Em minha última ida à Inglaterra conheci um padre católico, mineiro do interior, que imagino ter pouco mais de 30 anos de idade. Estava de férias passando uns dias com o irmão que mora em Londres há tempo suficiente para ter se tornado cidadão. Juntos, exploraram a Inglaterra e a Grécia, um desejo antigo de ambos. Era a primeira vez que o padre saía do país.


Observando as pessoas enquanto “turistava”, o jovem padre comentou que acha as mulheres brasileiras bem mais bonitas que as inglesas e as europeias de uma maneira geral. Como de se esperar, algum desconectado fez a seguinte observação:


-Mas você não é padre?
-Sei apreciar a criação de Deus!, respondeu com ironia e razão.


Desumanizamos aqueles que fazem opções nas quais não nos encaixamos; os tornamos seres extraordinários incapazes de responder a instintos biológicos e emocionais próprios a todos.
Outro desavisado, ao saber que o irmão do padre é homossexual assumido e casado de papel passado com um homem, ficou surpreso.


-Mas um padre com irmão gay? Não combina, comentou. Observação infelizmente ainda tão presente a nossa volta.


Fico imaginando o quão assustador esse padre pareceria para alguns ao escutarem as opiniões dele sobre aborto e suicídio. Não que se posicione a fazer de um e de outro, mas consegue entender o que leva alguém a praticar estes atos.


-Não estou na pele de pessoas que só veem estas saídas para suas vidas, por isso não me cabe julgar e muito menos condenar. O que posso fazer é ouvi-las, acolhê-las, orientá-las e me colocar à disposição delas nas horas difíceis, sem abandoná-las independentemente do rumo que elas escolherem tomar.
E pelo gosto dele pela cerveja inglesa, imagino que os faça com prazer também nas horas fáceis. Afinal sabemos que existem muitas criações dos homens dignas de serem apreciadas.

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