WASHINGTON – Aqui estou na capital dos Estados Unidos, para a cobertura do sorteio da Copa do Mundo 2026, que será sediada, em conjunto, pelos próprios americanos, mexicanos e canadenses. Conheceremos amanhã os 12 grupos de quatro seleções, já que, a partir deste Mundial, teremos 48 seleções e 104 jogos, o que implica dizer que a Fifa quantificou a competição em detrimento da qualificação, da técnica, da arte. Para ela, interessa saber quantos bilhões de francos suíços entrarão em seus cofres e também em agradar as confederações, que elegem o presidente da entidade. Gianni Infantino surgiu como solução, após a renúncia de Joseph Blatter, em 2015, e de lá para cá acumula mandatos e o continuísmo. Acho que ele é um grande presidente, ético, sério, mas também entendo que alternância no poder e num cargo tão visado, é importante. Entendo também a importância de termos mais povos representados por suas seleções, mas é sabido que o nível técnico vai cair e muito. Teremos seleções inéditas neste Mundial, como Cabo Verde, Curaçao, Jordânia, Uzbequistão. E esse número pode crescer com a repescagem, caso Nova Caledônia se classifique na repescagem.
Sou de uma época em que a Copa do Mundo era disputada por 16 seleções, e os jogos eram fantásticos, com grandes clássicos e grandes decisões, com número de gols em excesso. João Havelange, que ficou como presidente da Fifa durante 24 anos, aumentou esse número para 24, o que era aceitável, sem muita queda no nível técnico. Foi quando, em 1998, aumentaram para 32 equipes e o nível técnico foi lá embaixo, haja vista que, depois disso, tivemos as decisões nas penalidades, em 2006, Itália campeã, e 2022, Argentina campeã. Vale lembrar que a primeira Copa decidida nos pênaltis foi em 1994, no empate entre Brasil e Itália, com o time brasileiro garantindo o tetra. Agora, com 48 seleções, teremos jogos sofríveis, que darão sono e com nível técnico bem ruim. Se as grandes seleções já não encantam mais, imaginem as estreantes. É muita seleção e muito jogo. E não para por aí. Teremos em 2030 uma Copa do Mundo com 48 seleções, em três continentes diferentes: Europa (Portugal e Espanha), África (Marrocos) e América do Sul (Uruguai, Paraguai e Argentina). Estão descaracterizando a Copa e só falta mesmo resolverem fazer a competição de 2 em 2 anos.
O que está feito e decidido não tem volta, e vamos nos contentar com esse novo modelo e torcer para que tenhamos alguns grandes jogos. Portugal, França, Inglaterra, Argentina, Espanha e Holanda praticam o melhor futebol do mundo. A Seleção Brasileira, que vai igualar seu maior jejum de 24 anos sem ver a cor da taça – anteriormente ficamos de 1970 à 1994 –, vive um momento conturbado. Buscou o melhor técnico do mundo, o italiano Carlo Ancelotti, mas tem um time duvidoso, com um meio-campo fraco e uma defesa instável. Salvam-se os jovens atacantes como Vini Júnior, Rodrigo, Raphinha, Matheus Cunha, mas, ainda assim, nenhum deles é protagonista nos clubes onde atuam, e o Brasil jamais foi campeão do mundo sem protagonistas. Na última edição que ganhamos, em 2002, tínhamos, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho, Rivaldo, Cafu e Roberto Carlos.
Enfim, as bolinhas vão girar no globo amanhã conheceremos os grupos para o Mundial 2026. Tenho uma premissa de que a Copa do Mundo para as grandes seleções se resume a três jogos: quartas de final, semifinal e final. Na primeira fase, normalmente, elas pegam grupos fracos. Se uma ou outra seleção forte ficar em segundo lugar, aí poderemos ter um confronto forte nas oitavas, mas, se isso não acontecer, somente nas quartas de final, e é aí que mora o perigo, pois exceção feita em 2014, quando avançamos à semifinal e tomamos de 7 da Alemanha, nas outras edições caímos justamente nas quartas. Eu torço e espero ver o Brasil campeão, mas sendo sincero, não acredito nisso. Não temos um time confiável, embora tenhamos um grande treinador. E a pergunta que a torcida faz é a seguinte: “Ancelotti é italiano e a Itália ficou fora das últimas duas edições de Copas do Mundo, e corre o risco de ficar fora, pela terceira vez consecutiva, pois está na repescagem. Então, porquê Ancelotti não foi treinar a equipe de sua pátria natal? Seria o mais lógico e coerente. Mas já que ele optou pelo Brasil, boa sorte, mister, confiamos muito em seu trabalho, embora os números não sejam bons. Bom sorteio e que o Brasil possa cair num grupo tranquilo e sereno, para que os torcedores que venham para cá possam ter, pelo menos, o alento de ganhar os três primeiros jogos.
