No dia da tragédia, não estava fazendo nada. Estava na praça. Isso aqui, em frente à igreja, era uma praça. A Praça Santo Antônio. Não tinha nenhum banco, mas era bacana. O pessoal vinha aqui bater uma bola. Meu último trabalho foi há duas semanas, de ajudante de pedreiro em uma construção em Pedras (distrito de Mariana).
A dona daquela casa, a Elizete, puxou na internet e viu o que tinha acontecido, mas ninguém estava acreditando. Em seguida o helicóptero chegou aqui, desceu no campo e avisou.
Ninguém imaginava que poderia acontecer isso. A maioria pensava que a lama ia subir sim, uns dois, três metros, mas não atingir igual atingiu. O que eu sinto é decepção. Decepção.
Se eles forem reconstruir a nova Paracatu lá para cima a maioria vai querer voltar. Eu, no caso, quero voltar. Se fizerem a casa de cada um do jeito que era já tá bom.
Eu queria esquecer tudo. Passar uma borracha em cima de tudo. Quando eu vou dormir lembro todo dia. Só pela zoeira do dia cinco, essa zoeirada que teve, todo mundo pensa até hoje. Tem muita gente que fica chorando, pensando, na zoeirada. Ninguém via nada porque estava escuro, só escutava o barulho..