Os Jogos Olímpicos de Paris serão um "alvo" dos 'hackers', incluindo Estados interessados em "perturbar a cerimônia de abertura e causar problemas no transporte público", segundo Vincent Strubel, diretor-geral da Agência Francesa de Cibersegurança (ANSSI).

A França acuou no passado a Rússia de realizar campanhas de desinformação e ataques cibernéticos, e atualmente as relações entre Paris e Moscou estão em um momento especialmente tenso, em plena guerra na Ucrânia e com duras declarações de ambos os governos.

Neste contexto, "está claro que os Jogos Olímpicos serão um alvo", disse Strubel em entrevista à AFP durante uma conferência de cibersegurança em Lille (norte da França).

"Estamos nos preparando para todo tipo de ataque, tudo o que vemos diariamente, mas em maior escala, mais numerosos e mais frequentes", acrescentou o especialista.

A Rússia acusou o Comitê Olímpico Internacional de "racismo e neofascismo" depois que os atletas do país foram proibidos de participar da cerimônia de abertura dos Jogos no dia 26 de julho.

Grande parte dos atletas russos foram excluídos do esporte mundial, e espera-se que apenas alguns deles participem dos Jogos sob bandeira neutra.

Outras ameaças são os "cibercriminosos" que tentam aplicar golpes durante o evento, assim como 'hackers' "ativistas" que tentam causar problemas por diversão ou publicidade.

"Para mim, o pior cenário seria sermos inundados por ataques de pequena escala e não prevermos um ataque mais sério contra infraestruturas críticas de transporte ou de energia que tenham um papel vital durante os jogos", disse Strubel à AFP.

- O exemplo do Japão -

A companhia de telecomunicações japonesa NTT, encarregada de fazer a segurança informática dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, informou 450 milhões de ataques cibernéticos individuais durante a última edição, quase o dobro dos registrados nas competições de Londres-2012.

Muitos foram ataques de degeneração de serviço atribuído (DDoS), que paralisam os servidores que hospedam um site, bem como tentativas de 'hacking', falsificação de e-mail, ataques de phishing e sites piratas.

Os serviços de inteligência militar russos foram acusados pelos Estados Unidos de estarem por trás do malware chamado "Olympic Destroyer" pouco antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang 2018, na Coreia do Sul, dos quais os atletas russos foram excluídos.

O malware danificou milhares de computadores que davam suporte aos Jogos de Pyeongchang, tornando-os inoperantes.

Outros especialistas sugeriram que o sistema de venda de ingressos online para os Jogos de Paris, as redes informáticas dos locais de competições e o sistema de resultados podem ser alvo de ataques.

Uma grande crise financeira envolveu a principal empresa francesa de serviços informáticos e cibersegurança, a Atos, justamente na preparação para desempenhar um papel crucial durante os Jogos.

O grupo, muito endividado, cujas ações perderam cerca de 90% de seu valor desde julho do ano passado, é o principal parceiro tecnológico do Comitê Olímpico Internacional desde 2002 e é um provedor crítico de cibersegurança para os Jogos de Paris.

"Obviamente, estamos particularmente vigilantes, o que pode ser visto em nossas auditorias dos sistemas da Atos que serão utilizados nos Jogos e em outros sistemas críticos", disse Strubel.

"Mas não vemos nenhum perigo neste momento, então não há com o que se preocupar", acrescentou.

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