O que farão os Estados Unidos se Nicolás Maduro se declarar vencedor nas eleições na Venezuela? E se a oposição ganhar? É uma incógnita, mas os analistas consideram que deve haver uma coordenação com Brasil e Colômbia.
"Queremos examinar todas as informações" das eleições presidenciais de domingo e "então tomaremos uma decisão", afirmou na quarta-feira (24) o chefe da diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina, Brian Nichols, durante uma sessão no Congresso.
"Não vamos nos apressar em julgar", disse ele ao subcomitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes.
Nichols lembrou que a lei venezuelana permite que o conselho eleitoral anuncie o resultado no dia seguinte às eleições e tem até 2 de agosto para publicá-los de forma detalhada.
O chavismo enfrenta seu momento mais difícil em 25 anos.
O presidente Maduro, no poder desde 2013, enfrenta uma oposição que lidera quase todas as pesquisas, apesar de a líder María Corina Machado não ter conseguido concorrer devido a uma inabilitação política. Edmundo González Urrutia será o candidato.
A outrora quinta economia mais rica da América Latina enfrenta uma crise que levou mais de 7 milhões de venezuelanos para o exterior, segundo a ONU. Muitos foram para os Estados Unidos, que não mantêm relações diplomáticas com a Venezuela desde 2019.
Naquele ano, o governo do então presidente republicano Donald Trump impôs uma série de sanções ao país caribenho, incluindo um embargo ao petróleo e ao gás, na tentativa de derrubar Maduro após as eleições de 2018, consideradas fraudulentas.
O democrata Joe Biden optou por uma política mais aberta e retomou o diálogo com Caracas, o que possibilitou estabelecer as bases para as eleições deste domingo.
Biden até levantou parcialmente algumas sanções, mas as restabeleceu ao perceber que o governo de Maduro não estava seguindo o roteiro eleitoral e prendia opositores.
- Três cenários -
Em um memorando, o Centro para a América Latina Adrienne Arsht e o Instituto Jack D. Gordon de Políticas Públicas da Universidade Internacional da Flórida estimam que Washington deve se preparar para três cenários.
Um é que Maduro seja declarado vencedor sem evidências de fraude; outro é que o líder chavista se declare vencedor, apesar de irregularidades; e o último é a vitória da oposição.
Michael Shifter, ex-presidente do Diálogo Interamericano, uma organização com sede em Washington, aconselha os Estados Unidos a evitar o "aproveitemos o petróleo e tentemos controlar a migração".
Ele sugere que seja preferível focar em ser um "canal de comunicação" em uma "eventual negociação política", trabalhando com a oposição para proporcionar proteções e garantias a Maduro e outros funcionários chavistas, facilitando assim uma transição, explicou à AFP.
Se houver fraude, a pressão será enorme, especialmente durante a campanha para as eleições de novembro nos Estados Unidos, nas quais Donald Trump e muito provavelmente a vice-presidente democrata Kamala Harris se enfrentarão.
É muito provável que vozes se levantem pedindo medidas drásticas, como a reimposição de todas as sanções e a revogação da licença da gigante americana Chevron.
No entanto, Shifter argumenta que tais medidas seriam contraproducentes, pois são ineficazes e prejudicam as pessoas erradas, piorando a crise humanitária e incentivando a migração.
Rebecca Hanson, professora do departamento de direito da Universidade da Flórida, concorda que as sanções têm pouco ou nenhum impacto nos cálculos políticos de Maduro.
- Brasil e Colômbia -
Em caso de fraude em larga escala, Shifter estima que o governo Biden trabalhará com Brasil e Colômbia para convencer o chavismo de que a situação não é sustentável, que os venezuelanos não a aceitarão e haverá distúrbios.
No memorando, o Centro para a América Latina Adrienne Arsht e o Instituto Jack D. Gordon de Políticas Públicas concordam com a importância de promover uma "resposta regional" liderada por estes dois países.
"Independentemente do resultado", os Estados Unidos devem considerar "os benefícios a longo prazo de uma maior presença ocidental na Venezuela", atualmente aliada à China, Rússia e Cuba, acrescentam.
Será mais fácil se a oposição vencer.
"É absurdo, para não dizer incrível, que já estejamos há 10 ou 12 anos sem uma embaixada diplomática em Washington", disse González Urrutia, diplomata de carreira, em uma recente videoconferência com o Wilson Center, dos EUA.
González Urrutia deseja restaurar imediatamente uma "relação amistosa" com os americanos.
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