Nunca imaginei sair de lá (Bento Rodrigues). Todo mundo é uma família. Todo mundo conhece a gente. São pessoas boas, ótimas, não tinha negócio de bandido, de polícia correndo atrás de ninguém. Um lugar muito bom. Queria terminar lá. Na hora que a barragem rompeu eu tinha feito um pudim de leite condensado para minha neta, a Jamili, de 9 anos.
Eu disse: “Leva, minha filha, mas não come quente, não, que faz mal”. Daí a pouco quando abri o portão ouvi um barulho insuportável. Quando cheguei na esquina tem uma casa, da minha vizinha chamada Eva. Gritei e perguntei o que é isso. O esposo dela, o Ademir, falou assim: “Ô Dona Maria, foi a represa que estourou.”
Eu não sinto raiva porque eu não sou de ter mágoa com nada. O que eu tenho é sentimento. Foi muito triste. Um sentimento muito profundo. Eu morava lá, tinha de tudo e hoje eu não tenho lar. Estou dependendo da minha filha e do meu genro. Aqui (em Catas Altas, onde está na casa da filha) é muito difícil de ir em Mariana para resolver as coisas.
Já tô de idade e não aguento muito coisa. Eu sou mais acostumada a mexer com a criação, com minhas galinhas, andar pela chácara afora. Isso que eu estou acostumada. Para eu ir para lá e resolver essas coisas é muito ruim. Já vai para um mês eu estou aqui e as coisas todas amontoadas.
Eu choro. Choro bastante. Choro porque não tenho explicação porque isso aconteceu. Não chegou nenhum da Samarco para falar assim: vocês estão correndo perigo. Meu sonho? É ter minha casa. Quero viver na minha casa como era.