Por Alexia Diniz


Se você achava que o universo dos influenciadores financeiros já tinha chegado ao ápice com vídeos de “como ficar rico tomando banho frio”, respira fundo.

O relatório Finfluence 9, da Anbima com o Ibpad, chegou trazendo números tão grandes que dão até vontade de investir… em canais no YouTube.O ecossistema cresceu, se profissionalizou, se diversificou e, claro, ficou ainda mais engraçado de observar.

YouTube: o sofá vira sala de aula e a TV aberta perde mais um campeonato

O YouTube finalmente assumiu o que já era evidente: virou o Enem das finanças. Mais vídeos, mais seguidores e mais engajamento, tudo subindo junto feito ação na euforia.

Agora a galera assiste pelo sofá, na smart TV, como quem troca novela por debêntures. A plataforma cresceu mais de 15% em seguidores e aumentou o número de publicações sobre finanças.

Isso diz muito sobre o público brasileiro, que aparentemente decidiu que aprender a investir é mais interessante do que discutir horário de verão no X (antigo Twitter). Segundo a Anbima, o comportamento agora é de quem pausa o vídeo, abre o app do banco e tenta replicar o que viu, com sucesso variado, claro.

803 influenciadores Finfluence

O relatório mostra 803 influenciadores ativos, um aumento de 8,4% em relação ao semestre anterior. É gente demais dando opinião sobre CDB, fundos, FIIs e sobre como “você está investindo errado”.


A audiência geral chegou a 287,8 milhões de seguidores. Ou seja, mesmo considerando que uma pessoa pode seguir mais de um influenciador, acho que já dá pra dizer que a maior parte da população do Brasil já segue pelo menos um guru que diz que o segredo da riqueza é acordar às 5h.

Além disso, foram 432 mil publicações sobre finanças, porque aparentemente ninguém mais guarda opinião, todo mundo posta.

Engajamento bilionário: o like virou o novo CDI

As interações ultrapassaram 1,18 bilhão no semestre. Se cada curtida fosse um centavo num Tesouro Selic, metade dos influenciadores já estaria aposentada.

Mas como não é, seguimos todos aqui consumindo conteúdo e fingindo que não estamos procrastinando. Esse engajamento mostra que o brasileiro está realmente procurando aprender sobre dinheiro.

E também mostra que o brasileiro ama um debate, especialmente quando envolve alguém falando que “renda fixa é para covardes”. Mas vamos ser honestos? Não é.

Tchau criptomoedas mágicas, olá diversificação racional

Um dos recados do Finfluence 9 é que a galera começou a se interessar por temas mais pé no chão.  Os conteúdos que mais cresceram em engajamento são sobre diversificação, novos produtos e onde investir sem se arrepender depois.

Até parece que estamos amadurecendo… financeiramente, pelo menos. Segundo a Anbima, quem pretende investir está buscando entender o básico antes de apertar o botão “confirmar aplicação”.

Aparentemente, a fase do “invista em qualquer coisa com ‘3.0’ no nome” ficou pra trás. Agora a busca é por consistência, e menos promessas de enriquecer em sete dias.

Certificações entram no jogo: acabou a farra do “especialista de opinião própria”

Pela primeira vez na história do relatório, o Finfluence listou as certificações dos influenciadores. Sim, agora dá pra saber quem tem CNPI, CPA-20, CFP… e quem tem apenas carisma e um ring light potente.

É quase um “cadastro de qualificação do entretenimento financeiro”. A Anbima conferiu um por um dos influenciadores dos rankings.  Nada de “eu tenho certificação, só não achei o PDF”.  Ou tem, ou não tem, simples assim.

Essa mudança dá poder ao investidor, que finalmente consegue distinguir quem está explicando renda fixa e quem está só explicando… sua opinião.  A transparência aumenta, e o risco de cair em recomendação duvidosa diminui.  Pelo menos na teoria.

A diversidade chegou (finalmente) no mundo das planilhas

O estudo também revelou uma audiência cada vez mais diversa. Tem gente jovem, gente mais velha, gente que nunca investiu, gente que acha que Tesouro Direto é tipo Mega-Sena…

E todo mundo está consumindo conteúdo financeiro, o que é ótimo e ao mesmo tempo um pouco assustador, porque tem muita gente que com 30min de vídeo no instagram já sai indicando investimento para o colega de trabalho. Essa pluralidade mostra que a educação financeira está se popularizando.

Não é mais um papo de quem trabalha em banco ou lê jornal econômico no café da manhã.  Agora é assunto de todo mundo, e todo mundo quer entender como fazer o dinheiro render.

