Domingo no Bento era maravilhoso. Juntava todo mundo naquela praça que tinha lá. A gente cantava, jogava truco, dançava, fazia festa junina. Eram tardes muito boas. Fruta tinha demais: jabuticaba, laranja, mexerica ponkan, goiaba, manga. Era um paraíso. Bento é um povoado pequeno, simples e de pessoal muito humilde. A chegada é de ruim acesso, porque é muito montanhoso, mas embaixo era plano. Ruas muito bonitas, calçadinhas. Lugares com asfalto e outros com bloquetes.
No dia cinco de novembro, levantei de manhã para tratar das galinhas, jogar o milho, trocar de água. Depois que eu fiz tudo isso, Irene falou: “Vamos em Mariana.” Fomos a Mariana. Chegamos era duas horas mais ou menos. Depois, voltamos para Bento. Guardei o carro e fui pra dentro de casa. Nisso que eu entrei em casa, ouvi um barulho diferente e falei com ela: “Tem um barulho esquisito.” Vi o menino da praça gritando: “Ô Zezinho, corre que a barragem tá chegando, mas corre, corre mesmo.” Nisso, tinha andado 20 metros, olhei pra trás e o muro do meu vizinho tava caindo com a lama.
Deus ajudou muito que veio de dia. Se fosse de noite, a tragédia seria enorme. Perdemos quatro pessoas, mas poderíamos ter perdido muito mais. Vai ficar na memória o que a gente tinha. A nossa reivindicação é outro Bento com as mesmas características.