Berseba é uma das cidades mais importantes de Israel, mas sua importância vai muito além, ao mesmo tempo a principal cidade ao sul, e a porta de entrada da região do Neguev, um imenso deserto que ocupa mais da metade do território de Israel.

A prefeitura e o governo federal lançaram, recentemente, um plano de investimentos da ordem em R$ 2 bilhões (NIS$ 1,2 bilhão em moeda local, o Novo Shekel), para fortalecer e potencializar vocações existentes, atraindo investimentos privados, empresas, empregos, pessoal de alto nível e imigrantes de outros países.

O principal motor ali é a interseção da medicina e da biologia com a tecnologia e as comunicações, em um polo de tecnologia biomédica.

Ao poder público, cabem um novo sistema de transporte leve sobre trilhos (o VLT) e outras obras viárias, incremento das rodovias de acesso à metrópole, infraestrutura de telecomunicação por satélite, renovação urbana de parques, praças, escolas, novos centros culturais, recreativos e esportivos para população, incremento nas estruturas de segurança, defesa civil e corpo de bombeiros.

Para além da melhoria da infraestrutura e regeneração urbana, a construção de um novo campus de pesquisa e desenvolvimento em medicina e biotecnologia, um laboratório internacional de inteligência artificial e a reconstrução (com ampliação e melhoria) do Hospital de Soroka, destruído no recente ataque do Irã.

Integram o plano ainda a ampliação da zona industrial, benefícios e incentivos para startups, empresas no setor de defesa, iniciativas voltadas à inovação de todos os tipos, turismo e hospitalidade (aos últimos, subsídios para a construção de hotéis).

“Costurando” essas iniciativas, esses movimentos e essas obras propriamente ditas, programas de reabilitação de empregados, com cursos, treinamentos e preparação da população local nas áreas de interesse, uma vez que um dos objetivos do grande programa de investimentos é melhorar a ocupação e os salários da população local e criar condições para que Berseba seja o novo polo de atração de jovens imigrantes vindos de todo o globo, fazendo da cidade o destino preferencial tanto de trabalhadores qualificados, quanto de imigrantes sem maiores qualificações.

Dada a capacidade de realização e superação de desafios, as probabilidades de que esse plano (e seu programa de investimentos e incentivos) se tornem realidade são bastante grandes, mesmo que com alguns ajustes necessários ao longo do tempo.

A isso chamamos “profecia autorrealizável”, em que um desejo é traduzido num bom plano, desdobrado num programa inteligente e implantado com competência, determinação, vontade política, apoio da população e supervisão e controle.

Corta para Minas Gerais e Belo Horizonte.

Minas Gerais tem a mais antiga agência de promoção estadual do Brasil (1968), a Invest Minas, que, em conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento do Estado, tem feito um trabalho de alto nível, competência técnica e, não por acaso, registra um histórico de sucesso invejável nos últimos seis anos, depois de anos de politização e paralisação. São R$ 482 bilhões em atração de investimentos em 1.020 projetos atraídos para o estado e 950 mil empregos gerados, segundo os dados informados (2019 a 2025).

Com o sucesso e o aprendizado estadual, a entidade vem, agora, apoiando a criação de uma agência de promoção municipal, a Invest BH, com foco no fortalecimento das vocações de Belo Horizonte que, curiosamente, são bastante semelhantes às de Berseba: tecnologia em geral, ciência da computação, biotecnologia, excelência médica, pesquisa de alto nível e turismo de negócios (fortemente potencializado aqui em BH por uma setor descomunal que Berseba não possui, o de mineração).

Belo Horizonte já teve mais relevância (e mais PIB, mais empregos) nacional, mais empresas de grande porte sediadas no município, mais empregos de alto nível e maior dinâmica no turismo de negócios. Por alguma razão (que merece estudo), aceitou “terceirizar” a missão do crescimento para Nova Lima e assistiu passivamente à mudança de grandes empresas para São Paulo.

Nesse movimento, a cidade assiste à partida de pesquisadores, de cientistas, de empreendedores, de professores; assiste feiras de negócios e eventos empresariais trocando Belo Horizonte por São Paulo; e assiste um empobrecimento geral no comércio e serviços.

O que espanta, quando se olha para os últimos 25 ou 30 anos, é a passividade, a inércia, talvez a falta de entendimento dessa desidratação continua, de seus impactos já presentes e visíveis e dos impactos futuros.

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Parece que, com a Invest BH, a cidade volta a encarar o desafio, delineando projetos, estratégias e planos para resgate, potencialização e amplificação das forças, dos potenciais e vocações que Belo Horizonte ainda tem.

O momento é de união e mobilização de esforços. E isso é urgente.

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