“Tratar da fonte, pra ela não secar”. Esse é um antigo dito, que escuto desde pequeno e que tem a ver com a preservação da fonte de água, essencial à vida. Mas, pelo que vemos, no mundo, a grande maioria não está preocupada com isso. Pois é, isso acontece também no esporte, especialmente no futebol brasileiro.
Estão matando a fonte, secando a fonte. Os grandes clubes querem aparecer, fazer negócios, mexer com milhões, bilhões, em dinheiro. Criaram as ligas, na Europa e no resto do mundo. Aqui, temos as Séries A, B. C e D.
Flamengo e Palmeiras são os clubes mais ricos do Brasil, os que mais investiram. Arrotam isso e acham bonito. E o fazem em detrimento do próprio futebol. Não têm escrúpulos os dirigentes que estão preocupados com o bolso, em enchê-lo.
A consequência disso, do fracasso desse modelo, pode ser visto na Seleção Brasileira. Justamente. Nossa Seleção é, hoje, pobre, muito pobre. Não temos grandes jogadores, que são raros por aqui. Falta, principalmente, um armador, da categoria de Didi, Gérson, Rivelino, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Zé Carlos, Amauri Horta, entre tantos outros.
Estão matando o futebol brasileiro dentro de casa. A começar, pelo descaso com o campeonato estadual. Não se pode assassiná-los, como estão fazendo, pois eles são a fonte. É onde surgem grandes jogadores.
Volto no tempo para exemplificar. Pelé não nasceu em Santos. Pelé é de Três Corações. Antes de ir para o Santos, jogou no São Bento de Sorocaba, na base, onde foi descoberto pelo Peixe.
Bem antes, na década de 1930, houve um craque saído de Minas Gerais. Falo de Perácio, do Villa Nova, de Nova Lima. Perácio era dono de um chute portentoso, que chegou a quebrar um travessão. E do Villa Nova, foi para o Botafogo e depois para o Flamengo. Foi titular da Seleção Brasileira na Copa de 1938, na França.
Vem a década de 1940 e 1950 e surge, também no Leão do Bonfim, Escurinho, que vai para o Fluminense e se torna um dos mais importantes jogadores da história do clube.
O tempo passa. O Brasil é campeão do mundo pela primeira vez, na Suécia, em 1958. Lá estava o mineiro Pelé. Mas não era só ele. Um dos zagueiros, Mauro, também era mineiro: nasceu em Poços de Caldas. Jogou em times amadores da cidade (Cascudinho, Caxias, RAF) e foi para a Caldense, onde despontou. Em 1948 estava no São Paulo e de lá, para a Seleção. Não só campeão mundial, mas bicampeão do mundo.
Mais pra cá, dois grandes craques, que foram ídolos da torcida do Atlético. O primeiro, Luizinho, um dos maiores zagueiros que este país já viu. Luizinho foi revelado pelo Villa Nova. Foi contratado ainda no Mineirão, depois que o Atlético goleou o time de Nova Lima, por 5 a 1 – melhor em campo, Luizinho chegou ao Mineirão como jogador do Villa e saiu de lá contratado pelo Atlético.
Outro, Reinaldo, o Rei, que é de Ponte Nova. E foi revelado lá, na base do Pontenovense. Num jogo do Atlético, com o que mostrou em campo, deixou a comissão técnica e um diretor que acompanhava na viagem loucos. Resultado. Trouxeram Reinaldo para o Galo.
Vamos rodar mais o estado. O Valério revelou também grandes jogadores. O centroavante Milton, por exemplo, que de Itabira foi para o Flamengo, onde foi artilheiro e ídolo, e foi jogar no México. Chegou a ser cotado para a Seleção Brasileira.
Lembro do Formiga, da década de 1960, dos atacantes Cristóvão e Adinam, emprestados pelo Corinthians. Fizeram história no Mineiro de 1968. Terminaram na quarta colocação. Um feito, até hoje celebrado por seus torcedores.
Casagrande, centroavante do Corinthians e Seleção Brasileira, disputou uma Copa do Mundo. Só se firmou como jogador, ao ser emprestado para a Caldense, pois não havia espaço para ele no Corinthians. Veio para Poços de Caldas e se tornou o vice-artilheiro do Mineiro. O time paulista, rapidamente o reintegrou.
E o Siderúrgica, campeão Mineiro duas vezes, em 1937 e 1964. Tião Cavadinha foi contratado, lá, pelo Atlético. Além dele, o lateral-esquerdo Dawson, que foi para o Atlético; Silvestre, para o América; e o treinador, Yustrich, o “Homão”.
Pois é. O futebol brasileiro precisa de suas equipes regionais, dos times do interior. Eles são a base. E em função desse esquecimento, o futebol brasileiro vai se afundando cada vez mais. Por favor, é hora de acordar. “Cuidar da fonte, pra ela não secar”, repito.
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