Nesta semana completo 61 anos. Não costumo fazer comemorações aos moldes de festas. Quando criança, meus pais recebiam meus avós, tios e primos e fazíamos uma travessa grande de batatinha frita daquele tipo laminado. Meu avô adorava, e as crianças também. Isso, e uma coisinha a mais, eram suficientem para fazer a minha alegria. Agora, me basta uma garrafa de espumante ou similar, queijo francês, pão italiano, meu marido e quem estiver por perto.


Algumas mensagens de congratulações respondidas com afetuosos emojis de coração. Quem se esquece, ou melhor, é como eu e não faz uso de mecanismos tecnológicos para se lembrar, não acaba em uma lista de desafetos. Sou péssima para datas, então não posso cobrar de ninguém, até porque isso não comprova nenhuma amizade sincera. Confesso que, na véspera, envio mensagem para meus filhos não se esquecerem, pensando mais em quanto eles se sentiriam constrangidos do que em uma possível decepção de minha parte.

 




Não vejo problema em revelar minha idade. Afinal, ela atesta uma grande realidade. Se depender da genética, tenho minimamente mais 34 anos de vida. Meu pai faleceu dois meses antes de completar 94 anos e minha mãe tem 95 anos com toda lucidez possível e bastante mobilidade e agilidade.


Se a vida seguir seu curso e eu não for pega por alguma fatalidade, tenho pela frente muita vida. Às vezes, me pego imaginando como estarei daqui a dez, vinte, trinta anos. Estarei metida em quê? Há dez anos, não imaginava que hoje meus dias estariam sendo preenchidos pela costura e os projetos de ajuda humanitária com os quais me envolvi. Não me passava pela cabeça que eu cruzaria o oceano algumas vezes sozinha para passar dois meses por ano em países africanos no meio de uma miséria extrema. E, para piorar, falando um inglês mequetrefe.


Entrei no modo “deixa a vida me levar” e me alimento do que ela me oferece. Alguns diriam que essa é a melhor contribuição da maturidade. Fazer planos, claro, mas se abrir para todo tipo de oportunidade que surgir no meio do caminho. A vida muda de curso como um rio, algumas vezes de súbito, outras de maneira sútil; às vezes dá voltas enormes para chegar perto do ponto de partida. Mas, certamente, todo o percurso pode ser muito bem aproveitado. Depende de nós.

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