O Banco Central avisou que vai reduzir o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) a partir de junho, muito provavelmente para 0,25 ponto percentual. Em maio, como já antecipou o Comitê de Política Monetária (Copom), o alívio no custo do dinheiro será de 0,5 ponto. A Selic está em 10,75% ao ano, bem longe dos 9% projetados para dezembro próximo pela maioria dos especialistas. A cautela do BC tem a ver com as incertezas sobre a inflação, que subiu 0,83% em fevereiro, e com o ambiente nada animador no exterior.


É compreensível a preocupação da autoridade monetária. Até agora, desde que começou a baixar os juros, tem conseguido manter as expectativas de inflação entre os agentes econômicos muito próximas da meta de 3% ao ano sem comprometer o crescimento econômico. Os principais indicadores apontam que a atividade está caminhando num ritmo acima do estimado inicialmente, com o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial avançando.


Esse quadro benigno ainda não contempla a totalidade do impacto da queda da taxa Selic, de três pontos percentuais, nas seis últimas reuniões do Copom. Ou seja, tanto a produção quanto o consumo vão se beneficiar, mais à frente, do alívio monetário, o que tenderá a dar um novo fôlego ao Produto Interno Bruto (PIB). É por isso que parte dos analistas já estima crescimento de até 2,6% neste ano, que, se confirmado, será uma vitória para o governo. No início de 2024, todas as previsões apontavam para um salto de, no máximo, 1,5%.


Na avaliação do BC, a política monetária mais restritiva neste momento é fundamental para que se mantenha o equilíbrio entre inflação nas metas e crescimento mais forte da economia. Nada impede que, mais à frente, se as boas notícias se confirmarem, o Copom volte a acelerar o passo. Já se antevê para os próximos meses, por exemplo, a queda dos preços dos alimentos com a entrada da safra de verão. Vale lembrar que, na última semana, o arroz ficou 14% mais barato no atacado e o feijão teve baixa de 5,4%.


Há outro ponto importante a ser ressaltado e que está sendo observado com lupa pelo Banco Central e pelos especialistas: o comportamento das contas públicas. Como janeiro e fevereiro registraram arrecadação recorde de impostos, devido ao ritmo mais forte da economia, começa a ficar mais provável o cumprimento da meta fiscal de déficit zero neste ano. Pelos cálculos do Tesouro Nacional, no primeiro bimestre do ano, houve um rombo de R$ 9,3 bilhões, o equivalente a 0,1% do PIB.


Mais: um mapeamento feito pelo Bradesco identificou que, nas últimas semanas, foram anunciados investimentos de quase R$ 70 bilhões no país, reforçando a volta da confiança no empresariado. Já os índices que medem a percepção dos consumidores sinalizam que eles estão mais propensos a satisfazerem as suas necessidades de compras. É tudo o que a economia precisa para deslanchar.


No exterior, os bancos centrais das principais economias ainda estão reticentes quanto ao início do processo de redução dos juros, diante da persistência da inflação. O Federal Reserve (Fed), o BC norte-americano, já se comprometeu em promover pelo menos três cortes na taxa básica neste ano, sem indicar o início desse movimento. Mas tão logo o afrouxo monetário comece, o Brasil poderá se beneficiar. É questão de paciência para não se colocar a perder todas as conquistas obtidas até agora.


Os ventos ainda que fracos são favoráveis. Portanto, nem o governo nem o Congresso devem desafinar o coro para que a população seja a grande beneficiada em um ambiente econômico mais favorável. Manter os dois pés bem fincados no chão, além de prudência, significa responsabilidade. O Banco Central segue à risca essa cartilha. E não por excesso de conservadorismo, pois ninguém aguenta mais o Brasil convivendo, a todo momento, com solavancos e incertezas. Os que prezam pelo bom senso agradecem.

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