Os críticos apontam falta de habilidade política, postura ideológica ou ainda falta de humildade. Seja quais forem as razões, o governador Romeu Zema (Novo) está chegando ao final do ano, o quinto dele no governo e o primeiro de Lula (PT), sem conversar com o presidente. Ao contrário, antes de viajar para a China e Japão, onde ficará 18 dias, mandou recado descortês, dizendo que o governo do petista teria má vontade com Minas. Referia-se à repactuação da tragédia de Mariana, ocorrida há oito anos, e que poderia atrasar mais com a chegada do atual governo, há 11 meses, na mesa de negociações.

Qual o maior problema de Minas hoje? Como o próprio governo diz, é a busca por solução da dívida pela qual abraçou a proposta de adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) do governo federal. Várias condições desse programa são excessivamente rigorosas e contra o interesse público de Minas e dos mineiros. Em vez de buscar a via política, única apontada para uma solução duradoura e menos drástica de uma dívida de R$ 160 bilhões, Zema foi ao exterior sob o argumento de trazer investimentos. Os investidores, porém, ficariam mais otimistas em apostar em um estado que não esteja financeiramente quebrado.



A única notícia de iniciativa pelo diálogo do governo mineiro perante o federal aconteceu ontem, por meio do governador interino Mateus Simões (Novo), acompanhado do secretário da Fazenda, Gustavo Barbosa. Ambos participaram de encontro dos membros do Consórcio de Integração dos Estados do Sul e do Sudeste do Brasil com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na pauta, a possibilidade de renegociação da dívida dos Estados com a União e redução da taxa de juros. Foi o primeiro e importante passo na busca de solução política do problema.

Com Kalil também foi assim

A falta de iniciativa de Zema para o diálogo já tinha sido observada em seu primeiro mandato. Durante todos os quatro anos, nunca se encontrou com o então prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), para discutir os problemas da maior cidade dos mineiros. A culpa foi de um ou do outro? A única foto com os dois que se viu foi nos ringues dos debates da campanha eleitoral do ano passado, onde a aversão estava autorizada.

Sandálias do pescador

Por isso, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PL), que é da base de Zema, sugeriu que o governador calçasse as sandálias da humildade para procurar o senador por Minas e presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD). “Além de presidente do Senado, que pauta a votação de projetos de interesse do governo federal, Pacheco fala quando quiser com o presidente Lula e com o ministro da Fazenda. Pode perfeitamente ajudar a cobrar uma solução”, afirmou Rodrigues.

Tô fora dessa!

Pré-candidato a prefeito de Uberlândia nas eleições do ano que vem, o deputado Leonídio Bouças (PSDB), saiu fora da relatoria do projeto do RRF na Comissão de Administração Pública que preside na Assembleia Legislativa. Ele havia marcado duas reuniões extraordinárias para agilizar a votação do projeto, mas foi fortemente criticado nas redes sociais e por deputados. O pepino sobrou para o deputado Roberto Andrade (Patriota).

Estatais vinculadas à dívida

Em menos de 24 horas, Roberto Andrade apresentou substitutivo incluindo demandas da oposição. Entre elas, vinculou as receitas provenientes da venda de estatais ao pagamento do passivo da dívida. Também estabeleceu ressalvas para autorizar convênios com municípios e organizações da sociedade civil, vitais para o funcionamento, por exemplo, de delegacias de polícia e unidades da Emater.

Filantrópicos beneficiados

Por iniciativa do deputado estadual Arlen Santiago (Avante), a Assembleia aprovou ontem, por maioria absoluta dos presentes (52 votos e um branco), a proposta que autoriza o repasse direto de emendas parlamentares a hospitais filantrópicos em anos eleitorais. A medida alcança ainda asilos, vilas vicentinas e Apaes. “A medida será importante para dar maior suporte financeiro a essas instituições, que não param de trabalhar em anos eleitorais e atendem atualmente mais de 70% dos pacientes do SUS em Minas”, argumentou Santiago.

Ideologicamente ingratos

Durante a forte manifestação dos servidores, especialmente da Educação, contra o RRF de Zema, na terça (7), dentro e fora da Assembleia, nenhum deputado governista defendeu o projeto. Ao contrário, apenas dois deles subiram à tribuna para atacar, especialmente as professoras e a qualidade do ensino. Devem ter se esquecido de quem os alfabetizou. Da mesma forma que atacam os demais servidores públicos, como aqueles médicos e enfermeiros que fizeram o parto deles, os que adotaram os primeiros cuidados pediátricos e os que lhes deram as primeiras vacinas. Esqueceram também os policiais que sempre fizeram a segurança pública onde vivem. Hoje estão lá, bem-sucedidos, saudáveis e com furor ideológico afiado.

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