Jornal Estado de Minas

Vai ficar na memória o que a gente tinha

Minha esposa faz aniversário em 1º de novembro, e eu no dia 3. Parece que a gente tava adivinhando que ia acontecer. O menino falou: “Vem pra cá para comemorar seu aniversário”. “Nós não vamos, não, porque a gente mexe com igreja. Tem umas coisas para acontecer aqui e a gente não pode sair. Deixa passar o aniversário, nós vamos comemorar lá, em São João del-Rei, alguma coisa”. Passou o aniversário e no dia 5 tivemos o presente, antes de chegar o próximo domingo.

Domingo no Bento era maravilhoso. Juntava todo mundo naquela praça que tinha lá.

A gente cantava, jogava truco, dançava, fazia festa junina. Eram tardes muito boas. Fruta tinha demais: jabuticaba, laranja, mexerica ponkan, goiaba, manga. Era um paraíso. Bento é um povoado pequeno, simples e de pessoal muito humilde. A chegada é de ruim acesso, porque é muito montanhoso, mas embaixo era plano. Ruas muito bonitas, calçadinhas.
Lugares com asfalto e outros com bloquetes.

No dia cinco de novembro, levantei de manhã para tratar das galinhas, jogar o milho, trocar de água. Depois que eu fiz tudo isso, Irene falou: “Vamos em Mariana.” Fomos a Mariana. Chegamos era duas horas mais ou menos. Depois, voltamos para Bento. Guardei o carro e fui pra dentro de casa. Nisso que eu entrei em casa, ouvi um barulho diferente e falei com ela: “Tem um barulho esquisito.” Vi o menino da praça gritando: “Ô Zezinho, corre que a barragem tá chegando, mas corre, corre mesmo.” Nisso, tinha andado 20 metros, olhei pra trás e o muro do meu vizinho tava caindo com a lama.

Deus ajudou muito que veio de dia. Se fosse de noite, a tragédia seria enorme. Perdemos quatro pessoas, mas poderíamos ter perdido muito mais.
Vai ficar na memória o que a gente tinha. A nossa reivindicação é outro Bento com as mesmas características..