em Pernambuco correspondem aos pastoris e no Rio de Janeiro, aos ranchos de reis.

Divulgação

Ao contrário dos outros dois tipos de frevo, a instrumentação do frevo de bloco é feita com a chamada banda de pau e corda, com violões, cavaquinhos, somando-se a instrumentos de sopro da família das madeiras, como flauta, clarinete, saxofone.

Flickr/Marco Cézar Filho

O frevo canção em muito se aproxima do frevo de rua. A principal e óbvia diferença é a presença do canto. O subgênero está presente no carnaval pernambucano desde os primórdios do frevo. Tipicamente, possui algumas das características que o frevo de rua veio a apresentar de forma recorrente. Dentre esses aspectos típicos, o andamento vivo e as introduções com metais se destacam.

Flickr/Jan Ribeiro

A presença do clube carnavalesco pernambucano Vassourinhas no carnaval de Salvador, em 1951, inspirou os baianos Dodô e Osmar a tocarem o frevo num instrumento por eles inventado, o pau elétrico. É conhecido como guitarra baiana.

Flickr/Jefferson Peixoto

O frevo elétrico, executado através da guitarra baiana, também ficou conhecido como frevo baiano. Desde os anos 1950 até os 1980, foi um dos gêneros musicais protagonistas do carnaval soteropolitano. Além disso, foi tocado por músicos e bandas como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Armandinho, Pepeu Gomes e Novos Baianos, bem como por blocos de trio como Papa Léguas, Camaleão, Beijo e Cheiro de Amor.

Reprodução/Youtube

No final dos anos 1980, o frevo elétrico se misturaria ao samba-reggae e outros ritmos afro-baianos, afro-brasileiros e caribenhos, dando origem ao axé music. Esse ritmo estourou de vez nos anos 90 e trouxe nomes como Chiclete com Banana, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, É o Tchan. Asa de Águia, Harmonia do Samba, entre outros.

Reprodução/Youtube

Nas décadas seguintes, o frevo elétrico voltou a ocupar uma posição de destaque nos trabalhos de bandas soteropolitanas como BaianaSystem e Retrofoguetes, com seu projeto paralelo Retrofolia.

Flickr/ Rosilda Cruz

Atualmente, o frevo está presente na Bahia e o principal ritmo do carnaval de Pernambuco. A Festa empolga multidões, desenhando um mosaico de cores, luzes e malícia. Transformando-se numa passarela, onde só importa a alegria, encerrando oficialmente o exuberante carnaval pernambucano.

Flickr/ Marcos Paulo C. Barros