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SAÚDE

A mente do agressor: o que a psicologia explica sobre crimes em família

O que leva um filho a cometer um ato de violência extrema contra a própria mãe; especialistas analisam os possíveis transtornos e fatores sociais

O que a psicologia explica sobre crimes em família.
O que a psicologia explica sobre crimes em família.
Crédito: Foto de Karolina Grabowska no Pexels.

Um filho que comete um ato de violência extrema contra a própria mãe desafia a nossa compreensão e abala as estruturas mais básicas da sociedade. A notícia recente de um homem indiciado por estuprar a mãe na região metropolitana de Belo Horizonte revela complexidades sobre a mente humana e as dinâmicas familiares.

Eventos como este levantam questionamentos imediatos e difíceis. O que pode levar uma pessoa a romper um dos laços mais fundamentais da existência humana de forma tão violenta? A resposta não é simples e está longe de ser única. Trata-se de uma intersecção de fatores psicológicos, histórico de vida e contexto social que, juntos, podem criar um cenário devastador.

O que se passa na mente de um agressor?

A violência intrafamiliar, especialmente quando direcionada de um filho para uma mãe, raramente surge do nada. Em muitos casos, ela é o ápice de um longo processo de deterioração da saúde mental e das relações. Um dos caminhos para entender essa dinâmica passa pela análise de possíveis transtornos de personalidade graves, como a psicopatia ou o transtorno de personalidade antissocial.

Indivíduos com essas condições frequentemente apresentam uma incapacidade profunda de sentir empatia. Eles não conseguem se colocar no lugar do outro nem compreender o impacto de suas ações. O sofrimento alheio é indiferente, e as pessoas são vistas como objetos para satisfazer seus próprios desejos ou impulsos. A agressão, nesse contexto, torna-se uma ferramenta para exercer poder e controle.

Outros quadros psiquiátricos também podem estar presentes. Transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, podem levar a delírios e alucinações que distorcem a percepção da realidade, resultando em comportamentos agressivos e imprevisíveis. É importante ressaltar que a maioria das pessoas com transtornos mentais não é violenta, mas, quando não tratados, alguns quadros podem aumentar o risco.

O abuso de substâncias, como álcool e outras drogas, atua como um catalisador potente. Essas substâncias reduzem a capacidade de julgamento, diminuem o controle dos impulsos e podem intensificar sentimentos de raiva e paranoia, abrindo a porta para atos de violência que, em estado de sobriedade, talvez não ocorressem.

O papel do histórico familiar

A mente do agressor não se forma no vácuo. O ambiente em que uma pessoa cresce desempenha um papel fundamental na moldagem de seu comportamento e de sua visão de mundo. Um histórico de abuso, negligência ou violência na infância é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de comportamentos agressivos na vida adulta.

Crianças que testemunham ou sofrem violência podem aprender que a agressão é uma forma aceitável de resolver conflitos ou de se relacionar. Esse ciclo de violência é um fenômeno bem documentado: a vítima de hoje pode se tornar o agressor de amanhã, perpetuando o trauma através das gerações. A violência se normaliza dentro do lar.

Além do abuso explícito, dinâmicas familiares disfuncionais também contribuem para o cenário. Relações marcadas pela manipulação, controle excessivo, inversão de papéis — onde o filho é forçado a assumir responsabilidades de adulto — ou uma ausência de limites claros podem gerar um ressentimento profundo e duradouro.

Esse acúmulo de raiva e frustração, quando não expresso ou tratado de forma saudável, pode explodir de maneira trágica. A mãe, como figura primária de cuidado, pode se tornar o alvo principal dessa fúria reprimida, simbolizando todas as falhas e dores da estrutura familiar.

Fatores externos que podem influenciar

O isolamento social agrava o quadro. A falta de uma rede de apoio, como amigos, outros familiares ou acesso a serviços de saúde mental, deixa o indivíduo sozinho com seus problemas. Sem válvulas de escape ou ajuda externa, a pressão interna aumenta até atingir um ponto de ruptura.

Fatores socioeconômicos, como desemprego e dificuldades financeiras, também podem gerar estresse crônico, contribuindo para a instabilidade emocional e o aumento da irritabilidade. Embora não sejam a causa direta da violência, eles adicionam mais uma camada de pressão a um sistema já fragilizado.

Entender a mente de um agressor em um crime familiar exige um olhar multifacetado. Não se trata de justificar o ato, mas de compreender a complexa teia de fatores que o tornaram possível. Apenas com essa compreensão é possível identificar sinais de alerta e buscar formas de prevenção, quebrando ciclos de violência antes que eles culminem em tragédias.

O que leva um filho a agredir a própria mãe?

Não há uma causa única. Geralmente, é uma combinação de fatores, incluindo transtornos de personalidade, histórico de abuso na infância e o uso de substâncias.

A violência é o resultado de uma complexa teia de vulnerabilidades individuais e contextuais, que se acumulam ao longo do tempo.

Todo agressor tem algum transtorno mental?

Não necessariamente, mas é um fator comum. Condições como o transtorno de personalidade antissocial e a psicopatia estão ligadas à falta de empatia.

Outros quadros, como esquizofrenia ou depressão grave com psicose, podem influenciar, mas a maioria das pessoas com transtornos mentais não é violenta.

É possível identificar sinais de alerta?

Sim. Mudanças de comportamento, histórico de agressividade, abuso de álcool ou drogas, isolamento social e ameaças verbais são sinais importantes.

A dificuldade em controlar a raiva e a falta de remorso após causar dano a outros também são indicativos que merecem atenção.

Como o ambiente familiar influencia nesse tipo de crime?

Um lar com histórico de violência, abuso físico ou emocional, e negligência pode normalizar a agressão como forma de comunicação.

Dinâmicas de controle excessivo ou falta de limites geram ressentimento que, se não tratado, pode explodir em violência na vida adulta.

A sociedade tem alguma responsabilidade?

Sim. A dificuldade de acesso a serviços de saúde mental, o estigma associado a buscar ajuda e a falta de redes de apoio contribuem para o isolamento.

Promover a conscientização sobre saúde mental e criar canais de denúncia eficazes são passos fundamentais para a prevenção.

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