Curió, Morango, Piranha, Catatau e Pinel; Feijão, Cocota e Pequeno; Suíno, Bossal e Badislau. Pode parecer estranho, pode não, é estranho, mas essa é uma escalação do Colégio Arnaldo. Verdade que estou juntando duas categorias. Ainda tem o Bode, Vovó, Pistulim, Meitola, Jardim, Berê, Caxaú, Caveira, entre outros. Seria um time de respeito, que poderia, tranquilamente disputar um dos muitos campeonatos colegiais da época e vencê-lo, com tranquilidade. O técnico era o Tarcísio, que a gente chamava de Tatá.
Pois é. Era uma época em que os apelidos faziam parte da vida. Quase ninguém, num grupo de amigos, tinha nome. Todos se chamavam por apelidos. Na minha rua, a Dante, por exemplo, tínhamos o Escovinha, o Gordo, o Cacau, Bagunça, Totoso, Neco, Tim, Guta, Lamparina, Gaguinho, Popola, Cadinho, Quinzinho, Juleba, Caqui, Chico e por aí afora.
Era assim nos anos 1960 e 1970. A amizade estava em alta e fazia parte dela chamar os amigos por apelidos. De certa forma, era uma maneira de demonstrar o quanto aquela amizade era importante; era como entrar, de certa forma, na intimidade do amigo.
Muitas vezes, as pessoas tinham um apelido em casa, outro na rua – como a gente chamava a vizinhança onde morava – e ainda outro na escola. Isso mesmo. Muitas vezes, a gente entrava na sala de aula e já ganhava um apelido. Pela maneira de ser, de se comportar.
Mas não era assim com todo mundo. Muitas vezes, vinha de outras atividades, como o esporte. E por falar nisso, o futebol, hoje, chama a atenção.
Antigamente, era Pelé, Garrincha, Tostão, Quarentinha... Eram craques. Os craques tinham apelidos. Hoje, nem tantos craques existem e, pior, o jogador tem dois nomes. Isso mesmo, nome e sobrenome. A maioria sequer consegue carregar um só, mas leva dois. E não joga nem por um.
Mas naquela época, o apelido, muitas vezes, era tudo. Se tinha respeito, por exemplo, pelo apelido simbolizar o que o jogador era. Pelo menos no Colégio.
Nesse time que citei, Curió, que hoje é escritor, ganhou o apelido porque levava passarinhos para o professor de inglês, que era também ornitólogo. Como tinha dificuldade com a língua, levava os pássaros para amaciar o professor e assim passar de ano, apertado, mas passava.
Morango era chamado assim, mas era um mistério, pois quem colocou o apelido foi o Badislau, o ponta esquerda que ninguém sabe porque era chamado assim pelos mais chegados.
Eu e Valdir o chamávamos de “morango”" porque era o código para darmos uma passeada no jardim/pomar do colégio para admirar e degustar alguns dos vistosos e deliciosos morangos cultivados pelos padres... saudades enormes desse querido amigo e craque de bola.
Piranha, era por causa da posição. Jogava duro e por isso, um dia, ganhou o apelido. O professor de história, antes do início do campeonato do colégio, resolveu escalar o time e, consequentemente, escalar por apelidos. Inicialmente, o time de futebol de salão.
Assim, colocou no quadro Gordo, o apelido do goleiro. O beque, falou o nome, mas este não tinha apelido. Era um problema. O resto do time tinha Cabeção, Feijão e Bolacha. Mas e o beque. Ele tinha de ter um apelido, segundo o professor, já que todo time tinha.
Perguntou para a sala e o mais quietinho, que se assentava na frente, na primeira carteira, levantou a mão. O professor perguntou qual seria. Ele falou e explicou: “Piranha, pois morde muito os adversários. E assim foi batizado. Catatau, porque era baixinho e lembrava um personagem do desenho animado do “Zé Colmeia”. Pinel, porque diziam que era meio doidinho.
Chega a vez do meio de campo. Feijão era chamado assim na sua casa, por causa de uma pinta acima do lábio. Cocota, porque era pequenino. Pequeno, também era baixinho.
No ataque, Suíno. Aliás, este tinha uma série de outros apelidos, mas esse porque ficava arrotando ao tomar refrigerantes. Bossal já chegou na sala e no time conhecido assim. Tinha tomado bomba. Era repetente. Talvez tenha sido por isso. E Badislau.
Mas havia outros. Vovó, só virou Vovó por causa do Pinel, que o chamava de Mama’s, do italiano. Aí, virou Vovó, porque foi participar de uma encenação na sessão literária e fez o papel de uma avó.
Bode, porque cultivava um cavanhaque que mais se parecia com um desse animal. Pistulim. Sobre esse apelido, melhor não falar nada. Meitola, porque era cabeça dura. Jardim era o sobrenome. O irmão dele era alto, tinha um pescoço comprido e ficou conhecido por Girafa.
Berê, esse, por causa da sua irmã. Ela era linda. E todo mundo, para mexer com ele, o chamava de Berenice. Mas não ficava bem para um centroavante rompedor. Aí, abreviaram.
Caxaú, porque diziam que era um bicho pequeno, com pelo ouriçado. Ele era baixinho e tinha cabelos louros, ouriçados. Agora, ninguém sabe explicar, desenhar ou tem uma foto do bicho pra gente ver. Caveira era irmão do Suíno e o apelido veio por causa do irmão mais velho, que era chamado, também de “Caveira”.
Até hoje, essa turma se trata pelos apelidos, tamanha a amizade.
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