A fila dos futuros finfluencers já está dobrando o quarteirão

Apesar dos 1.750 perfis ( e apenas 803 ativos, com publicações e interações) monitorados, a Anbima diz que ainda tem muita gente de fora. Tem criador com audiência enorme que não entrou porque não bateu os critérios mínimos do estudo. Ou seja, a próxima edição promete ter ainda mais rostos dizendo que “não é recomendação”.

Com a bolsa aquecida e a renda fixa ainda pagando bem, a Anbima prevê crescimento contínuo no mercado de influência financeira. Mais temas, mais criadores e, claro, mais debates que começam com “na minha opinião…”. O céu é o limite ou o algoritmo.

A economia melhora, os conteúdos explodem e o investidor… continua com medo do IR

A Anbima aponta que o ambiente econômico mais favorável (bolsa em alta, Selic,  e renda fixa rendendo bastante) incentiva o surgimento de novos conteúdos.  Afinal, nada atrai influenciadores como um gráfico subindo.

Mas, apesar disso, tem um assunto do qualninguém escapa: o imposto de renda. Pode reparar: basta chegar janeiro e todo finluencer vira especialista em malha fina. Não adianta, é inevitável. É o tipo de conteúdo que une o Brasil.

O lado B da finfluência: quando o hype fala mais alto que a lógica

Claro que nem tudo são flores. Alguns criadores ainda vivem de gerar medo, prometer retorno impossível ou dramatizar o que deveria ser simples. É o capitalismo encontrando o entretenimento, e dando match.

Tem canal que recomenda investimento como quem recomenda corte de cabelo. Tem vídeo com título do tipo “Compre isso AGORA”, mas a pessoa não fala o que é até os 12 minutos. E tem live de três horas para explicar algo que caberia numa página do Tesouro Direto.

Mas vamos combinar: o público também gosta de um exagero. Se todo mundo fosse equilibrado e racional, ninguém “viralizaria” explicando a curva de juros futura. O caos faz parte da brincadeira.

Influenciador é profissão? É, e agora tem KPI até pra ironia

O mais curioso do relatório é ver como o mercado está, de fato, profissionalizado. Tem equipe, roteiro, edição, planejamento, linha editorial, funil de vendas e estratégia de engajamento. É quase uma fintech, só que com microfone.

O influenciador financeiro virou uma mistura de professor, comediante, analista e vendedor.  E, por incrível que pareça, essa mistura funciona.  O público aprende, se diverte e volta.

Mas, claro, isso também levanta a pergunta que ninguém quer fazer, se informação é grátis, o produto é quem? Fica aí o suspense.

No fim das contas, o finfluencer virou o novo “primo que sabe tudo de dinheiro”

Lembra daquele primo que na ceia dizia “compra ação da Petrobras que eu ouvi dizer que vai subir”?  Ele ganhou um canal, um estúdio e agora fala para 200 mil pessoas. E sinceramente, é melhor assim, pelo menos dá para pausar.

A finfluência virou porta de entrada para a educação financeira do brasileiro. Tem problemas? Tem. Mas também tem gente séria fazendo conteúdo de verdade, com certificado, estudo e responsabilidade. E se a pessoa aprender a diferença entre Selic e CDI, já valeu.

Principais influenciadores que aparecem no ranking da Anbima

Estes nomes são frequentemente mencionados nos relatórios como mais influentes (sem indicação pública de certificação específica no relatório):

  • Economista Sincero

  • Bruno Perini (Você Mais Rico)

  • Tiago Guitián Reis

  • Nathalia Arcuri

  • Thiago Godoy

  • Renato Breia

  • Investidor Sardinha

  • O Primo Rico

  • Gustavo Cerbasi

Sobre certificações

A Anbima vai destacar quais influenciadores possuem certificação CNPI, CEA, CFP etc., mas isso ainda é novidade no monitoramento e não foi divulgado publicamente perfil por perfil no relatório disponível para leitura aberta.

Ou seja: sabemos quais são os principais nomes influentes, mas ainda não há uma lista pública completa mostrando quais deles têm certificações específicas no material liberado até aqui. A Anbima sinalizou que essa informação será mostrada nos rankings futuros, permitindo distinguir influenciadores com formação técnica daqueles sem certificação. 

Conclusão: o futuro da educação financeira no Brasil tem like, comentário e monetização

O Finfluence mostra que a influência financeira não é modinha. É um setor em expansão, cada vez mais profissional, mais diverso e mais relevante. E, gostemos ou não, ele já faz parte da forma como o brasileiro aprende a lidar com dinheiro.

O desafio agora é separar informação boa de opinião barulhenta. Mas com a certificação entrando no jogo e mais transparência, o público ganha ferramentas melhores. E a educação financeira agradece.

Enquanto isso, seguimos assistindo vídeos às 2h da manhã sobre “como montar uma carteira diversificada”. Porque ninguém é de ferro.


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